Senador articula nos bastidores para derrubar Alexandre Silveira, enquanto disputas políticas e interesses do setor energético acirram embate no Congresso
A crise política envolvendo Ministério de Minas e Energia (MME) ganhou novos contornos com a movimentação do senador Davi Alcolumbre (União-AP) para destituir Alexandre Silveira (PSD-MG) do comando da pasta. O embate, que já vinha sendo travado nos bastidores, deve se intensificar a partir de fevereiro, quando Alcolumbre assume a presidência do Senado.
Fontes próximas ao Palácio do Planalto relataram que o senador já teria sinalizado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que Silveira não representa os interesses do Senado, tentando convencê-lo de que o cargo deveria ser ocupado por um nome mais alinhado à Casa. A pressão não é recente: no final de 2023, Alcolumbre já havia feito dois movimentos para enfraquecer o ministro, mas sem sucesso.
A relação entre os dois, que já foram aliados, se deteriorou nos últimos meses devido a conflitos de interesse em pautas estratégicas do setor energético. O principal divisor de águas foi a tramitação do projeto de lei do marco regulatório das eólicas offshore, aprovado pelo Congresso com benefícios para termelétricas a carvão e gás natural — pontos que Lula acabou vetando, contrariando o grupo político de Alcolumbre.
Interesses Estratégicos no Setor Energético
O desgaste entre Silveira e Alcolumbre não se restringe ao projeto das eólicas offshore. O senador tem sido apontado como articulador da inclusão de interesses de empresários do setor de gás natural no texto do projeto, o que desagradou o ministro de Minas e Energia.
Além disso, a disputa por indicações em agências reguladoras aumentou ainda mais a tensão. Silveira tentou emplacar Gentil Nogueira Júnior para a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e Pietro Mendes para a presidência da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). Porém, Alcolumbre queria que essas indicações atendessem a nomes que garantiriam apoios políticos para sua candidatura ao comando do Senado. No final das contas, Silveira saiu enfraquecido: Gentil não foi nomeado e Pietro conseguiu apenas uma diretoria na ANP, e não a presidência, como pretendia o ministro.
A tentativa de enfraquecer Silveira não ficou restrita ao Legislativo. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também teria alertado Lula sobre os riscos de manter o ministro no cargo. Pacheco e Silveira são adversários políticos dentro de Minas Gerais e disputam espaço para uma eventual candidatura ao governo do estado em 2026.
Polêmicas no Setor Elétrico
A atuação de Silveira à frente do Ministério de Minas e Energia também tem sido alvo de críticas dentro e fora do governo. Um dos episódios citados nos bastidores foi a compra da Amazonas Energia pela Âmbar Energia, do grupo J&F, dos irmãos Batista. O ministro teria feito grande esforço para que a operação fosse aprovada nos moldes exigidos pela empresa, mas a liberação só ocorreu após intervenção judicial.
Outro tema polêmico foi a antecipação da Conta Covid, um empréstimo concedido pelo governo durante a pandemia para ajudar distribuidoras de energia a enfrentarem a inadimplência. O Ministério de Minas e Energia alegou que o pagamento antecipado reduziria as tarifas para os consumidores. No entanto, a Aneel afirmou que o efeito foi o oposto, já que os bancos negociaram taxas que acabaram onerando ainda mais os consumidores.
O Que Esperar a Partir de Fevereiro?
Com Davi Alcolumbre de volta ao comando do Senado, a pressão para substituir Alexandre Silveira tende a crescer. O governo Lula, que já enfrenta uma série de desafios políticos e econômicos, terá que decidir se cede à pressão de um dos seus principais aliados no Congresso ou se mantém Silveira à frente da pasta de Minas e Energia.
A queda de braço expõe não apenas disputas internas da base governista, mas também o peso do setor energético nas articulações políticas. Com interesses bilionários em jogo, a definição de quem controlará o ministério pode ter impactos diretos em projetos estratégicos e na regulação do setor nos próximos anos.
O Palácio do Planalto, por ora, tenta administrar a crise, mas terá que decidir se bancará Silveira ou se cederá à pressão de Alcolumbre e Pacheco, o que pode gerar um novo rearranjo político dentro da base do governo no Senado.