Executivos da companhia destacam tendência de valorização no setor, impulsionada por maior volatilidade e aumento da demanda
Após um período de três anos de baixa histórica nos preços da energia, a Eletrobras já percebe sinais claros de uma tendência de alta no mercado de comercialização. Segundo os executivos da companhia, os valores praticados no setor mostram um novo ciclo de valorização, o que pode favorecer a empresa, dada sua parcela significativa de energia descontratada para venda.
O mercado de curto prazo registrou preços próximos ao piso regulatório entre 2022 e meados de 2024, com valores oscilando entre R$ 60 e R$ 70 por megawatt-hora (MWh). No entanto, este cenário mudou radicalmente ao longo de 2025, com o preço da energia no mercado à vista chegando a R$ 330/MWh em alguns momentos.
“Houve uma falsa impressão de que o sistema estava estável. Ficamos cerca de dois anos e meio com preços no piso, e, em nossa visão, os agentes de mercado estavam ‘enviesados’ pela percepção de que o preço permaneceria baixo”, afirmou o diretor financeiro da Eletrobras, Eduardo Haiama.
A mudança de patamar, segundo Haiama, foi inesperada até mesmo para os analistas do setor. No início de 2024, os contratos para fornecimento de energia em 2026 eram negociados a R$ 155/MWh. Hoje, esse mesmo contrato já é precificado a R$ 200/MWh, ou até mais. Esse reajuste reflete novas projeções de demanda, ajustes na oferta e maior volatilidade no setor elétrico.
Capacidade descontratada e oportunidades no mercado
A Eletrobras se posiciona de forma estratégica neste cenário de alta, pois possui um volume expressivo de energia ainda não contratada. Segundo a companhia, para 2025, entre 2% e 18% da capacidade de geração ainda está disponível para negociação no mercado livre. Para 2026, essa parcela aumenta para entre 20% e 32%, enquanto para 2027, o percentual sobe para entre 37% e 46%.
Diante desse novo contexto, o banco Itaú BBA destacou em relatório que, “considerando a atual tendência de alta nos preços de energia, a Eletrobras pode ter acelerado o ritmo de vendas de energia durante o primeiro trimestre de 2025”.
Para potencializar sua atuação nesse ambiente, a empresa criou uma equipe de comercialização com sede em São Paulo, polo estratégico do mercado livre de energia no Brasil. A mudança já trouxe resultados expressivos: o número de clientes no mercado livre saltou para 660 contratos, um crescimento de 65% em relação ao quarto trimestre de 2023.
Cenário energético e perspectivas para os próximos anos
A volatilidade nos preços da energia tem sido impulsionada por uma combinação de fatores estruturais e conjunturais, incluindo a transição energética, a necessidade de maior flexibilidade no sistema elétrico e o aumento do consumo de energia renovável.
Com a expansão do mercado livre de energia e a necessidade crescente de fontes mais seguras e flexíveis de fornecimento, empresas como a Eletrobras podem se beneficiar desse novo panorama. A companhia, que já demonstrou forte crescimento na comercialização de energia, tende a explorar ao máximo as novas condições de mercado para rentabilizar seus ativos.
Embora a Eletrobras não tenha divulgado projeções específicas para os próximos meses, a expectativa de um mercado mais dinâmico e com preços mais elevados pode consolidar um período de ganhos significativos para a empresa.
A mudança na estratégia da companhia, aliada a um posicionamento mais agressivo no mercado livre, pode garantir à Eletrobras uma vantagem competitiva relevante nos próximos anos, consolidando-a como uma das principais forças do setor elétrico nacional.