Sábado, Maio 31, 2025
20 C
Rio de Janeiro

Congresso retoma debate sobre Angra 3 e reacende discussão sobre futuro da energia nuclear no Brasil

Audiência pública na Câmara reúne governo, setor nuclear e indústria para debater cronograma, custos e impacto da retomada de Angra 3 na segurança energética do Brasil

A Câmara dos Deputados, por meio da Comissão de Minas e Energia, realizou nesta terça-feira (27) uma audiência pública de extrema relevância para o setor elétrico nacional: a continuidade da obra da usina nuclear Angra 3, paralisada há mais de quatro décadas. O debate, proposto pelo deputado Júlio Lopes (PP-RJ), coloca novamente sob os holofotes uma das maiores polêmicas da infraestrutura energética brasileira.

O evento, realizado no Plenário 14 da Câmara, reuniu representantes do alto escalão do governo federal, de órgãos de controle, da indústria nuclear e de entidades setoriais. A discussão girou em torno dos desafios financeiros, técnicos e institucionais que envolvem a retomada e a conclusão da terceira unidade da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, localizada em Angra dos Reis (RJ).

Atualmente, as usinas Angra 1 e Angra 2 são responsáveis por aproximadamente 3% da matriz elétrica brasileira. A entrada de Angra 3 promete reforçar significativamente essa participação, garantindo maior estabilidade ao sistema, especialmente em períodos de escassez hídrica, além de contribuir para a descarbonização da matriz elétrica, uma das metas centrais do Brasil no enfrentamento às mudanças climáticas.

Um projeto estratégico para a segurança energética

Iniciada em 1981, Angra 3 teve sua obra interrompida por diversas vezes ao longo das décadas, principalmente por entraves financeiros, questões jurídicas e mudanças nas prioridades energéticas do país. Agora, o governo federal volta a colocar o projeto como peça central na estratégia de diversificação da matriz elétrica e na busca por segurança energética.

“Concluir Angra 3 não é apenas finalizar uma obra. É garantir a soberania energética do Brasil, reduzir a dependência de fontes intermitentes e consolidar o país no domínio da tecnologia nuclear civil”, afirmou Júlio Lopes durante a abertura dos trabalhos.

Quem participou do debate

A audiência contou com a presença de nomes de peso do setor energético e nuclear. Entre os confirmados estavam o Ministro-Chefe da Casa Civil, Rui Costa; o Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira; Francisco Rondinelli Junior, presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN); Marcelo Leite Freire, do Tribunal de Contas da União (TCU); Raul Lycurgo Leite, presidente da Eletronuclear; Silas Rondeau, presidente da ENBPar; e Luciene Ferreira Monteiro Machado, superintendente do BNDES, além de representantes da Marinha, da Eletrobras, da AMAZUL, da ABDAN, da ABEN e do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Energia Elétrica em Angra dos Reis.

Essa ampla participação demonstra o caráter estratégico e multidisciplinar do projeto, que envolve não apenas questões energéticas, mas também desenvolvimento industrial, financiamento, segurança nacional e geração de empregos qualificados.

Ponto crítico: financiamento e cronograma

Um dos principais focos da audiência foi a necessidade de clareza sobre os custos atualizados da obra, as fontes de financiamento e o cronograma de execução. Segundo dados preliminares, o orçamento total para a conclusão de Angra 3 gira em torno de R$ 20 bilhões, valor que ainda está sendo refinado pelos técnicos.

O BNDES já sinalizou disposição para participar do financiamento, mas reforçou a necessidade de garantias robustas, considerando o histórico do projeto. “É preciso assegurar que os recursos sejam aplicados com responsabilidade, transparência e controle rigoroso”, destacou Luciene Machado, do BNDES.

O TCU, representado por Marcelo Freire, também reforçou o papel do órgão no acompanhamento dos processos, com auditorias permanentes para assegurar que as melhores práticas sejam adotadas, mitigando riscos jurídicos, financeiros e operacionais.

Impacto na matriz elétrica e no meio ambiente

A conclusão de Angra 3 terá impacto direto na matriz elétrica brasileira, ampliando a oferta de energia firme, limpa e despachável — características essenciais em um contexto de crescente inserção de fontes renováveis intermitentes, como solar e eólica.

Além disso, a geração nuclear é reconhecida por sua baixa emissão de gases de efeito estufa, alinhando-se às metas de descarbonização assumidas pelo Brasil nos acordos internacionais de combate às mudanças climáticas.

“Não podemos esquecer que o mundo inteiro está discutindo segurança energética e descarbonização. A energia nuclear tem papel fundamental nesse contexto”, ressaltou Raul Lycurgo, presidente da Eletronuclear.

Próximos passos

Encerrando o debate, o deputado Júlio Lopes reforçou que a audiência é apenas o primeiro passo de uma série de discussões e articulações necessárias para destravar a conclusão da obra. A expectativa é que o governo federal apresente, nos próximos meses, um plano detalhado com prazos, custos atualizados e modelos de financiamento viáveis.

“O país não pode mais adiar essa decisão. Angra 3 não é um projeto do passado, é uma solução para o futuro energético do Brasil”, concluiu Lopes.

Destaques

Hidrogênio de Baixa Emissão Ganha Força no Brasil e se Consolida como Pilar da Transição Energética

Plano Nacional do Hidrogênio estrutura bases para desenvolvimento sustentável,...

Brasil acelera produção de biometano e reforça protagonismo global às vésperas da COP30

Unidade pioneira de biometano no interior paulista demonstra potencial...

Itaipu Realiza Teste de Black Start e Comprova Capacidade de Restabelecimento de Energia em Caso de Apagão

Operação estratégica simulou desligamento total de parte da usina...

Minas Gerais consolida liderança nacional em energia solar com 12 GW instalados

Estado atinge marca histórica, representa 40% da geração fotovoltaica...

Últimas Notícias

Consumo de energia elétrica no Brasil registra primeira queda após 27...

Queda de 0,8% em abril foi puxada pelos setores...

CCEE destaca avanço da abertura do mercado livre de energia no...

Novo modelo, que entra em vigor em julho, promete...

ANEEL propõe aumento de até 23% na tarifa de energia no...

Revisão tarifária da Equatorial Maranhão pode impactar mais de...

Governo Trump cancela US$ 3,7 bilhões em projetos de energia limpa...

Medida atinge 24 iniciativas financiadas no governo anterior, incluindo...

Nova era digital e energética: Casa dos Ventos confirma projeto de...

Iniciativa em Pecém conta com aval do ONS e...

Brasil acelera debate sobre armazenamento de energia e enfrenta desafios regulatórios...

Seminário do Ministério de Minas e Energia reúne especialistas...

Artigos Relacionados

Categorias Populares