Estudo global aponta crescimento do interesse por mobilidade elétrica no Brasil e destaca oportunidades e desafios para o setor automotivo e de infraestrutura energética
A quinta edição da pesquisa Global eReadiness 2024 traz uma radiografia atualizada sobre a maturidade do mercado de veículos elétricos (VEs) em 27 países, com foco na prontidão do consumidor. Os dados revelam que o Brasil figura entre os mercados com maior potencial de expansão, com 75% dos entrevistados indicando a intenção de adquirir um VE nos próximos cinco anos — um número que supera com folga a média global, de 60%.
O levantamento será apresentado oficialmente nesta quinta-feira (12) durante o Encontro Nacional de Agentes do Setor Elétrico (ENASE 2025), em painel sobre mobilidade elétrica mediado por Mauro Toledo, diretor da Strategy&. A pesquisa avalia o comportamento do consumidor e as condições estruturais para a expansão da eletromobilidade, abordando desde o perfil dos proprietários atuais até as barreiras técnicas e econômicas à adoção em larga escala.
Brasil se destaca no interesse por veículos elétricos
De acordo com o estudo, o Brasil faz parte de um grupo de países emergentes com alta predisposição à eletromobilidade, ao lado de China, Índia, Indonésia, América Latina, Oriente Médio e África, onde a taxa de “leads” — consumidores que manifestam intenção real de compra — varia entre 70% e 80%. Em contraste, mercados maduros como o Japão apresentam apenas 20% de leads, sinalizando uma saturação ou uma hesitação persistente.
Esse alto nível de intenção de compra no Brasil está alinhado com o avanço do debate público sobre sustentabilidade, aumento da oferta de modelos elétricos no país e políticas de incentivo fiscal e tributário — ainda que pontuais e insuficientes, segundo especialistas.
Alta satisfação entre os primeiros proprietários
Atualmente, entre 5% e 7% dos entrevistados já são proprietários de VEs. No Brasil, a taxa de satisfação entre esses consumidores chega a 100%, contra 93% na média global. Os principais motivos incluem o baixo custo operacional, o conforto da condução silenciosa e a facilidade de carregamento em casa.
O perfil desses consumidores ainda é elitizado: homens mais jovens, com renda elevada e acesso a garagem privativa com ponto de recarga. Essa realidade reforça a necessidade de políticas públicas voltadas à democratização da infraestrutura de carregamento, especialmente em centros urbanos com maior densidade populacional.
Mercado de usados pode acelerar penetração
O estudo destaca que o mercado de VEs usados ainda é incipiente, com apenas 10% de penetração. No entanto, há um potencial latente de crescimento: entre 30% e 50% dos atuais proprietários consideram adquirir um elétrico usado em sua próxima compra, especialmente em regiões de menor poder aquisitivo.
Essa dinâmica pode ser estratégica para ampliar a base de consumidores e aumentar a rotatividade do mercado, desde que acompanhada de políticas que garantam a rastreabilidade das baterias, certificações de segurança e acesso a crédito facilitado.
Barreiras à adoção e desafios estruturais
Entre os principais obstáculos à adoção de VEs estão o tempo necessário para carregamento, a autonomia reduzida, a escassez de infraestrutura pública e a preocupação com a vida útil das baterias. A pesquisa aponta que 65% dos usuários de VEs dependem de estacionamento privado, com destaque para países como Austrália (88%) e Indonésia (72%).
No Brasil, embora o número de eletropostos venha crescendo, a concentração nas regiões Sudeste e Sul ainda limita o avanço da mobilidade elétrica em escala nacional. Especialistas indicam que a interiorização da infraestrutura será determinante para o sucesso da eletrificação da frota.
Fatores determinantes para impulsionar a mobilidade elétrica
A pesquisa também identificou os principais motivadores de compra de veículos elétricos: redução no preço de aquisição, custo total de propriedade (TCO) competitivo, novos modelos de posse (como assinaturas ou compartilhamento), incentivos fiscais e ampla cobertura de infraestrutura de recarga.
Foram identificadas cinco personas com maior propensão à compra: sonhadores, entusiastas de tecnologia, consumidores de luxo, mainstream e frugais. Os dois primeiros grupos respondem por 30% a 50% da demanda futura. Já na Europa e América do Norte, o grupo mainstream — formado por consumidores pragmáticos — tem demonstrado aumento significativo no interesse.
Perspectivas para o setor energético
A crescente demanda por VEs representa uma oportunidade estratégica para o setor elétrico brasileiro. A expansão da frota elétrica exigirá maior integração entre mobilidade, geração distribuída e redes inteligentes. Isso inclui o papel de tecnologias como vehicle-to-grid (V2G), tarifação diferenciada e armazenamento estacionário.
O Brasil tem potencial para liderar a transição para uma mobilidade de baixo carbono, especialmente se conseguir alinhar políticas públicas, investimentos em infraestrutura e inovação regulatória. A pesquisa eReadiness 2024 oferece um panorama técnico robusto para orientar essa transição.