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Eletronuclear aguarda aval para suspender pagamento de dívidas com Caixa e BNDES até 2026

Estatal busca fôlego financeiro de R$ 800 milhões enquanto governo adia decisão sobre Angra 3 e discute nova governança para o setor nuclear

A Eletronuclear aguarda resposta oficial sobre o pedido de suspensão do pagamento de dívidas com a Caixa Econômica Federal (CEF) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), estendendo o prazo até dezembro de 2026. A solicitação foi confirmada pelo presidente da estatal, Raul Lycurgo, nesta terça-feira (27/5), durante audiência na Comissão de Minas e Energia (CME) da Câmara dos Deputados.

A suspensão, ou “waiver”, representa uma tentativa de dar fôlego financeiro à companhia, que enfrenta uma crise de liquidez e projeta déficit superior a R$ 2,1 bilhões. Segundo Lycurgo, a medida proporcionaria um alívio estimado em R$ 800 milhões nos próximos dois anos.

“Pelo menos, dá um respiro”, afirmou o executivo aos deputados, durante audiência pública requerida pelo deputado Júlio Lopes (PP/RJ). A Eletronuclear solicita a suspensão desde janeiro deste ano, enquanto o governo federal segue adiando uma solução definitiva para a continuidade e financiamento da Usina Nuclear de Angra 3, no Rio de Janeiro.

Angra 3: financiamento indefinido e pressões sobre a estatal

Na audiência, Lycurgo esclareceu que os estudos conduzidos pelo BNDES sobre o modelo de financiamento para a conclusão de Angra 3 foram encerrados em setembro de 2024. O modelo prevê a quitação integral das dívidas da Eletronuclear, mas a operacionalização do plano depende da aprovação da remuneração da usina pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).

“Nos estudos do BNDES tem o pré-pagamento dessa dívida toda. Na verdade, ninguém está falando aqui de não pagar e simplesmente suspender. Considerando esse fato novo, já solicitamos à Caixa e ao BNDES um novo waiver até dezembro de 2026”, ressaltou o presidente da Eletronuclear.

Sem a formalização da remuneração e da fonte de financiamento, a estatal permanece em situação crítica. A manutenção das estruturas e equipamentos de Angra 3 exige um dispêndio anual de R$ 120 milhões, somados a outros R$ 100 milhões relacionados ao quadro de pessoal.

Além disso, o estudo do BNDES revelou que a desistência da construção da usina representaria uma perda econômica de aproximadamente R$ 21 bilhões, enquanto a conclusão do empreendimento pode custar até R$ 23 bilhões, valor próximo ao que já foi investido até o momento.

Governança e transparência como condições para retomada

A complexidade da situação de Angra 3 se intensificou após o adiamento, pela segunda vez, da decisão do CNPE sobre o futuro da usina. O adiamento ocorreu a pedido do ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), em fevereiro deste ano.

Durante a reunião do CNPE, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), condicionou a continuidade das obras à reformulação da governança da Eletronuclear. O ministro enfatizou a necessidade de aprimorar a confiabilidade e a transparência da estatal como pré-requisito para retomar a construção.

“A governança da Eletronuclear precisa ser aprimorada para que tenhamos segurança na execução desse projeto estratégico para o país”, declarou Silveira na ocasião.

Interlocução política e busca por apoio institucional

O deputado Júlio Lopes (PP/RJ), responsável pela convocação da audiência na Câmara, manifestou apoio à Eletronuclear e afirmou que pretende interceder junto aos bancos públicos para que a suspensão das obrigações seja concedida. Para o parlamentar, a medida é fundamental para preservar a capacidade operacional da estatal enquanto se aguarda a definição do modelo de financiamento para Angra 3.

O pedido de waiver está sendo avaliado pelos credores públicos, mas, até o momento, não há previsão de decisão oficial.

Setor nuclear brasileiro: desafios financeiros e estratégicos

O impasse envolvendo Angra 3 expõe as dificuldades estruturais enfrentadas pelo setor nuclear brasileiro. Com investimentos acumulados de mais de R$ 23 bilhões na obra, o empreendimento tornou-se um dos principais desafios de engenharia e financiamento do país.

Enquanto não há uma definição sobre o modelo de remuneração e as garantias financeiras para a conclusão do projeto, a Eletronuclear tenta mitigar seu passivo e assegurar a preservação dos ativos físicos da usina.

Além dos aspectos financeiros, a discussão sobre Angra 3 envolve questões estratégicas relacionadas à segurança energética nacional, à diversificação da matriz elétrica e à capacidade tecnológica brasileira no setor nuclear.

Perspectivas: entre a renegociação e a retomada das obras

A expectativa é que, com a suspensão temporária das obrigações financeiras, a Eletronuclear consiga concentrar esforços na preservação dos ativos e na adequação das estruturas de governança, atendendo às exigências políticas e regulatórias para viabilizar a retomada das obras.

O desfecho da solicitação de waiver junto à CEF e ao BNDES será determinante para o futuro da estatal e da própria Angra 3, empreendimento considerado estratégico para a segurança energética do país, mas que há décadas enfrenta sucessivos entraves financeiros, regulatórios e políticos.

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