Crescimento é puxado por geração solar centralizada e distribuída, com destaque para projetos greenfield e incentivos regulatórios que estimulam a consolidação do setor
A crescente demanda por fontes de energia limpa e o cenário regulatório favorável consolidaram o setor de energias renováveis como protagonista das operações de fusões e aquisições (M&A) no Brasil em 2025. De acordo com projeções do banco UBS BB, o segmento deve responder por 40% do volume total de transações este ano, com negócios estimados em R$ 120 bilhões.
Um estudo realizado por Ronaldo Rodrigues, da Zaxo M&A Partners, aponta que o aumento das operações foi impulsionado tanto por grandes usinas de geração centralizada quanto pela ampliação de projetos de geração distribuída, como os sistemas fotovoltaicos residenciais e comerciais. A análise, que abrangeu mais de 20 mil transações em 18 países entre 1990 e 2023, revelou um dado estratégico: em mercados com alto potencial de crescimento, como o de energia solar, a incerteza econômica não apenas deixa de ser um entrave, como se converte em vantagem competitiva para investidores com visão de longo prazo.
De acordo com levantamento da consultoria Greener, as transações envolvendo ativos solares cresceram 76% em 2024, totalizando 51 operações que movimentaram usinas com pelo menos 3,6 GWp de capacidade instalada — quase o triplo do volume registrado no ano anterior. Na geração centralizada, os negócios quadruplicaram, somando 21 transações. Já na geração distribuída, o número de fusões e aquisições dobrou, com 14 operações finalizadas.
Entre os fatores que explicam o avanço está a Medida Provisória 1.212, editada pelo governo federal, que prorrogou prazos para que empreendimentos renováveis garantam acesso a subsídios tarifários. Essa extensão regulatória acelerou a movimentação de projetos ainda em fase de desenvolvimento (greenfield), especialmente solares, considerados estratégicos para players em processo de consolidação.
Segundo Ronaldo Rodrigues, senior associate da Zaxo, “a incerteza em setores com alta densidade de oportunidades deixa de ser um obstáculo e passa a funcionar como catalisador de valor. Investidores conseguem negociar ativos com múltiplos atrativos e capturar crescimento futuro com posicionamento estratégico”.
Com mais de 50 GW de capacidade instalada, a energia solar já ocupa a segunda posição na matriz elétrica brasileira. A consolidação do setor passa pela formação de clusters regionais com forte consumo, presença de incentivos regulatórios e oportunidades de sinergia operacional entre os players.
Leonardo Grisotto, sócio-fundador da Zaxo, destaca que “empresas bem preparadas utilizam períodos desafiadores como alavancas de expansão. A energia renovável é um exemplo claro disso: trata-se de um mercado competitivo, com fundamentos sólidos e respaldo regulatório”.
A Zaxo M&A Partners, que atua diretamente na intermediação e estruturação de operações, já movimentou mais de R$ 7,5 bilhões em transações e projeta superar R$ 600 milhões apenas em 2025. A atuação da empresa vai além da negociação: envolve inteligência de mercado, modelagem financeira, estruturação jurídica e antecipação de tendências para clientes do Brasil e do exterior.
O sócio Jefferson Nesello reforça: “É em momentos de instabilidade que o Brasil se torna mais estratégico no radar global de investimentos. Setores como o de energia limpa são resilientes, têm base técnica robusta e alta capacidade de geração de valor no médio e longo prazo.”
A pesquisa liderada por Rodrigues ainda mostra que empresas com alto nível de “growth options” — ou seja, com grande potencial de crescimento — conseguem superar o impacto negativo da volatilidade econômica. “Nesses casos, o prêmio médio pago nas aquisições pode chegar a 19%, mesmo em ambientes de instabilidade”, detalha.
Para os especialistas, o que se observa no Brasil é a materialização de um novo ciclo de investimento estrutural no setor elétrico, pautado pela descarbonização, digitalização e descentralização. Esse ciclo reposiciona a energia renovável não apenas como uma alternativa sustentável, mas como motor de negócios, inovação e competitividade econômica.