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Petrobrás avalia energia nuclear como solução para descarbonizar plataformas offshore no pré-sal

Gigante do petróleo estuda uso de pequenos reatores modulares (SMRs) para reduzir emissões de CO₂ e enfrentar os desafios energéticos das operações em alto-mar

Em busca de acelerar sua jornada rumo à transição energética, a Petrobrás estuda uma solução até pouco tempo considerada distante para o setor de óleo e gás: o uso de energia nuclear em plataformas offshore. A proposta, que envolve a adoção de pequenos reatores modulares (SMRs), foi apresentada durante a feira NT2E 2025 — Nuclear Technology for Energy, no Rio de Janeiro, onde especialistas da indústria nuclear e de petróleo discutiram as alternativas tecnológicas para reduzir as emissões de carbono na exploração offshore.

O movimento representa um avanço estratégico e inédito no Brasil, que poderá posicionar a companhia na vanguarda da descarbonização da indústria petrolífera. Segundo Edgar Poiate, engenheiro sênior do Centro de Pesquisas da Petrobrás (CENPES), a energia nuclear surge como uma das principais candidatas para substituir o modelo atual de geração energética nos FPSOs (Floating Production Storage and Offloading), que operam, principalmente, no pré-sal brasileiro.

Nuclear como pilar da transição energética offshore

Hoje, os FPSOs são movidos predominantemente a gás natural, que alimenta turbinas responsáveis por até 70% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) dessas unidades. Embora as tecnologias atuais permitam reduzir até 55% das emissões, Poiate destaca que alcançar o net zero exigirá a adoção de soluções mais robustas e disruptivas, como é o caso da energia nuclear.

“A energia nuclear entra no nosso radar como uma das possibilidades mais promissoras para alcançar o net zero. Já mapeamos e ranqueamos tecnologias, e a nuclear tem potencial significativo para viabilizar esse caminho”, declarou o engenheiro.

Desafios operacionais e técnicos no pré-sal

Operar um FPSO na camada do pré-sal impõe desafios técnicos consideráveis. Localizadas a cerca de 250 quilômetros da costa e em lâminas d’água que chegam a 3.000 metros, essas unidades exigem cerca de 150 megawatts elétricos e entre 40 e 80 megawatts térmicos para suas operações.

Além da potência necessária, há limitações físicas nos topsides, a parte superior das plataformas, que já abrigam equipamentos críticos como separadores, compressores, trocadores de calor e bombas. O espaço é restrito e qualquer acréscimo de peso ou volume impacta diretamente na viabilidade operacional e no custo das unidades.

Do fundo do mar ao power hub: os modelos em estudo

Para superar essas limitações, a Petrobrás estuda dois cenários principais de aplicação dos SMRs:

  1. SMR embarcado no próprio FPSO: O reator seria instalado no topside, integrado diretamente aos sistemas da plataforma, fornecendo energia elétrica e térmica localmente.
  2. Power hub offshore: Uma embarcação dedicada exclusivamente ao SMR funcionaria como uma central geradora flutuante, capaz de atender até três FPSOs simultaneamente.

Este segundo modelo, embora interessante, traz desafios técnicos ainda maiores. Além de exigir um SMR com design extremamente compacto e leve, seria necessário desenvolver uma infraestrutura elétrica submarina robusta, capaz de resistir às correntes, ondas e ventos em alto-mar.

Outro ponto crítico é a logística de manutenção nuclear. Diferente de instalações terrestres, os FPSOs permanecem fixos no mar por toda sua vida útil, o que inviabiliza qualquer deslocamento para troca de combustível nuclear. Esse processo, portanto, precisaria ocorrer no próprio local de operação, exigindo tecnologia e protocolos específicos de segurança.

Microreatores submarinos: a fronteira da inovação

Além dos SMRs instalados em plataformas ou navios, a Petrobrás também estuda uma solução ainda mais ousada: o uso de microreatores submarinos. Esses pequenos reatores seriam instalados diretamente no leito marinho, fornecendo energia para sistemas subsea, como bombas injetoras de água ou CO₂, compressores para reinjeção de gás e separadores submarinos.

Segundo Poiate, essa abordagem poderia não apenas reduzir o consumo energético das plataformas, mas também eliminar a necessidade de determinados sistemas topside, tornando os FPSOs menores, mais leves, eficientes e econômicos.

Disputa tecnológica pela descarbonização offshore

Apesar do alto potencial da energia nuclear, a Petrobrás também analisa outras rotas tecnológicas para a descarbonização de suas operações offshore. Entre elas estão:

  • Geração elétrica offshore renovável (eólica ou oceânica)
  • Transmissão elétrica via cabos submarinos da costa até os FPSOs
  • Tecnologias de captura, uso e armazenamento de carbono (CCUS)
  • Oxicombustão
  • Aproveitamento de correntes oceânicas e energia térmica dos oceanos
  • Ciclos combinados e sistemas híbridos

Essas alternativas competem diretamente com a energia nuclear, e a decisão final dependerá de análises rigorosas de viabilidade técnica, econômica e regulatória.

“Para que uma tecnologia entre no nosso pipeline de desenvolvimento, ela precisa ter no mínimo o nível TRL 8, ou seja, estar em estágio comercial, com segurança e desempenho comprovados. Só assim podemos incorporá-la nas futuras gerações de FPSOs”, afirmou Poiate.

Futuro da energia offshore passa pela inovação

O debate sobre o uso de energia nuclear no setor offshore reflete uma mudança de paradigma no setor de óleo e gás. A necessidade de reduzir emissões, aliada à crescente pressão por sustentabilidade e eficiência, está acelerando a busca por soluções inovadoras.

Se implementado, o uso de energia nuclear offshore pode representar uma revolução não apenas para a Petrobrás, mas para toda a indústria global, consolidando o Brasil como líder em tecnologias de baixo carbono aplicadas ao setor de exploração e produção de petróleo.

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