Projeto ultrapassa 90% de execução e deve eliminar isolamento energético de Roraima, gerar economia superior a R$ 1 bilhão ao ano e reforçar a segurança do Sistema Interligado Nacional
As obras da linha de transmissão que interligará Manaus (AM) a Boa Vista (RR) avançaram para mais de 90% de execução, conforme divulgado na 306ª Reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), realizada pelo Ministério de Minas e Energia (MME) em 11 de junho de 2025. O empreendimento, estimado em R$ 2,6 bilhões, é uma das mais importantes iniciativas em curso no setor elétrico brasileiro e promete encerrar o histórico isolamento do estado de Roraima do Sistema Interligado Nacional (SIN), com previsão de conclusão para o segundo semestre deste ano.
A expectativa é que a entrada em operação do linhão gere uma economia superior a R$ 1 bilhão por ano aos consumidores de energia elétrica em todo o país, atualmente impactados pelos elevados custos da geração a diesel usada no abastecimento de Roraima. O projeto também trará benefícios ambientais e reforçará a confiabilidade do suprimento nacional.
A interligação entre os dois estados é vista como um marco estrutural para o setor elétrico brasileiro. A obra permitirá o acesso de Roraima à matriz energética nacional, majoritariamente composta por fontes renováveis, substituindo a dependência de usinas térmicas movidas a óleo diesel — consideradas caras e poluentes. Com a nova infraestrutura, será possível garantir maior estabilidade ao fornecimento de energia, reduzir as emissões de gases de efeito estufa e proporcionar mais competitividade à economia local.
Expansão da infraestrutura e reforço à integração nacional
Durante a reunião, o CMSE também discutiu a conclusão dos aprimoramentos nos Sistemas Especiais de Proteção (SEPs), que permitirão o aumento dos limites de transmissão do SIN. Esse avanço é crucial para ampliar o escoamento da energia renovável gerada no Nordeste para outras regiões do país. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) anunciou que os estudos sobre os novos limites de transmissão serão finalizados até o Programa Mensal de Operação (PMO) de julho de 2025, previsto para o dia 26 de junho.
O colegiado também abordou os impactos de critérios operacionais diferenciados no sistema e a possibilidade de redução dos cortes de geração renovável. A medida visa assegurar que a matriz elétrica brasileira, cada vez mais limpa, seja também mais aproveitada — evitando desperdícios de produção de energia solar e eólica por limitações técnicas.
Modelos computacionais e o futuro da precificação no setor elétrico
Outro ponto central da reunião do CMSE foi a necessidade de aprimoramento dos modelos computacionais que embasam a operação do sistema e a formação do preço de curto prazo da energia elétrica. O comitê avaliou a pertinência dos cenários de oferta de geração utilizados no planejamento e destacou a importância de metodologias mais robustas, especialmente em um contexto de crescente variabilidade da geração renovável.
Também foi debatida a Consulta Pública nº 186, aberta em 3 de junho, que trata das mudanças na CVAR (Curva de Avanço de Rendimento). O prazo para contribuições vai até o dia 3 de julho de 2025.
A reunião avaliou ainda a disponibilidade de gás natural para geração termelétrica, especialmente considerando o fornecimento vindo da Bolívia. O CMSE encaminhou solicitações de estudos à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), com o objetivo de acelerar a implantação da Estação de Compressão Japeri (ECOMP), reforçando a resiliência do sistema de transporte de gás e a segurança energética nacional.
Condições hidrológicas e capacidade de armazenamento
O ONS apresentou também uma análise hidrometeorológica atualizada. Em maio, a precipitação ficou restrita às regiões Norte e extremo Sul do país, com índices abaixo da média histórica em bacias importantes. A Energia Natural Afluente (ENA) ficou entre 40% e 84% da média de longo termo (MLT), dependendo do subsistema.
As projeções para junho apontam continuidade do cenário hidrológico desfavorável. O Sudeste/Centro-Oeste deve registrar ENA entre 72% e 77% da MLT, enquanto o Sul deve variar entre 37% e 65%. Para o Sistema Interligado Nacional como um todo, espera-se o menor valor de afluência para junho em 95 anos de histórico, com 62% da MLT no pior cenário.
Quanto ao armazenamento, os dados de maio indicam níveis de 68% no Sudeste/Centro-Oeste, 36% no Sul, 74% no Nordeste e 98% no Norte. Para o fim de junho, a expectativa é de manutenção desses níveis.
Expansão da geração e transmissão
Em maio, o país registrou uma expansão de 1.818 MW em geração centralizada, 370,94 km de linhas de transmissão e 2.444 MVA de capacidade de transformação. No acumulado do ano até maio, o avanço chega a 3.901 MW, 1.047 km de linhas e 3.629 MVA de transformação.
O CMSE reforçou seu papel de monitoramento contínuo das condições do setor elétrico e reiterou o compromisso com a garantia do suprimento de energia em todo o território nacional.