Tecnologia desenvolvida pela COPPE-UFRJ permitiu calcular com precisão a vida útil de equipamentos estratégicos, contribuindo para a renovação da licença operacional da usina
A inteligência artificial (IA) está desempenhando um papel crucial na modernização e longevidade da energia nuclear no Brasil. Um software inovador, desenvolvido pelo Laboratório de Monitoração de Processos (LMP) da COPPE-UFRJ, permitiu calcular com precisão a vida útil de equipamentos estratégicos da usina Angra 1, um fator determinante para a renovação da licença de operação por mais 20 anos.
Chamado de Sistema de Vida Qualificada (SVQ), o software foi projetado para estimar o histórico de temperatura dos equipamentos elétricos e de instrumentação e controle da usina – componentes essenciais para a segurança operacional. Como a exposição ao calor é um dos principais fatores de degradação desses sistemas, a tecnologia permitiu prever com alta precisão o desgaste dos materiais e garantir que a usina continue operando de forma segura e eficiente até 2044.
Como a inteligência artificial auxilia na operação de Angra 1
A solução desenvolvida pela COPPE-UFRJ utiliza redes neurais profundas, um modelo de aprendizado de máquina inspirado no funcionamento do cérebro humano. O software foi treinado com dados obtidos de sensores de temperatura instalados a partir de 2015 na usina, além do histórico de temperatura ambiente registrado pelo Sistema Integrado de Computadores de Angra (SICA) – também criado pelo LMP.
Com essa base de dados, o sistema foi capaz de reconstruir e estimar padrões de temperatura de equipamentos qualificados desde o início da operação da usina, mesmo em períodos nos quais sensores ainda não estavam instalados. O resultado foi um modelo altamente preciso, com margem de erro de apenas 2°C em 89% dos casos analisados.
Essa inovação revoluciona o monitoramento e manutenção dos equipamentos da usina, permitindo uma gestão mais eficiente dos ativos e aumentando a previsibilidade de eventuais necessidades de substituição ou manutenção.
Tecnologia nuclear e inovação: um salto para o futuro
A implementação da IA em Angra 1 não apenas melhora a eficiência operacional da usina, mas também demonstra a capacidade do setor nuclear brasileiro de incorporar tecnologias inovadoras e aumentar a segurança e confiabilidade de suas operações.
O Brasil, que opera comercialmente Angra 1 há 40 anos, vem acumulando experiência e conhecimento na indústria nuclear, e a aplicação de soluções como o SVQ reforça a expertise dos profissionais e pesquisadores do setor.
A renovação da licença operacional da usina, concedida pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), é um marco significativo para a segurança energética do país. Com uma potência instalada de 640 megawatts, Angra 1 é capaz de abastecer uma cidade de dois milhões de habitantes e segue operando com eficiência elevada – em 2023, a usina gerou 4,78 milhões de MWh, com um fator de carga de 88,24%, o equivalente a 322 dias de operação na capacidade máxima ao longo do ano.
A aplicação da inteligência artificial no setor nuclear abre caminho para novas possibilidades, garantindo maior previsibilidade, segurança e eficiência na geração de energia. O sucesso da tecnologia empregada em Angra 1 pode, no futuro, servir de referência para outras usinas no Brasil e no mundo, impulsionando ainda mais o uso de inovação e ciência na matriz energética nacional.