Sexta-feira, Maio 9, 2025
24.9 C
Rio de Janeiro

Câmara debate impacto da energia excedente de fontes renováveis sobre a rede elétrica e regulações futuras

Audiência pública reúne representantes do governo, do setor elétrico e da sociedade civil para discutir os efeitos do fluxo reverso na rede e a sustentabilidade da geração distribuída no Brasil

A Câmara dos Deputados promove nesta terça-feira (6), por meio da Comissão de Desenvolvimento Econômico, uma audiência pública para tratar de um dos temas mais sensíveis do setor elétrico nacional: os impactos da injeção de energia excedente — o chamado fluxo reverso — na rede elétrica. A discussão acontece às 10h, no plenário 5 do Anexo II, e foi convocada pelo deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG), um dos principais defensores da geração distribuída no Congresso Nacional.

Com o avanço da instalação de sistemas solares fotovoltaicos, turbinas eólicas de pequeno porte e unidades movidas a biomassa, cresce também a quantidade de energia produzida por consumidores que, ao gerar mais do que consomem, devolvem o excedente ao sistema de distribuição. Esse fenômeno, conhecido como fluxo reverso, tem provocado reações divergentes entre agentes do setor elétrico: enquanto as distribuidoras apontam riscos técnicos e desequilíbrios tarifários, os defensores da geração distribuída alegam falta de dados e tentativas de frear a descentralização energética no país.

Um debate urgente sobre o futuro da geração distribuída

O objetivo da audiência pública, segundo o parlamentar, é esclarecer os possíveis impactos técnicos e econômicos do fluxo reverso na rede de distribuição, além de debater caminhos regulatórios para garantir que o crescimento da geração distribuída ocorra de forma sustentável e transparente. “As distribuidoras têm justificado a necessidade de alterações tarifárias e regulatórias alegando prejuízos causados pelo fluxo reverso, mas não apresentaram qualquer estudo técnico público que comprove a existência ou a dimensão desses efeitos”, critica Lafayette.

Ele destaca ainda que a micro e minigeração distribuída tem papel fundamental na democratização do acesso à energia renovável e no desenvolvimento regional. “Esse segmento é um dos que mais geram emprego e renda de forma descentralizada, especialmente em regiões afastadas dos grandes centros urbanos. Qualquer mudança regulatória precisa considerar esse impacto social positivo.”

Quem participa da audiência pública

Diversos especialistas e representantes de entidades estratégicas foram convidados para contribuir com a análise do tema. Entre os confirmados estão:

  • Bárbara Rubim, vice-presidente de geração distribuída da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR)
  • Carlos Evangelista, presidente da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD)
  • Fernando Silva, gerente executivo do planejamento elétrico do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)
  • Hewerton Martins, presidente do Movimento Solar Livre (MSL)
  • Marcos Madureira, presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (ABRADEE)
  • Pedro Lombardi, gerente da Superintendência de Regulação dos Serviços de Transmissão e Distribuição da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)

Além desses nomes, representantes do Ministério de Minas e Energia (MME) e do Instituto Nacional de Energia Limpa (INEL) também foram convidados e aguardam confirmação.

Fluxo reverso: desafio técnico ou disputa de modelo?

Para as distribuidoras, o crescimento da geração distribuída impõe desafios à operação da rede elétrica, especialmente em horários de baixa demanda. As concessionárias alegam que o fluxo de energia em sentido oposto ao convencional pode afetar a qualidade do fornecimento, aumentar os custos operacionais e distorcer a alocação de encargos tarifários, uma vez que parte dos consumidores estaria utilizando a rede sem pagar proporcionalmente por ela.

Já os defensores da geração distribuída afirmam que a discussão tem sido pautada por interesses comerciais e pela tentativa de desacelerar a descentralização do setor elétrico. “Faltam estudos públicos, baseados em dados reais, que justifiquem qualquer revisão regulatória drástica. O que não falta é evidência do benefício socioeconômico da geração distribuída”, afirma Bárbara Rubim, da ABSOLAR.

Regulação em foco

A audiência pública ocorre em meio à implementação da Lei nº 14.300/2022, que estabeleceu o marco legal da geração distribuída e criou uma regra de transição até 2029 para os novos consumidores que instalarem sistemas de geração própria. No entanto, a pressão das distribuidoras por mudanças mais imediatas levanta preocupações sobre a previsibilidade e a segurança regulatória no setor.

Para Lafayette, esse é o momento de garantir equilíbrio e racionalidade. “Precisamos de uma política energética que estimule a inovação, assegure justiça tarifária e preserve a estabilidade da rede. Mas isso só pode ser feito com base em dados técnicos confiáveis e com participação ampla da sociedade.”

Com um setor cada vez mais descentralizado, digital e limpo, o Brasil se encontra diante de uma encruzilhada regulatória. O debate desta terça pode ser decisivo para apontar os rumos da energia distribuída em um país que caminha para ser protagonista da transição energética global.

Destaques

Estudo da Deloitte revela expansão histórica da energia solar e projeta crescimento estratégico para renováveis em 2025

Relatório global mostra que energia solar superou fontes hidrelétrica...

Integração do biometano à cadeia do gás natural é tema de estudo estratégico da EPE

Documento técnico detalha alternativas para viabilizar o escoamento do...

Brasil perde posição no ranking global de geração solar em 2024 apesar de recorde de capacidade instalada

Relatório da SolarPower Europe aponta crescimento de apenas 21%...

EPE aprova projeto estratégico de gás natural na Bahia e inaugura nova fase do Programa Gás para Empregar

Primeira análise técnica no escopo do novo decreto viabiliza...

Automa anuncia parceria estratégica com Mtech Group e acelera expansão internacional no setor de energia renovável

Aliança comercial com foco em digitalização e eficiência energética...

Últimas Notícias

Investimento desigual ameaça metas globais de energia renovável e expõe fragilidade...

Com apenas 10% dos investimentos em energia renovável destinados...

ARGO Energia avança na digitalização do setor elétrico com monitoramento climático...

Projeto pioneiro com a Climatempo instala estações meteorológicas em...

Emissões de metano seguem elevadas apesar de avanços em transparência e...

Relatório Global Methane Tracker 2025 revela que medidas de...

ONS e CCEE realizam novo Workshop sobre o Sandbox Regulatório de...

Instituições promoverão novo workshop sobre o assunto na quarta-feira...

Rio AI City: Brasil lança megaprojeto de data centers verdes com...

Elea Data Centers anuncia empreendimento bilionário no Rio de...

Artigos Relacionados

Categorias Populares