Operação estratégica simulou desligamento total de parte da usina e comprovou capacidade de restabelecimento autônomo de energia em situações críticas, como apagões
Em um cenário no qual a segurança energética se torna cada vez mais estratégica para países e sociedades altamente dependentes de eletricidade, a Itaipu Binacional — uma das maiores hidrelétricas do mundo — realizou no último domingo (25) um rigoroso teste de black start, operação que simula o restabelecimento de energia após um apagão total.
O procedimento foi conduzido no setor de 60 Hz, responsável por atender ao sistema elétrico brasileiro, e comprovou que a usina tem plena capacidade de religar suas operações de forma autônoma, segura e eficaz, mesmo sem qualquer suporte externo de energia.
Durante a operação, quatro das vinte unidades geradoras da usina — especificamente as unidades U10, U11, U12 e U13 — foram desligadas, juntamente com equipamentos essenciais ao processo de recomposição. O teste teve duração de aproximadamente 25 minutos, tempo necessário para desligamento e reenergização da estrutura, comprovando a robustez do sistema e a capacidade da hidrelétrica de reagir em situações críticas.
Segundo a administração da usina, todo o procedimento foi realizado de forma controlada, sem gerar qualquer impacto sobre os sistemas interligados do Brasil e do Paraguai, reforçando a confiabilidade da infraestrutura e a eficiência operacional da hidrelétrica binacional.
Black start: o que é e qual sua importância?
O black start é um procedimento essencial no setor elétrico global. Ele consiste na capacidade de uma usina gerar energia a partir do zero, ou seja, sem depender de outras fontes externas, algo fundamental quando há uma falha generalizada no sistema elétrico, como um apagão.
No caso de Itaipu, o sistema conta com geradores a diesel localizados na Casa de Força, que alimentam os sistemas auxiliares e permitem o religamento progressivo das unidades geradoras principais. Essa capacidade é vital para garantir que, diante de um colapso na rede elétrica, a usina possa iniciar, de forma independente, a recomposição do Sistema Interligado Nacional (SIN) e, consequentemente, o restabelecimento do fornecimento de energia às regiões atendidas.
Capacidade impressionante e impacto no sistema elétrico
A energia fornecida pelas quatro unidades envolvidas no teste seria suficiente, sozinha, para abastecer parcialmente uma metrópole como São Paulo (SP) ou atender integralmente cidades como Belo Horizonte (MG), Campinas (SP) ou Rio de Janeiro (RJ). Isso representa um atendimento a uma população de cerca de 6 milhões de pessoas, demonstrando claramente a relevância e o peso estratégico da operação.
De acordo com Cláudio Costa, gerente de Operação da Usina e Subestações de Itaipu, o grande desafio, tanto em simulações quanto em eventos reais, está na agilidade do processo de recomposição. “É um processo complexo que exige uma operação coordenada e extremamente precisa de diversos agentes e sistemas, para que tudo funcione em perfeita sincronia”, afirmou.
Costa destacou ainda que o sucesso do teste foi resultado do trabalho integrado de uma equipe composta por doze profissionais brasileiros e paraguaios, que atuaram na Sala de Controle Central (CCR) e na sala de Despacho de Carga, além de contar com o suporte de outros setores e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Rotina de segurança energética
O teste realizado no último domingo faz parte da rotina de segurança operacional da Itaipu. A usina executa este procedimento anualmente em cada um dos dois setores: o de 60 Hz, que abastece o Brasil, e o de 50 Hz, destinado ao Paraguai. Na sexta-feira anterior (27 de abril), foi realizado com êxito o mesmo teste no setor de 50 Hz, confirmando a plena capacidade de recomposição em ambos os sistemas.
O encerramento do procedimento ocorre quando a energia é restaurada até a Subestação de Foz do Iguaçu, da Eletrobras, que marca a conclusão da responsabilidade direta de Itaipu no processo. A partir desse ponto, cabe às empresas de transmissão e distribuição dar sequência à recomposição do sistema até o atendimento final dos consumidores.
Segurança energética: mais que uma obrigação, uma necessidade nacional
O gerente destacou que, até hoje, nunca houve necessidade de utilizar esse procedimento em uma situação real. Ainda assim, a realização dos testes periódicos é indispensável para garantir que, caso ocorra uma falha sistêmica no sistema elétrico brasileiro ou paraguaio, Itaipu esteja pronta para atuar imediatamente na recomposição da rede.
Além de fornecer energia limpa e renovável, a Itaipu Binacional — responsável em 2024 por suprir 7% da demanda elétrica do Brasil e 78% da do Paraguai — se consolida como um dos pilares de segurança energética da América do Sul, reforçando sua importância estratégica para a estabilidade dos sistemas elétricos dos dois países.
“É importante destacar que os procedimentos seguem rigorosamente os padrões normativos, com profissionais altamente capacitados e treinados rotineiramente para garantir que, tanto nos testes como em situações reais, a operação seja conduzida de forma segura, eficiente e dentro dos mais altos padrões técnicos”, concluiu Cláudio Costa.