Estudo Revela que Brasil Pode Diminuir 80% das Emissões de CO2 no Setor Energético até 2050

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Estudo do Observatório do Clima apresenta cenários para uma transição energética justa, com foco em reduzir emissões sem comprometer o desenvolvimento do país

O Brasil tem o potencial de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa no setor energético em 80% até 2050, mesmo com o crescimento econômico. Esse é o cenário otimista revelado por um estudo inédito do Observatório do Clima (OC), lançado nesta terça-feira, 22 de outubro. O relatório, intitulado “Futuro da Energia: visão do Observatório do Clima para uma transição justa no Brasil“, aponta um caminho claro para o país adotar uma transição energética sustentável, sem recorrer a soluções tecnológicas arriscadas, como a captura e armazenamento de carbono (CCS), nem ampliar a produção de combustíveis fósseis.

Segundo o estudo, o setor energético brasileiro poderá alcançar a marca de 102 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e) em 2050. Esse valor representa uma queda drástica em comparação às 490,6 milhões de toneladas emitidas em 2022, conforme dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), também gerido pelo OC. No entanto, o caminho para essa redução passa por decisões estratégicas e mudanças estruturais, que exigem planejamento e compromisso de todos os setores da sociedade.

Cenário Atual e Perspectivas Futuras

O estudo analisa diversos cenários para o futuro energético do Brasil. Em um cenário tendencial, no qual o país continua com as práticas atuais, incluindo medidas positivas relacionadas à produção de biocombustíveis e ao aumento de fontes renováveis, o Brasil poderia atingir 558 milhões de toneladas de CO2e no setor de energia em 2050 – superando o pico de emissões registrado na última década. Esse cenário seria um retrocesso frente aos compromissos internacionais e aos esforços para mitigar os impactos da crise climática.

De acordo com Suely Araújo, coordenadora de políticas públicas do OC, a proposta apresentada pelo estudo está diretamente ligada à necessidade de uma descarbonização rápida e justa. “O relatório mostra que é possível reduzir o uso de combustíveis fósseis mesmo em um cenário de crescimento econômico. As análises demonstram que podemos alterar rotas equivocadas e contribuir para que o Brasil se torne um país carbono negativo até 2045”, afirmou Araújo.

A Transição Energética e as Oportunidades

A transição energética proposta pelo OC prevê uma série de diretrizes para o setor, incluindo o transporte de carga e de passageiros, a produção de biocombustíveis, a eletrificação da indústria e o aumento de fontes renováveis, como a energia solar e eólica. Também é dada ênfase à produção de hidrogênio verde e à necessidade de fechamento de termelétricas a carvão, que ainda são uma fonte considerável de emissões.

No setor de transporte de cargas, que é responsável por uma parte significativa das emissões, o OC sugere que a eletrificação dos caminhões pesados e semipesados seja acelerada, embora reconheça que isso será um desafio devido ao alto custo de baterias e componentes. A redução das emissões no transporte de cargas deve ser relativamente lenta até 2040, mas a partir dessa data, com a entrada de combustíveis como o diesel verde, espera-se uma queda mais acentuada nas emissões, que devem passar dos 115 milhões de toneladas de CO2e registradas em 2022 para 38 milhões de toneladas em 2050.

Por outro lado, o transporte de passageiros apresenta uma oportunidade para uma redução mais rápida. O estudo vai além da simples substituição da gasolina por etanol e sugere a eletrificação da frota e uma reorganização urbana, com cidades mais compactas, menores deslocamentos e um aumento significativo do transporte coletivo e da infraestrutura cicloviária. Esse modelo, segundo o OC, poderia reduzir as emissões do transporte de passageiros de 102 milhões de toneladas em 2022 para 16 milhões de toneladas em 2050.

Estratégia Brasil 2045

A visão do OC está integrada à Estratégia Brasil 2045, uma proposta de longo prazo que visa transformar o país na primeira grande economia do mundo a ser carbono negativo até meados da década de 2040. Isso significa que o Brasil, em vez de emitir gases de efeito estufa, sequestraria mais CO2 do que libera na atmosfera, uma meta ambiciosa e inovadora no cenário internacional.

Além da eletrificação e do uso de fontes renováveis, o estudo destaca a necessidade de enfrentar os desafios socioambientais ligados às novas tecnologias, como a mineração de metais estratégicos, essenciais para a fabricação de baterias e outros componentes. O OC propõe a criação de salvaguardas para garantir que a exploração desses recursos ocorra de maneira responsável, minimizando impactos negativos nas comunidades e no meio ambiente.

Outro ponto crucial levantado pelo relatório é a reforma do setor elétrico, com diretrizes para melhorar a eficiência energética, superar a pobreza energética e corrigir injustiças sociais associadas ao acesso à energia. Essas iniciativas são essenciais para garantir que a transição energética ocorra de forma inclusiva, beneficiando a população como um todo e não apenas setores específicos.

Crescimento Econômico Sustentável

O estudo do OC levou em consideração diferentes cenários de crescimento econômico. Com base em uma projeção de crescimento médio do PIB de 2,1% ao ano até 2050, o relatório conclui que é possível conciliar crescimento econômico com a redução drástica das emissões. Mesmo em cenários de crescimento mais baixo (1,3% ao ano) ou mais alto (2,8% ao ano), as emissões de CO2e no setor de energia podem ser significativamente reduzidas se as diretrizes do OC forem seguidas.

No cenário tendencial, que considera um crescimento médio do PIB de 2,1% ao ano, o setor de energia chegaria a 2050 emitindo 558 milhões de toneladas de CO2e, evidenciando a necessidade de uma mudança radical nas políticas públicas e nos investimentos em infraestrutura energética.

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