IPCA acumula alta de 4,76% em 12 meses, superando teto da meta do Banco Central e pressionando juros
A inflação no Brasil acelerou para 0,56% em outubro, impulsionada por aumentos nos preços de energia elétrica e alimentos. O resultado, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), superou a expectativa do mercado, que estimava um avanço de 0,53% para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em 12 meses, o IPCA acumula uma alta de 4,76%, o nível mais elevado desde outubro do ano passado (4,82%) e acima do teto da meta de inflação estabelecida pelo Banco Central para o ano.
A meta de inflação para 2024, fixada pelo Conselho Monetário Nacional, é de 3,0%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, permitindo uma faixa de variação entre 1,5% e 4,5%. Com a inflação anualizada acima do teto da meta, o Banco Central enfrenta o desafio de controlar os preços em um cenário de forte pressão dos custos de energia e alimentos. Segundo a Pesquisa Focus, divulgada pelo Banco Central na última segunda-feira, a expectativa é que o IPCA termine o ano em 4,59%, acima do centro da meta e próximo ao limite superior.
Impacto da Energia Elétrica e Carne
O principal fator de pressão sobre o IPCA em outubro foi a alta nos preços da energia elétrica residencial, que subiram 4,74% no mês. Essa alta foi influenciada pela ativação da bandeira tarifária vermelha patamar 2, o nível mais alto de cobrança adicional, devido à queda nos níveis dos reservatórios das hidrelétricas durante o período seco. A bandeira tarifária encarece a conta de energia dos consumidores, adicionando uma cobrança extra por quilowatt-hora para compensar o custo maior da geração de energia em períodos de escassez hídrica.
Expectativas para Novembro e Alívio na Conta de Luz
Para novembro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou que a bandeira tarifária será amarela, o que deve reduzir a pressão sobre a conta de luz. A decisão reflete uma melhora nas condições de geração de energia no país, com a recuperação parcial dos níveis dos reservatórios. A mudança de bandeira representa uma cobrança menor do que a aplicada em outubro, o que pode ajudar a moderar a inflação no mês seguinte.
No entanto, especialistas alertam que o alívio pode ser temporário, já que os custos energéticos continuam elevados, e as condições climáticas ainda são incertas. Caso os reservatórios voltem a cair, existe o risco de novas tarifas elevadas para cobrir o custo de geração.
Aumento dos Juros pelo Banco Central e Expectativas para Dezembro
O Banco Central decidiu nesta semana aumentar a taxa básica de juros, a Selic, em 0,50 ponto percentual, elevando-a para 11,25% ao ano. A decisão visa conter a alta da inflação e manter as expectativas dos agentes econômicos ancoradas, embora não tenha sido especificado se haverá novos aumentos na reunião de dezembro.
Analistas interpretam a medida como um sinal de que a autoridade monetária está disposta a endurecer a política de juros para frear a inflação. Com o aumento, o Banco Central busca influenciar o custo do crédito e reduzir a demanda, ajudando a controlar os preços. Contudo, o impacto efetivo da alta de juros sobre a inflação pode demorar a ser sentido, especialmente em um cenário de forte pressão nos preços de itens essenciais como energia e alimentos.
A incerteza sobre o próximo passo do Banco Central reflete o desafio de encontrar o equilíbrio entre a inflação e o crescimento econômico. Com uma inflação anualizada acima do teto da meta e a expectativa de que o IPCA permaneça elevado até o fim do ano, o Banco Central pode ser pressionado a adotar novos aumentos de juros. No entanto, especialistas indicam que a desaceleração da inflação no próximo ano pode aliviar as pressões sobre a política monetária.
Projeções de Inflação e Perspectivas para 2024
As projeções do mercado indicam uma expectativa de desaceleração da inflação em 2024, com uma possível redução gradual da Selic ao longo do ano. A Pesquisa Focus mostra que a expectativa para a inflação ao final de 2024 está em 4,59%, próxima ao teto da meta, o que sugere que o mercado ainda prevê desafios para o controle da inflação no curto prazo.
No entanto, economistas destacam que a trajetória da inflação dependerá de diversos fatores, incluindo a evolução dos preços internacionais de commodities, o comportamento do câmbio e o cenário climático, que influencia diretamente os custos de energia e alimentos no Brasil. Com esses fatores em jogo, o Banco Central deverá manter uma postura cautelosa para avaliar a necessidade de ajustes na política de juros.
A inflação acima do esperado em outubro reforça o cenário de cautela para os próximos meses. O desafio do Banco Central será evitar que as pressões de custos se consolidem em um patamar elevado, o que comprometeria o poder de compra das famílias e a estabilidade econômica do país.