Refinaria em São Miguel Paulista (SP), apoiada pelo Ministério de Minas e Energia, integra lista de iniciativas prioritárias para garantir acesso seguro e sustentável a minerais críticos no bloco europeu
A refinaria de níquel e cobalto localizada em São Miguel Paulista, na capital paulista, acaba de ser reconhecida como projeto estratégico pela União Europeia (UE), marcando um novo capítulo para a mineração brasileira no cenário global. A iniciativa, conduzida pela empresa australiana Jervois Global com apoio do Ministério de Minas e Energia (MME), foi selecionada entre 44 propostas apresentadas por diversos países e agora integra a lista de apenas 13 projetos considerados prioritários no contexto da nova Regulação sobre Minerais Críticos (Critical Raw Materials Act – CRMA) da Comissão Europeia.
Esse reconhecimento representa um avanço expressivo na consolidação do Brasil como parceiro confiável no fornecimento de insumos fundamentais para a transição energética e tecnológica global. A refinaria é o único projeto da América Latina incluído na lista e se junta a iniciativas da Austrália, Canadá, Noruega, Reino Unido, Ucrânia, entre outros, voltadas à produção de minerais como lítio, grafite, manganês, níquel e cobalto, todos considerados essenciais para setores como mobilidade elétrica, energia renovável, semicondutores e armazenamento de energia.
Valor estratégico e sustentabilidade na cadeia mineral
A escolha da refinaria de São Miguel Paulista pela Comissão Europeia está diretamente ligada à sua capacidade de fornecer matérias-primas críticas de forma segura, responsável e com padrões ambientais elevados. A instalação, que passou por revitalizações recentes, tem potencial para se tornar um polo relevante de processamento e fornecimento de cobalto e níquel refinado, dois elementos-chave para a produção de baterias de íons de lítio utilizadas em veículos elétricos e sistemas de armazenamento de energia.
De acordo com o MME, o reconhecimento do projeto é um reflexo direto do esforço do governo brasileiro em promover a agregação de valor à mineração nacional, ampliando sua inserção em cadeias globais de alto valor agregado. Além de representar um passo concreto na cooperação bilateral com a UE, o título de “projeto estratégico” abre portas para apoio institucional do bloco europeu em negociações estratégicas e futuras parcerias comerciais.
Diplomacia mineral e inserção internacional
O avanço do projeto também evidencia os frutos do diálogo iniciado entre Brasil e União Europeia nos últimos anos em torno do desenvolvimento da cadeia de minerais estratégicos. Essa diplomacia mineral vem sendo fortalecida por meio de encontros multilaterais e de ações coordenadas pelo MME, com foco em promover investimentos, transferência de tecnologia e sustentabilidade ambiental em todo o ciclo produtivo dos minérios brasileiros.
Segundo analistas do setor, o reconhecimento europeu pode impulsionar novos fluxos de financiamento, facilitar licenciamento de exportações e elevar o Brasil a um novo patamar nas negociações internacionais de minerais críticos. A expectativa é de que outros empreendimentos brasileiros passem a receber atenção semelhante nos próximos ciclos de seleção da UE, com ênfase em minerais como lítio, terras raras e grafite.
Níquel e cobalto: pilares para a transição energética global
Tanto o níquel quanto o cobalto são elementos centrais para as tecnologias de baixo carbono, especialmente em aplicações de mobilidade elétrica e redes inteligentes. A crescente demanda global por esses minerais pressiona mercados e governos a diversificar suas fontes de suprimento, e o Brasil, com sua riqueza geológica e capacidade industrial, se apresenta como alternativa estratégica aos grandes centros produtores atuais.
A refinaria da Jervois Global representa um exemplo concreto de como o país pode avançar para além da simples exportação de minério bruto, incorporando etapas de processamento e industrialização que geram mais empregos, renda e soberania tecnológica. Para o MME, trata-se de uma rota essencial para o futuro sustentável da mineração nacional, alinhada às exigências do século XXI.
Um novo papel para o Brasil na geopolítica dos minerais
O reconhecimento da UE chega em um momento em que os minerais críticos ganham protagonismo em agendas internacionais ligadas à segurança energética, industrialização verde e competição tecnológica. Ao conquistar espaço nessa seleta lista, o Brasil não apenas fortalece sua posição no comércio internacional, como também demonstra maturidade regulatória e compromisso com práticas sustentáveis e transparentes.
O Ministério de Minas e Energia reforça que continuará a apoiar projetos que contribuam para a diversificação, descarbonização e fortalecimento da matriz mineral brasileira, com foco em parcerias estratégicas e no reposicionamento do Brasil como um ator-chave no fornecimento global de minerais do futuro.