Projeções indicam níveis adequados de armazenamento até agosto, mesmo diante de um cenário hidrológico menos favorável
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apresentou, na reunião ordinária do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) realizada em 12 de março, as projeções para o atendimento energético do Brasil até agosto de 2025. Apesar da previsão de chuvas abaixo da média nos próximos meses, o órgão garante que a segurança do fornecimento de energia está assegurada, respaldada por níveis satisfatórios de armazenamento nos reservatórios do Sistema Interligado Nacional (SIN).
A política operativa do ONS tem sido voltada para a preservação dos recursos hídricos, especialmente após um início de período úmido com afluências dentro do esperado. O nível de armazenamento dos reservatórios em fevereiro de 2025 atingiu 71%, um crescimento de 5 pontos percentuais (p.p.) em relação ao mesmo período do ano anterior, que registrou 66%.
Segundo o diretor-geral do ONS, Marcio Rea, as afluências começaram o período úmido dentro da normalidade, mas sofreram redução em fevereiro. “Fevereiro foi um mês de transição. Os volumes de afluência, que estavam adequados em dezembro de 2024 e janeiro de 2025, caíram e ficaram abaixo da média em quase todo o país. Paralelamente, as temperaturas elevadas impulsionaram a demanda por energia, levando o SIN a registrar sucessivos recordes de carga. Apesar disso, os dados indicam que seguimos com condições adequadas de armazenamento, ainda que as chuvas permaneçam abaixo da média”, afirmou.
Projeções para os próximos meses
As previsões do ONS consideram dois cenários distintos de afluências: inferior e superior. No cenário inferior, a Energia Natural Afluente (ENA) do SIN entre março e agosto de 2025 ficaria em 66% da Média de Longo Termo (MLT), o que, se confirmado, representaria a menor marca da série histórica de 95 anos. Já no cenário superior, a ENA atingiria 88% da MLT, a 23ª menor marca no mesmo período.
Os níveis de Energia Armazenada (EAR) do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, principal reservatório do país, devem superar os registrados em agosto de 2024. No cenário mais favorável, a EAR chegaria a 73,3%, enquanto no cenário inferior ainda ficaria 6,2 p.p. acima do verificado no ano passado. No SIN, as projeções seguem o mesmo padrão, com a EAR podendo atingir 73,7% no cenário superior e 61,2% no cenário inferior.
A tabela abaixo apresenta os principais indicadores do estudo prospectivo do ONS:
Cenário | ENA do SIN (Mar/25 a Ago/25) | EAR do SE/CO (31/03/2025) | EAR SE/CO (31/08/2025) | EAR SIN (31/08/2025) |
---|---|---|---|---|
Inferior | 66% MLT (1) | 71,3% | 61,9% | 61,2% |
Superior | 88% MLT (2) | 75,1% | 73,3% | 73,7% |
(1) Se confirmada, seria a menor do histórico de 95 anos
(2) Se confirmada, seria a 23ª menor do histórico de 95 anos
Mesmo no cenário menos favorável, os dados apontam para uma capacidade de atendimento energético suficiente para abastecer o país, afastando riscos imediatos de racionamento.
Curtailment e novas medidas para segurança do fornecimento
Outro tema abordado no CMSE foi o curtailment, termo que se refere a restrições na geração de energia renovável. Essas limitações podem ocorrer por razões elétricas, necessidade de confiabilidade do sistema ou até mesmo pelo excesso de geração em determinados momentos.
O comitê reconheceu ainda o caráter estratégico de três compensadores síncronos que serão instalados em subestações no Rio Grande do Norte. Esses equipamentos desempenham um papel fundamental na estabilização da rede elétrica, garantindo um fornecimento mais confiável de energia. A medida foi indicada pelo ONS e pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e já consta no Plano de Outorgas de Transmissão de Energia Elétrica (POTEE) de 2024. A previsão é que a licitação ocorra no segundo semestre de 2025, com um processo de implantação acelerado.
Cenário desafiador, mas controlado
Os desafios impostos pela menor incidência de chuvas, somados às demandas crescentes de carga devido a temperaturas mais altas, reforçam a necessidade de gestão eficiente dos recursos hídricos e investimentos contínuos na infraestrutura elétrica do país.
O cenário para 2025 ainda exige atenção, principalmente diante da possibilidade de um regime hidrológico menos favorável. No entanto, a atuação do ONS e as projeções atuais indicam um sistema elétrico resiliente e preparado para garantir o abastecimento da sociedade nos próximos meses.