Resiliência energética em tempos de crise climática: especialistas defendem incentivos para enfrentar eventos extremos

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Debate internacional reúne representantes do Brasil, Reino Unido e EUA para discutir soluções regulatórias e projetos que ampliem a segurança do setor elétrico diante de desastres climáticos

O aumento da frequência e intensidade de eventos climáticos extremos no Brasil vem colocando em evidência a necessidade de modernizar e adaptar as redes de distribuição de energia elétrica. Durante um seminário realizado em Brasília, especialistas do Brasil, Reino Unido e Estados Unidos discutiram estratégias para mitigar os impactos desses eventos no setor elétrico e destacaram que as soluções passam, necessariamente, pela regulação com base em incentivos.

Grant McEachran, diretor de Assuntos Regulatórios da S&C Electric Company, do Reino Unido, enfatizou a necessidade de uma abordagem regulatória que permita o financiamento de projetos voltados à resiliência e à recomposição das redes após desastres. “Eventos grandes não podem ser previstos, então é importante que as empresas tenham um financiamento adicional quando é preciso responder. Deve haver uma combinação de investimentos prévios em resiliência e mecanismos para apoiar os esforços extras das concessionárias depois dos eventos”, afirmou.

Segundo McEachran, países como o Reino Unido e a Austrália já implementaram medidas regulatórias para mitigar os impactos de desastres climáticos no setor elétrico. Essas medidas incluem planejamento colaborativo, fundos para financiamento de resiliência e reforço na comunicação com a população antes, durante e após os eventos.

Lições aprendidas nos Estados Unidos

Michael Spoor, consultor e ex-vice-presidente da Florida Power (EUA), compartilhou experiências de sua atuação em desastres como os furacões Katrina, Wilma e Ian. Ele destacou que cada evento extremo tem características próprias e afeta as redes elétricas de formas diferentes, o que torna inadequado adotar regulamentos uniformes para situações de diferentes magnitudes.

Nos Estados Unidos, experiências como o sistema de cooperação entre empresas distribuidoras têm sido bem-sucedidas na redução do tempo de resposta após desastres. Spoor apresentou o caso da Florida Power, que conseguiu diminuir o tempo de recomposição do sistema de 18 dias no furacão Wilma (2005) para apenas oito dias no furacão Ian (2022), graças a mais de uma década de investimentos em resiliência e cooperação entre empresas.

No Brasil, os especialistas ressaltaram a importância de adotar uma abordagem semelhante. Nivalde de Castro, professor do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel/UFRJ), apontou que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já considera, em suas revisões tarifárias periódicas, a necessidade de investimentos em planos de resiliência climática. Castro citou ainda o modelo italiano como uma referência no reconhecimento de custos relacionados à adaptação das redes elétricas às mudanças climáticas.

Incentivos como base regulatória

Um dos pontos centrais do debate foi a defesa de uma regulação baseada em incentivos, em vez de punições. Walmir Freitas, professor da Unicamp, explicou que os incentivos são mais eficazes para estimular as concessionárias a melhorar o tempo de resposta e recomposição das redes após eventos extremos.

Segundo ele, penalizações podem trazer resultados limitados e não resolvem o problema estrutural. “As empresas precisam ser encorajadas a investir antes que os eventos aconteçam, mas também devem ter respaldo financeiro para agir rapidamente em casos de emergência”, destacou.

Concessionárias e o planejamento urbano

Outro tema debatido foi o papel das concessionárias de energia elétrica no planejamento urbano e na arborização das cidades. Sérgio Brazolin, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), destacou a importância de integrar as distribuidoras ao Plano Diretor de Arborização Urbana para evitar que a vegetação interfira nas redes elétricas durante tempestades.

Rose Hofmann, consultora legislativa da Câmara dos Deputados, reforçou que as árvores devem ser tratadas como parte de uma infraestrutura verde, que exige planejamento e manutenção, assim como ocorre com as infraestruturas convencionais, como estradas e pontes. Pedro Regoto de Souza, do Climatempo, completou destacando a necessidade de ampliar a cobertura de radares meteorológicos e estações de monitoramento para melhorar a previsão e resposta a eventos climáticos extremos.

Atuação da Abradee no contexto climático

O seminário marcou mais um passo nas iniciativas da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) para estudar e mitigar os efeitos de eventos climáticos extremos no setor. Segundo Marcos Madureira, presidente da Abradee, a entidade tem priorizado o tema nos últimos dois anos, com missões internacionais nos Estados Unidos e no Reino Unido para troca de experiências sobre desastres climáticos e a resiliência do setor elétrico.

“A troca de informações com países que enfrentam eventos extremos com maior frequência nos ajuda a construir soluções mais eficientes e sustentáveis para o Brasil”, afirmou Madureira. Ele reforçou que o debate sobre mudanças climáticas e resiliência energética será cada vez mais relevante para garantir a segurança do setor elétrico e proteger os consumidores.

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