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Brasil acelera produção de biometano e reforça protagonismo global às vésperas da COP30

Unidade pioneira de biometano no interior paulista demonstra potencial do país para liderar a transição energética com base na gestão de resíduos e na economia circular

O Dia Mundial da Energia, celebrado em 29 de maio, ganha uma dimensão ainda mais simbólica em 2025. A proximidade da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém (PA), coloca o Brasil em posição de destaque no debate global sobre a transição energética e a busca por soluções sustentáveis. Nesse cenário, o biometano emerge como um dos vetores mais promissores, capaz de transformar resíduos antes desprezados em uma fonte estratégica de energia limpa e de baixo carbono.

Um exemplo emblemático desse avanço é a Unidade de Tratamento e Gestão de Resíduos (UTGR), operada pelo Grupo Multilixo, localizada no município de Jambeiro, no interior de São Paulo. A planta é considerada a primeira usina 100% autossustentável do Brasil, operando sem qualquer dependência de energia externa. Em dois anos de funcionamento, a unidade já alcançou a expressiva marca de mais de 10 milhões de metros cúbicos de biometano produzidos anualmente, abastecendo indústrias da região do Vale do Paraíba e contribuindo para a redução de cerca de 170 mil toneladas de emissões de dióxido de carbono (CO₂) por ano.

Além da geração de biometano, a unidade se destaca pela capacidade de produzir sua própria eletricidade, por meio de um gerador com potência de 1,2 megawatts (MW), assegurando plena autonomia energética. A iniciativa consolida a UTGR como um exemplo de sucesso na aplicação dos princípios da economia circular e da inovação tecnológica voltada à gestão eficiente de resíduos sólidos.

Crescimento acelerado e potencial global

O avanço da UTGR reflete uma tendência nacional em expansão. Segundo dados da Associação Brasileira de Biogás (ABiogás), o Brasil deve multiplicar por sete a sua capacidade produtiva de biometano até 2029, saltando dos atuais 1 milhão para 7 milhões de metros cúbicos por dia. Esse crescimento reposiciona o país no mercado internacional como um player relevante na cadeia de energia renovável.

Nos últimos dois anos, o número de usinas de biometano em operação no Brasil triplicou, passando de seis, em 2022, para vinte unidades ativas em 2024. A expectativa é de que esse número chegue a 90 plantas até o final da década, consolidando o protagonismo nacional na produção e comercialização desse combustível limpo.

Na UTGR, a expectativa de crescimento também é significativa. A planta prevê um aumento de 20% na produção de biometano ao longo deste ano, ampliando ainda mais seu impacto ambiental positivo e sua contribuição para a segurança energética regional.

Biometano: vitrine brasileira na COP30

Para Lucas Urias, Diretor de Estratégia e Inovação do Grupo Multilixo, o momento é estratégico para o setor energético brasileiro. “Estamos vivendo um momento chave. A COP30 vai colocar o Brasil em evidência, e o biometano é uma das maiores vitrines que temos para mostrar como a correta gestão de resíduos pode ser uma solução concreta de energia limpa e de descarbonização real”, afirma.

De acordo com o executivo, a experiência da UTGR evidencia como cidades, indústrias e sistemas de mobilidade podem ser integrados a partir de soluções sustentáveis, baseadas no aproveitamento inteligente de resíduos. A frota própria de caminhões da empresa, que já é abastecida com o biometano gerado na usina, ilustra bem essa lógica de circularidade.

“O potencial do biometano no Brasil é imenso. Estimamos que seja capaz de suprir até 80% das frotas pesadas de veículos, além de atender de forma competitiva às demandas industriais e de geração de energia elétrica”, acrescenta Urias.

Benefícios ambientais, econômicos e sociais

A UTGR apresenta números que impressionam e comprovam sua relevância para a agenda climática e energética nacional:

  • Primeira usina 100% autossustentável do país;
  • Capacidade de produção: 30 mil metros cúbicos de biometano por dia;
  • Mais de 10 milhões de metros cúbicos anuais, equivalentes ao consumo energético de milhares de residências;
  • Redução de aproximadamente 170 mil toneladas de emissões de CO₂ por ano;
  • Geração de mais de 170 mil Créditos de Carbono anuais;
  • Fornecimento direto para indústrias do Vale do Paraíba e abastecimento da frota própria da empresa.

Além de representar uma alternativa eficiente para a descarbonização da indústria e do transporte, o biometano também impulsiona o desenvolvimento regional. A operação da UTGR gera empregos, fomenta a economia local e reduz a dependência brasileira de combustíveis fósseis importados, fortalecendo a segurança energética nacional.

Transição energética com impacto global

Às vésperas da COP30, iniciativas como a da UTGR mostram que o Brasil possui competência técnica e potencial natural para liderar a transição energética em escala global. A transformação de resíduos em energia limpa aponta para um modelo sustentável de desenvolvimento que une inovação, geração de valor e preservação ambiental.

Com investimentos crescentes e políticas públicas adequadas, o biometano pode consolidar-se como uma das principais ferramentas brasileiras na luta contra as mudanças climáticas, reforçando o papel do país como referência mundial em energia renovável e em gestão ambiental eficiente.

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