Estudo da Liga Ventures revela que o ecossistema de energytechs no país atinge 270 empresas ativas, com foco crescente em sustentabilidade, geração compartilhada, mobilidade elétrica e eficiência energética
O setor de energia brasileiro vive uma transformação silenciosa, porém robusta, impulsionada pela inovação tecnológica e pela transição para uma matriz mais limpa e digital. De acordo com o mais recente estudo da Liga Ventures, as chamadas energytechs, startups que atuam na cadeia de valor do setor elétrico, captaram R$ 841 milhões em investimentos apenas em 2024, consolidando-se como agentes fundamentais da modernização do setor.
O levantamento identificou 270 startups de energia ativas no Brasil, que desenvolvem soluções em diversas frentes, desde sustentabilidade, geração distribuída e e-mobilidade, até análise de dados, inteligência artificial e comercialização de energia no mercado livre. O ecossistema vem crescendo consistentemente, com 16,2% dessas startups fundadas entre 2021 e abril de 2025, refletindo o dinamismo e a atratividade do mercado energético nacional.
Ecossistema diversificado e focado na sustentabilidade
A pesquisa mapeou as startups em 11 categorias, sendo as principais:
- Eficiência energética (19%)
- Sustentabilidade (14%)
- Geração compartilhada (14%)
- Data Analytics (11%)
- Comercialização e financiamento de energia (10%)
- E-mobilidade (9%)
Este cenário reforça a tendência global de descarbonização, descentralização e digitalização do setor energético, princípios que sustentam a transição energética no Brasil e no mundo.
Além disso, 31 startups já utilizam inteligência artificial para otimizar suas soluções, aplicando tecnologias em áreas como:
- Detecção de perdas não técnicas
- Análise do consumo de energia (desagregação)
- Gestão de recursos distribuídos
- Recarga inteligente de veículos elétricos
- Atendimento automatizado e preditivo ao consumidor
- Manutenção preditiva e detecção de falhas operacionais
Distribuição geográfica e maturidade das startups
O estudo revela que o estado de São Paulo concentra a maior parte das energytechs no país, reunindo 36% das startups do setor. Em seguida, destacam-se Santa Catarina (13%), Rio de Janeiro (11%), Minas Gerais (10%), Paraná (9%) e Rio Grande do Sul (7%). Esses dados evidenciam a força dos polos de inovação localizados fora do eixo tradicional.
Em relação ao grau de maturidade dos negócios, 37% das startups são classificadas como emergentes, estando em fase de crescimento acelerado; 28% já se encontram estabilizadas, com modelos de negócio consolidados; 20% são consideradas nascentes, ainda em estágio inicial de desenvolvimento; e 15% se enquadram na categoria de disruptoras, com propostas altamente inovadoras e potencial transformador para o setor.
“O estudo evidencia que existe um movimento claro de startups buscando impactar positivamente o meio ambiente, principalmente nas categorias de sustentabilidade, geração compartilhada e mobilidade elétrica. Apesar disso, percebemos que o volume de investimento recente ainda não acompanha esse crescimento, o que sinaliza uma grande oportunidade para investidores e grandes empresas acelerarem essa transformação sustentável no mercado brasileiro de energia”, destaca Daniel Grossi, cofundador da Liga Ventures.
Tecnologias e tendências que moldam o futuro da energia
As tecnologias mais adotadas pelas startups do setor refletem a busca por inovação e eficiência na transição energética. Entre elas, destacam-se as fontes renováveis, presentes em 31% das empresas analisadas, seguidas por soluções baseadas em Internet das Coisas (IoT), com 18%, e ferramentas de Data Analytics, com 16%. A Inteligência Artificial (IA) aparece em 12% dos casos, enquanto 9% das startups desenvolvem soluções voltadas ao Mercado Livre de Energia.
O dado reforça que a transformação energética no Brasil vai além da expansão das renováveis. Ela exige uma combinação de digitalização, automação, inteligência de dados e modelos de negócios inovadores, como comercialização no mercado livre e geração compartilhada.
Além disso, o modelo de negócio predominante é o B2B (60%), ou seja, soluções focadas em atender empresas, indústrias, geradoras, distribuidoras e grandes consumidores, o que reflete a maturidade do mercado corporativo no entendimento da importância da gestão energética eficiente e sustentável.
Desafios e oportunidades para o mercado de energytechs no Brasil
O crescimento das startups de energia no Brasil ocorre em meio a desafios estruturais como regulação, acesso a financiamento, desenvolvimento de infraestrutura e formação de mão de obra qualificada. Ainda assim, o país oferece condições únicas, como uma matriz elétrica majoritariamente renovável, alta incidência solar e potencial de expansão do mercado livre de energia.
O relatório também aponta que políticas públicas robustas, novos modelos de financiamento verde e a consolidação de hubs de inovação serão fundamentais para sustentar esse crescimento e acelerar a transição energética brasileira.
A expectativa é que, com a expansão da mobilidade elétrica, do armazenamento de energia e da geração distribuída, a atuação dessas startups se torne ainda mais relevante nos próximos anos.