Armazenamento de energia em baterias surge como peça-chave para evitar apagões e impulsionar fontes renováveis na região
A América Latina está diante de um momento decisivo em sua transição energética. Enquanto países como Brasil e Colômbia enfrentam apagões e ameaças de racionamento devido à dependência da geração hidrelétrica e aos impactos das mudanças climáticas, cresce a necessidade de soluções energéticas mais resilientes. Nesse cenário, a combinação de fontes renováveis – como solar e eólica – com sistemas de armazenamento de energia em baterias (BESS, na sigla em inglês) desponta como uma alternativa estratégica para garantir o fornecimento contínuo de eletricidade e fortalecer a segurança energética da região.
O aumento da demanda por energia, impulsionado por fatores como o crescimento populacional e a industrialização, expõe a fragilidade da matriz energética latino-americana. O México, por exemplo, registrou um aumento de 3,8% no consumo elétrico em 2023, superando as projeções oficiais. Além disso, eventos climáticos extremos, como secas prolongadas, evidenciam a vulnerabilidade da geração hidrelétrica – que, embora continue predominante, já não é suficiente para suprir as necessidades da região.
Diante desse panorama, as energias renováveis avançam como solução viável e sustentável. Países como Brasil, Chile e Argentina estão ampliando significativamente suas capacidades eólica e solar. No entanto, a intermitência dessas fontes ainda representa um desafio. É aí que entram os sistemas de armazenamento em baterias, permitindo o aproveitamento da energia gerada em momentos de pico e sua distribuição quando há maior demanda, garantindo estabilidade ao sistema elétrico.
O crescimento das renováveis e o papel do armazenamento de energia
A América Latina tem se destacado globalmente na expansão da energia limpa. Segundo a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), a região já avançou consideravelmente na adoção de fontes renováveis, com a meta de atingir 70% da geração energética a partir dessas fontes até 2030. O Brasil, por exemplo, já ultrapassou a marca de 33 GW de capacidade instalada em energia eólica, consolidando-se como o sexto maior mercado mundial desse segmento.
A energia solar também vem crescendo rapidamente. Em 2024, o custo da eletricidade gerada por fontes renováveis na América Latina caiu 8%, impulsionado pela redução nos custos de capital e pela normalização das cadeias de suprimentos. Além disso, três quartos da nova capacidade de geração renovável adicionada globalmente em 2023 já eram mais competitivos do que os combustíveis fósseis.
Porém, para que essa revolução seja efetiva, a integração de sistemas de armazenamento se torna essencial. O mercado global de baterias deve crescer 636% na próxima década, segundo a consultoria Wood Mackenzie, adicionando quase 2.800 GWh de capacidade. A América Latina está começando a acompanhar essa tendência, e o Chile surge como líder na adoção da tecnologia.
Chile na vanguarda do armazenamento de energia
O Chile tem se destacado na implementação de soluções inovadoras para integrar fontes renováveis à sua matriz energética. Um dos exemplos mais relevantes é o projeto BESS del Desierto, da Atlas Renewable Energy. Com capacidade de armazenamento de 800 MWh e potência instalada de 200 MW por quatro horas, o empreendimento será um dos maiores da América Latina e ajudará a estabilizar o fornecimento elétrico no país.
A Atlas também firmou um contrato de compra de energia (PPA) com a mineradora Codelco, garantindo o fornecimento de 375 GWh anuais de eletricidade limpa e ininterrupta, graças à integração da tecnologia de baterias ao sistema. Esse acordo marca um avanço significativo na adoção de energia renovável na indústria de mineração, um dos setores mais exigentes em termos de demanda energética.
O investimento da Atlas em soluções de armazenamento demonstra como essas tecnologias podem viabilizar um sistema energético mais eficiente e sustentável, reduzindo a dependência de fontes fósseis e contribuindo para o cumprimento das metas climáticas da região.
O caminho para a transição energética
Para garantir a adoção bem-sucedida do armazenamento de energia em baterias na América Latina, alguns fatores são fundamentais:
- Infraestrutura e regulação: é essencial que os países desenvolvam marcos regulatórios que incentivem a adoção do armazenamento, oferecendo incentivos e mecanismos que viabilizem investimentos no setor.
- Integração tecnológica: o uso de redes inteligentes e inteligência artificial pode otimizar a gestão da energia, prevendo oscilações na demanda e tornando o sistema mais eficiente.
- Capacitação e desenvolvimento local: é necessário investir na qualificação de profissionais para operar e manter essas novas tecnologias, garantindo que a população local também se beneficie dos avanços no setor.
- Parcerias e financiamento: a colaboração entre governos, empresas e instituições financeiras pode acelerar a implementação desses projetos, tornando-os economicamente viáveis.
A América Latina tem um potencial imenso para se tornar referência global em energia sustentável. A combinação de fontes renováveis com armazenamento em baterias não apenas garante um fornecimento mais seguro e confiável, como também impulsiona a economia e reduz a pegada de carbono da região.
O futuro da energia na América Latina está sendo moldado agora – e a adoção de soluções inovadoras como o BESS será fundamental para definir um novo modelo energético, mais resiliente, sustentável e preparado para os desafios das próximas décadas.