Com foco em resultados financeiros imediatos, a BP altera sua estratégia de transição energética e aposta no aumento da produção de petróleo e gás
A BP anunciou uma mudança significativa em sua estratégia, optando por priorizar novamente seus investimentos em petróleo e gás. A decisão ocorre após pressões do fundo ativista Elliott Investment Management e visa restaurar a confiança dos acionistas, que vinham criticando a direção da empresa.
O CEO da BP, Murray Auchincloss, confirmou que a companhia não seguirá mais com o plano de reduzir a produção de hidrocarbonetos. Pelo contrário, haverá um leve aumento na produção, acompanhado de cortes expressivos nos investimentos em energia renovável. Além disso, a empresa iniciou uma revisão estratégica do negócio de lubrificantes Castrol, que pode ser vendido por até US$ 10 bilhões.
Embora a BP tente agradar acionistas insatisfeitos, sua decisão de reduzir o programa de recompra de ações para um teto de US$ 1 bilhão por trimestre, abaixo dos US$ 1,75 bilhão anteriores, gerou reações negativas no mercado. As ações da empresa recuaram 0,9% na bolsa de Londres logo após o anúncio.
Mudança de rota e impactos no mercado
A transição energética vinha sendo um dos pilares da estratégia da BP desde que Bernard Looney assumiu a liderança da companhia em 2020. No entanto, seu sucessor, Auchincloss, tem adotado um tom mais pragmático. Ele reconhece a importância das energias renováveis, mas reforça que a BP deve priorizar investimentos mais rentáveis no curto prazo.
Com isso, os investimentos em petróleo e gás subirão para cerca de US$ 10 bilhões anuais. A meta é elevar a produção para entre 2,3 milhões e 2,5 milhões de barris diários até 2030. Antes, a empresa previa uma redução de 25% na produção em relação a 2019.
Por outro lado, os investimentos em energia de baixo carbono sofrerão cortes drásticos, reduzindo-se para US$ 1,5 bilhão a US$ 2 bilhões anuais. A BP continuará aplicando recursos em biogás, biocombustíveis e infraestrutura de carregamento para veículos elétricos, mas de forma “seletiva”.
Outra medida para equilibrar as finanças da companhia será a venda de cerca de US$ 20 bilhões em ativos até 2027. Essa estratégia visa reduzir a dívida líquida da BP, que hoje está em quase US$ 23 bilhões, para um patamar entre US$ 14 bilhões e US$ 18 bilhões.
Pressão de acionistas e futuro da BP
As mudanças foram impulsionadas pela entrada do fundo Elliott Investment Management, que adquiriu uma participação na BP avaliada em US$ 5 bilhões. Conhecido por sua atuação agressiva, o Elliott costuma exigir grandes mudanças em empresas onde investe. O próximo passo do fundo dependerá de como Auchincloss entregará resultados e se os cortes em renováveis serão suficientes para atender às demandas dos acionistas.
A decisão também coloca o presidente da BP, Helge Lund, sob pressão. Ele foi um dos principais defensores da estratégia de emissões líquidas zero, agora criticada. Caso os resultados financeiros não melhorem rapidamente, não está descartada uma mudança na liderança da companhia.
Apesar de analistas como Allen Good, da Morningstar, considerarem positiva a decisão de reforçar os investimentos em hidrocarbonetos, há preocupações quanto ao crescimento de longo prazo da BP. O corte nas recompras de ações também gerou incertezas, tornando o futuro da petroleira ainda mais volátil.
Com um setor energético em plena transformação e a crescente pressão global por descarbonização, a BP aposta em um retorno às origens. Resta saber se essa estratégia garantirá competitividade a longo prazo ou se a empresa estará, na verdade, perdendo uma chance de liderar a transição energética global.