Sexta-feira, Junho 6, 2025
26.8 C
Rio de Janeiro

COP 30 coloca Brasil no centro das decisões climáticas, mas protagonismo depende de ação política e investimentos sustentáveis

Fernando Beltrame, CEO da Eccaplan, aponta que país tem oportunidade histórica para liderar transição global, mas alerta: discurso precisa se transformar em prática efetiva

Com a aproximação da COP 30, que será realizada em Belém (PA), o Brasil se encontra diante de uma oportunidade histórica para redefinir seu papel no cenário climático global. Detentor da maior biodiversidade do planeta, uma matriz energética relativamente limpa e um potencial reconhecido para a bioeconomia, o país pode assumir uma posição de liderança nas negociações ambientais internacionais. Mas, segundo Fernando Beltrame, CEO da Eccaplan e especialista em estratégias Net Zero, essa liderança só se concretizará com ações políticas estruturadas, investimentos em soluções sustentáveis e compromissos concretos.

“Receber a COP 30 é uma vantagem estratégica inquestionável, mas também traz à tona os desafios internos do Brasil. Temos biomas que capturam carbono, uma indústria de créditos de carbono em expansão e um histórico de energias renováveis. Porém, persistimos com altos índices de desmatamento, emissões crescentes e uma política pública que ainda não prioriza, com a urgência necessária, as ações sustentáveis”, afirma Beltrame.

Emissões preocupantes e o abismo entre discurso e prática

De acordo com dados do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa), em 2022 o Brasil emitiu cerca de 2,3 bilhões de toneladas de CO₂, sendo que 48% dessas emissões tiveram origem no desmatamento. O quadro revela a dicotomia entre o potencial de liderança ambiental e a realidade de práticas insustentáveis.

Beltrame defende que o país deve aproveitar a COP 30 para assumir compromissos audaciosos e viáveis, com foco em inovação, bioeconomia e inclusão social. “É hora de liderar não apenas pelo que somos, mas pelo que podemos construir: soluções replicáveis para o mundo, baseadas em nossas realidades e ativos ambientais”, enfatiza.

Ele destaca a necessidade de investimentos consistentes em economia circular, ampliação das metas de neutralização de carbono com critérios técnicos claros e, finalmente, a implementação integral da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que há mais de uma década aguarda efetividade plena.

O Brasil e o mercado global de compensação climática

Outro ponto central destacado pelo CEO da Eccaplan é o potencial do Brasil no mercado de compensação climática. Atualmente, o mercado voluntário de carbono movimenta mais de US$ 2 bilhões por ano globalmente, conforme dados do portal carboncredits.com. Para Beltrame, o Brasil pode e deve liderar esse setor, com projetos de alta integridade, alinhados à conservação de florestas e à geração de renda para comunidades locais.

“Na COP 30, teremos a chance de apresentar ao mundo um modelo de compensação climática justo, eficiente e com credibilidade”, aponta o especialista. O Brasil já possui iniciativas bem-sucedidas nesse campo, mas ainda carece de estrutura regulatória robusta e mecanismos de governança transparentes para consolidar sua posição de liderança.

O papel do setor privado e a corresponsabilidade climática

Além dos compromissos governamentais, Beltrame chama atenção para o papel fundamental do setor privado. “A agenda Net Zero não se faz só com discursos bonitos em eventos internacionais. É preciso mensurar, reduzir, compensar e comunicar com responsabilidade. Isso vale para governos, empresas e também para a sociedade civil”, reforça.

Segundo ele, a COP 30 deve marcar o início de um novo capítulo de corresponsabilidade ambiental no Brasil, com ações concretas, metas mensuráveis e participação ampla de diversos setores.

Expectativas para a COP 30: o maior evento climático do Brasil

A COP 30 será o maior evento climático já sediado pelo Brasil, com a expectativa de reunir líderes de mais de 190 países, representantes do setor empresarial, organizações sociais e ambientalistas de todo o mundo. O foco estará na implementação efetiva do Acordo de Paris, além do avanço em estratégias de adaptação e financiamento climático.

Beltrame avalia que a conferência pode ser o início de um novo ciclo, mas adverte: “Temos tudo para liderar. Falta, agora, vontade política e compromisso com a entrega”.

Desafios e oportunidade histórica

O Brasil se encontra, portanto, em um momento de encruzilhada. Pode optar por manter a atual trajetória de potencial subaproveitado, ou assumir definitivamente um papel de liderança ambiental, apresentando ao mundo soluções inovadoras e estratégias de mitigação e adaptação que combinem desenvolvimento econômico e preservação ambiental.

A realização da COP 30 em território nacional é a oportunidade de transformar o discurso climático em políticas públicas robustas, que coloquem o Brasil não apenas no centro das negociações, mas também no comando das soluções globais para a crise climática.

Destaques

Últimas Notícias

Brasil e França ampliam parceria estratégica para acelerar transição energética e...

Durante missão oficial a Paris, ministro Alexandre Silveira reforça...

TBG anuncia redução de até 20% nas tarifas do Gasbol para...

Com nova estrutura tarifária, contratos do Gasoduto Bolívia-Brasil buscam...

Brasil sedia encontro estratégico para integração energética da América Latina e...

Fórum promovido pela EPE, Olade e Cepal reúne representantes...

Aggreko inaugura usina híbrida no Amazonas e transforma acesso à energia...

Projeto-piloto em Caiambé inaugura novo padrão de geração híbrida...

COP30 no Brasil será símbolo global da luta climática com foco...

CEO da conferência destaca que mudança climática amplia desigualdades...

Com recursos estratégicos e capacidade industrial, Brasil pode liderar a cadeia...

MME apresenta estratégias para agregar valor à produção nacional...

Artigos Relacionados

Categorias Populares