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Integração entre gás natural e setor elétrico exige políticas públicas eficazes, dizem especialistas

Seminário no Rio de Janeiro reúne grandes players da indústria, especialistas e representantes do governo para discutir os rumos do mercado de gás no Brasil e sua importância estratégica para a segurança energética e a transição rumo à descarbonização

O desenvolvimento sustentável do mercado de gás natural brasileiro passa, inevitavelmente, pela formulação de políticas públicas robustas, consistentes e tecnicamente embasadas. Esse foi o tom predominante do Seminário de Gás Natural 2025, promovido pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), realizado nesta quarta-feira (14), no Rio de Janeiro. O evento reuniu representantes do setor produtivo, especialistas e autoridades governamentais para discutir os caminhos da cadeia do gás e sua integração com o setor elétrico e os transportes de carga e passageiros.

Abrindo os trabalhos, o economista Marcos Lisboa destacou, no painel Expert Talks, que decisões políticas equivocadas, como a Medida Provisória 579/2012 — que reduziu as tarifas de energia sem uma base técnica sólida — causaram sérios prejuízos ao setor elétrico e à macroeconomia. “Políticas mal desenhadas geram distorções. O crescimento econômico sustentável está diretamente ligado à produtividade e à adoção de tecnologias, e isso só é possível com decisões baseadas em dados”, afirmou.

Lisboa argumentou que o Brasil ainda enfrenta uma produtividade industrial baixa, o que limita seu crescimento e reduz sua competitividade global. Em sua avaliação, o gás natural pode cumprir um papel central na retomada da industrialização do país, desde que as políticas públicas incentivem investimentos e garantam previsibilidade ao setor.

Gás como vetor da reindustrialização e da transição energética

No painel sobre o futuro da demanda industrial, representantes de grandes consumidores reforçaram o papel estratégico do gás na competitividade das empresas. Leticia Garcez, da Vale, e Viviane Lichtenstein, da Suzano, destacaram o impacto dos custos do insumo nas operações e defenderam o gás como combustível essencial para a transição energética.

“Apostamos no gás natural como caminho para a descarbonização. Nosso consumo deve crescer nos próximos anos e precisamos de um mercado mais líquido e competitivo”, disse Viviane. A Suzano consome atualmente 1,5 milhão de m³/dia de gás natural em seus processos.

Transporte sustentável com gás natural e biometano

O uso de gás natural e biometano em transportes de carga e públicos também foi destaque. Laercio Ávila, CEO do Consórcio BRT de Goiânia, anunciou que até 2026 a frota da cidade contará com 500 veículos movidos a biometano. A meta é tornar o sistema um modelo de sustentabilidade urbana no país.

Já a Naturgy pretende expandir sua malha de abastecimento para veículos pesados, criando 16 novos corredores sustentáveis com investimentos previstos de R$ 300 milhões. “Temos potencial para abastecer as 37 garagens do Rio de Janeiro com gás natural, promovendo uma verdadeira revolução verde no transporte de carga”, afirmou Giselia Pontes, diretora comercial da empresa.

Gás e setor elétrico: uma integração necessária

A integração entre os setores de gás e elétrico foi apontada como fundamental para garantir segurança energética e flexibilidade ao sistema. Bernardo Folly, da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), reforçou que todos os cenários futuros traçados pela instituição contemplam o gás natural como elemento indispensável.

Ivo Nazareno, da Aneel, explicou que o uso de termelétricas a gás é estratégico para equilibrar a crescente participação das fontes intermitentes — como solar e eólica — na matriz elétrica nacional. “O gás oferece previsibilidade ao sistema. Precisamos preservar e otimizar a infraestrutura existente”, alertou Rogério Manso, da ATGás.

Investimentos e E&P: a urgência por novas reservas

Encerrando o evento, Guilherme Mourelle, diretor comercial da Galp, defendeu que o Brasil precisa intensificar os investimentos em exploração e produção (E&P) de gás natural. “A Oferta Permanente da ANP é uma alternativa viável para estimular a descoberta de novas reservas, garantindo o abastecimento e a estabilidade do mercado no longo prazo”, observou.

O seminário reforçou o papel crucial do gás natural não apenas como fonte energética, mas como catalisador para o desenvolvimento industrial, a mobilidade sustentável e a segurança elétrica. A mensagem unânime entre os participantes é clara: sem políticas públicas estruturadas, baseadas em dados técnicos e visão de longo prazo, o potencial do gás natural continuará subutilizado no Brasil.

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