Workshop reúne mais de 300 participantes para debater o planejamento da infraestrutura de transmissão, visando acomodar projetos de hidrogênio e impulsionar a descarbonização no país
O Brasil deu mais um passo importante em sua transição energética com o debate sobre a expansão da rede de transmissão para conectar projetos de produção de hidrogênio verde. Em um workshop realizado pelo Ministério de Minas e Energia (MME), em parceria com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), especialistas discutiram os desafios e oportunidades de integrar essa nova fonte de energia limpa ao Sistema Interligado Nacional (SIN). O evento, intitulado “Novos Paradigmas do Planejamento da Expansão da Transmissão para a Conexão de Plantas de Produção de Hidrogênio”, reuniu mais de 300 participantes, incluindo representantes de 15 entidades do setor.
A expansão da infraestrutura de transmissão para hidrogênio verde é uma questão crucial para o futuro energético do Brasil. Atualmente, o país tem 11 projetos de hidrogênio com estudos em andamento, totalizando uma capacidade potencial de 45 gigawatts (GW) até 2038. Esses projetos, concentrados em poucas subestações, devem exigir investimentos adicionais em fontes de energia flexíveis e tecnologias de controle, que assegurem a segurança e a adequabilidade da rede tanto para a demanda de energia quanto para a potência.
Com o crescimento da produção de hidrogênio verde e sua integração à matriz energética, o governo brasileiro está buscando equilibrar três pilares fundamentais: a modicidade tarifária (manutenção de preços acessíveis para o consumidor final), a descarbonização (redução das emissões de gases de efeito estufa) e a segurança nos investimentos em infraestrutura.
Abertura de novas fronteiras econômicas
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, destacou a importância estratégica do hidrogênio verde para a diversificação da matriz energética brasileira. “Estamos em um momento oportuno para o desenvolvimento do hidrogênio no Brasil, que será fundamental para a transição energética global. O hidrogênio de baixa emissão de carbono, cujo marco legal foi sancionado recentemente pelo presidente Lula, vai criar novas oportunidades econômicas, ampliando nossa liderança em energia renovável”, afirmou Silveira.
Ele ressaltou que, além de promover a descarbonização do setor de transportes e indústrias, o desenvolvimento do hidrogênio verde também trará novos investimentos em infraestrutura e tecnologia, com a construção de plantas de produção e biorrefinarias espalhadas pelo país. “Estamos vendo a criação de uma nova indústria, que ajudará a posicionar o Brasil como líder global em tecnologias de baixo carbono”, completou.
Planejamento e desafios
Segundo Thiago Barral, secretário de Transição Energética e Planejamento do MME, o principal desafio no planejamento da transmissão para os projetos de hidrogênio é tomar decisões em um cenário de incertezas, dado que os projetos são de grande escala e requerem um planejamento prospectivo de longo prazo. Ele ressaltou que o MME está trabalhando em conjunto com associações e agentes do setor para compreender os desafios e desenvolver um estudo robusto sobre a expansão da infraestrutura de transmissão. “Estamos recebendo sinais de demanda de infraestrutura de transmissão para conectar plantas de hidrogênio que poderão atingir gigawatts de potência. Precisamos compartilhar esse desafio com o setor para garantir que as decisões tomadas sejam as melhores possíveis”, destacou Barral.
De acordo com a EPE, os projetos de hidrogênio exigirão uma abordagem flexível e adaptativa para garantir que a rede de transmissão consiga lidar com a alta demanda de energia. Isso inclui a implementação de novas tecnologias e investimentos em fontes energéticas que ofereçam flexibilidade ao sistema elétrico. Além disso, a EPE está conduzindo um estudo que será incorporado ao planejamento de expansão da Rede Básica do Sistema Interligado Nacional (SIN), previsto para iniciar em 2024.
Resultados esperados
Com a previsão de 45 GW de capacidade instalada até 2038, os projetos de hidrogênio verde devem gerar uma demanda inicial de 0,9 GW até 2026, conforme os processos de acesso à Rede Básica já formalizados pelo MME. Seis dos 11 projetos já receberam portarias autorizando a conexão à rede, com base em critérios de menor custo global, enquanto os outros cinco estão em fase de estudo.
Esse avanço, alinhado com o marco legal do hidrogênio de baixa emissão de carbono, representa um marco na transição energética brasileira. A diversificação da matriz energética, com o uso de hidrogênio verde, não apenas impulsiona a descarbonização do país, mas também abre portas para novas oportunidades econômicas, fortalecendo o papel do Brasil como uma das principais nações no desenvolvimento de soluções de energia limpa.
Durante o workshop, representantes da ANEEL e do ONS destacaram a importância de promover um ambiente colaborativo entre os agentes do setor, para que a expansão da infraestrutura de transmissão seja coordenada e eficiente. Os investimentos previstos vão além da mera construção de novas linhas de transmissão: será necessário garantir que o sistema seja robusto o suficiente para atender à demanda crescente, sem comprometer a segurança e estabilidade do SIN.
O evento também mostrou a importância da modicidade tarifária, da descarbonização e da segurança no investimento como elementos essenciais para garantir o sucesso dos projetos de hidrogênio no Brasil. Ao longo das discussões, ficou claro que a infraestrutura de transmissão é um componente vital para viabilizar o crescimento dessa nova fronteira energética, e o estudo que será iniciado em 2024 promete trazer soluções inovadoras para os desafios que estão por vir.