Dan Jørgensen defende matriz limpa e elogia atuação de Portugal e Espanha diante do maior blecaute em décadas
O recente apagão que atingiu a Península Ibérica gerou uma onda de especulações quanto às suas causas, especialmente sobre o papel das energias renováveis na instabilidade do sistema elétrico. Nesta terça-feira (6), o comissário europeu da Energia, Dan Jørgensen, foi enfático ao afastar qualquer ligação direta entre a matriz energética limpa e o blecaute ocorrido na semana passada. Em coletiva de imprensa realizada em Estrasburgo, o representante da União Europeia destacou que não há evidências que sustentem a hipótese de que o excesso de produção renovável tenha causado a interrupção do fornecimento de energia.
“Não há razão para acreditar que isto [o apagão da semana passada] se deve às energias renováveis”, declarou Jørgensen durante a sessão plenária do Parlamento Europeu. O comissário também reconheceu positivamente a resposta rápida e coordenada das autoridades portuguesas e espanholas, que conseguiram restabelecer o sistema em tempo recorde diante daquele que foi considerado o pior apagão das últimas décadas na região.
Renováveis continuam sendo solução — não o problema
A declaração de Jørgensen tem peso estratégico num momento em que a Europa busca consolidar sua transição energética. Segundo ele, é incorreto e contraproducente responsabilizar as fontes limpas por falhas operacionais ou de infraestrutura. “Podemos apontar muitos países com um nível muito elevado de energias renováveis no seu cabaz energético que têm muito menos minutos de apagão por ano do que outros países que não o têm”, disse, reiterando que a confiabilidade do sistema está mais associada à governança e resiliência da rede do que ao tipo de fonte energética predominante.
Essa fala ecoa as diretrizes da Comissão Europeia que, também nesta terça-feira, divulgou um novo roteiro para reduzir gradualmente a dependência energética da Rússia, reforçando a aposta da União Europeia em energias limpas como vetor de segurança energética e soberania geopolítica.
Apagão como alerta para infraestrutura e interconectividade
Embora o comissário tenha desautorizado interpretações precipitadas sobre as causas do blecaute, o episódio funciona como alerta sobre a necessidade de reforçar a infraestrutura elétrica europeia, especialmente os mecanismos de resposta e resiliência a falhas sistêmicas. A ampliação das fontes renováveis no mix energético exige, por exemplo, investimentos em tecnologias de armazenamento, digitalização das redes e integração regional entre países-membros.
Especialistas do setor elétrico lembram que, com o aumento da participação de fontes como solar e eólica — intermitentes por natureza —, o papel das redes inteligentes e dos sistemas de backup se torna ainda mais crítico. Porém, apontam que culpar as renováveis é ignorar avanços técnicos, investimentos em inovação e o fato de que falhas em redes de energia também ocorrem em sistemas baseados em combustíveis fósseis.
Portugal como referência em renováveis
O apagão reacendeu discussões sobre o protagonismo português na transição energética. Em 2023, Portugal gerou mais de 60% de sua eletricidade a partir de fontes renováveis, como hídrica, solar e eólica. O país também se tornou referência em políticas públicas voltadas à descarbonização e ao desenvolvimento de comunidades energéticas.
A postura do comissário europeu endossa o caminho escolhido por Portugal, reiterando que uma matriz renovável é compatível com confiabilidade e segurança energética, desde que acompanhada de planejamento, investimentos estruturantes e modernização do sistema elétrico.