Quarta-feira, Junho 4, 2025
20.3 C
Rio de Janeiro

Brasil pode instalar até 24 GW em usinas solares flutuantes, aponta estudo da PSR

Potencial técnico do país ultrapassa 3.800 GW, mas limitações técnicas e econômicas indicam viabilidade para até 24 GW de sistemas híbridos entre hidrelétricas e energia solar

O Brasil possui um potencial economicamente viável para instalar até 24 gigawatts (GW) em usinas solares flutuantes, tecnologia que permite a geração de energia sobre os espelhos d’água de reservatórios hidrelétricos, aproveitando sinergias entre fontes renováveis. A conclusão é de um estudo da consultoria PSR, divulgado nesta segunda-feira, que aponta a possibilidade de ampliar e otimizar a capacidade do parque gerador brasileiro a partir de uma estratégia híbrida, combinando a tradicional fonte hidráulica com a solar.

De acordo com a PSR, embora o potencial teórico da energia solar flutuante no país seja extremamente elevado — podendo alcançar até 3.800 GW —, a viabilidade prática e econômica é consideravelmente mais restrita, situando-se entre 17 GW e 24 GW. Esse volume considera condicionantes técnicas, como a disponibilidade de radiação solar, além de limitações da infraestrutura elétrica, especialmente a capacidade das subestações associadas às hidrelétricas.

“O Brasil dispõe de uma vasta área de reservatórios de usinas hidrelétricas, que se estendem por milhares de quilômetros quadrados, mas nem toda essa superfície é adequada para receber plantas solares flutuantes”, destacou Rafael Kelman, diretor executivo da PSR. Segundo ele, além dos aspectos técnicos, a viabilidade econômica também determina os limites para o desenvolvimento dessa tecnologia.

Usinas solares flutuantes: sinergia entre fontes e ganhos ambientais

A implantação de sistemas solares flutuantes representa uma oportunidade estratégica para o Brasil avançar na transição energética, ao mesmo tempo em que maximiza a utilização da infraestrutura elétrica já existente. A tecnologia permite que a energia solar seja integrada diretamente aos sistemas hidrelétricos, reduzindo a necessidade de novas linhas de transmissão e subestações.

Além disso, os benefícios ambientais são relevantes. De acordo com o estudo da PSR, a instalação de painéis solares sobre reservatórios pode reduzir a evaporação da água entre 30% e 50%, a depender da área coberta. Essa redução contribui para a conservação dos recursos hídricos, fundamental para o funcionamento das usinas hidrelétricas e para a segurança hídrica das regiões abastecidas por esses sistemas.

Embora o ganho direto de produção elétrica resultante da economia de água seja considerado modesto, o efeito sobre a gestão dos recursos hídricos é positivo, especialmente em cenários de estresse hídrico.

Custo da solar flutuante ainda é superior, mas há fatores compensatórios

O estudo também avaliou o custo nivelado de energia (LCOE, na sigla em inglês) dos sistemas solares flutuantes no Brasil. O valor estimado ficou em R$ 374 por megawatt-hora (MWh), ainda superior ao custo de R$ 343/MWh das usinas solares terrestres. A diferença se deve, principalmente, ao maior investimento inicial necessário para a instalação de estruturas flutuantes e ancoragens adequadas.

No entanto, a PSR ressalta que aspectos operacionais e ambientais podem compensar essa diferença, especialmente em locais com restrições para o uso do solo, como áreas ambientalmente sensíveis ou com alta densidade populacional. A possibilidade de instalar usinas solares sem necessidade de grandes áreas de terra é um dos atrativos dessa tecnologia.

Crescimento da solar flutuante no Brasil: primeiros passos

Apesar do potencial identificado, o Brasil ainda conta com projetos de solar flutuante em pequena escala, com sistemas que variam até 10 megawatts de potência. Esses empreendimentos, liderados por empresas como Eletrobras, Cemig, Emae e Auren, são considerados pilotos importantes para a avaliação da viabilidade técnica e econômica da tecnologia no contexto brasileiro.

A expansão da solar flutuante pode ocorrer tanto na modalidade de geração centralizada, com usinas de grande porte ligadas diretamente ao Sistema Interligado Nacional (SIN), quanto na geração distribuída, que atende pequenos consumidores — especialmente da baixa tensão, como residências e comércios — por meio de créditos de energia.

“A integração entre hidrelétricas e sistemas solares flutuantes ou próximos de reservatórios é uma opção estratégica para o Brasil avançar na transição energética com eficiência e sustentabilidade”, afirmou Rafael Kelman.

Caminhos para o futuro

O relatório da PSR reforça que a solar flutuante é uma alternativa promissora, mas que seu desenvolvimento requer políticas públicas adequadas, regulamentação específica e incentivos para superar barreiras tecnológicas e financeiras.

Com a crescente necessidade de descarbonização e o objetivo de ampliar a participação de fontes renováveis na matriz elétrica, a solar flutuante desponta como uma solução complementar e estratégica, que pode reforçar a segurança energética e a resiliência do setor elétrico brasileiro.

Destaques

UTE GNA II entra em operação no Porto do Açu e se torna a maior usina a gás natural do Brasil

Com investimento de R$ 7 bilhões e capacidade para...

Hidrogênio de Baixa Emissão Ganha Força no Brasil e se Consolida como Pilar da Transição Energética

Plano Nacional do Hidrogênio estrutura bases para desenvolvimento sustentável,...

Últimas Notícias

Moody’s revisa perspectiva da nota de crédito global da Petrobras para...

Decisão acompanha alteração da perspectiva do rating soberano do...

Brasil lidera coalizão global e reforça governança no planejamento energético internacional

MME destaca atuação institucional estratégica para acelerar a transição...

Nível de aversão ao risco nos modelos do setor elétrico eleva...

Consulta pública do MME expõe desafios na formação de...

Greener e Iriun lançam Noris, joint venture para impulsionar fusões e...

Nova empresa nasce com foco estratégico em M&As de...

Artigos Relacionados

Categorias Populares