Quarta-feira, Maio 14, 2025
23.9 C
Rio de Janeiro

Crise hídrica persiste e pressiona setor elétrico: térmicas em alta, PLD elevado e bandeira amarela em maio

Mesmo com previsões de chuvas pontuais em abril, reservatórios continuam em níveis críticos e governo aciona sinal de alerta com nova bandeira tarifária

O panorama do mercado de energia em abril de 2025 expõe um ambiente desafiador para o setor elétrico brasileiro, marcado por baixa disponibilidade hídrica, pressão tarifária e maior uso de geração térmica. Apesar das chuvas pontuais em algumas regiões do país, o cenário não se reverteu. Como reflexo, o governo federal anunciou, no final do mês, a bandeira tarifária amarela para maio, sinalizando aumento de custos para os consumidores e a persistência de um período crítico para o setor.

Segundo Alan Henn, engenheiro eletricista e CEO da Voltera, empresa especializada em soluções energéticas, a situação atual ainda exige atenção redobrada. “Ainda que abril tenha projeções melhores de chuva, não se espera reversão completa do cenário, que continua desafiador”, afirma.

Consumo revisado e impacto nas projeções de carga

Logo no início do mês, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) revisou suas projeções de carga até 2029, incluindo a geração estimada por usinas de micro e minigeração distribuída (MMGD). A atualização indica redução da carga a ser atendida, o que, segundo o executivo, pode influenciar positivamente os preços futuros, ao aliviar a pressão sobre o sistema.

No entanto, os impactos ainda são limitados no curto prazo. Em março, o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) – referência para transações no mercado de curto prazo – apresentou alta nos submercados Sudeste/Centro-Oeste e Sul, atingindo média de R$ 327/MWh, impulsionada pelo agravamento do cenário hidrológico. Em contrapartida, os submercados Norte e Nordeste mantiveram o PLD no piso regulatório de R$ 58,60/MWh, demonstrando certa resiliência naquelas regiões.

Até 21 de abril, a média do PLD nacional recuou para R$ 201/MWh, ainda elevada. Apesar disso, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) manteve a bandeira verde para o mês, decisão que foi revertida com a chegada de maio, diante do agravamento das condições de geração.

Início do período seco e risco hídrico

A principal preocupação do setor recai sobre o início do período seco, que se estende até outubro. Os níveis dos reservatórios do Sistema Interligado Nacional (SIN) continuam similares aos de 2024, ano marcado por um período úmido fraco. A Energia Natural Afluente (ENA) em março foi especialmente reduzida, impactada por zonas de alta pressão sobre o território nacional, o que comprometeu a formação de chuvas.

As previsões climáticas para abril divergiram: enquanto o modelo GFS, dos Estados Unidos, previu chuvas acima da média em boa parte do país, o modelo europeu ECMWF indicou volumes elevados apenas em áreas específicas, revelando incerteza meteorológica típica de períodos de transição climática, como o fim do fenômeno La Niña e a atuação da Oscilação Antártica.

Geração térmica assume protagonismo

Com o avanço da estiagem e o consumo oscilando ao longo do mês, a geração térmica ganhou destaque, operando na base do sistema. “O balanço energético reforça a importância das térmicas para garantir a segurança do suprimento, especialmente quando a geração hídrica é insuficiente”, explica Henn.

Enquanto isso, a geração solar obteve bom desempenho, atingindo picos de 24 GW durante horários de maior incidência solar. Já a geração eólica enfrentou dificuldades no Nordeste, impactada por condições meteorológicas adversas. A hidrelétrica, tradicionalmente a base do sistema, atuou de forma complementar, principalmente no horário de ponta, após as 19h, quando o sol já não contribui para a matriz.

Tendências regulatórias e mercado futuro

A volatilidade dos preços também se reflete no mercado de contratos futuros. As negociações para 2026 mantiveram tendência de alta durante março, com leve recuo após a divulgação da revisão da carga do ONS. Mesmo assim, o mercado segue cauteloso.

No campo regulatório, a ANEEL e o governo federal discutem atualizações importantes, como a revisão dos limites mínimo e máximo do PLD, além de mudanças em subsídios e políticas de autoprodução, com o objetivo de realinhar os custos da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e garantir maior sustentabilidade financeira ao sistema elétrico.

Perspectivas e desafios

Com a chegada do período seco e a necessidade de manter a confiabilidade do sistema, o uso de usinas térmicas e outras fontes complementares tende a se intensificar nos próximos meses. O acionamento da bandeira tarifária amarela em maio antecipa esse cenário e acende o alerta para os impactos na conta de luz dos consumidores e nos custos das empresas.

Enquanto isso, os agentes do setor observam com atenção a evolução das variáveis climáticas, hidrológicas e econômicas, em um contexto de transição energética que exige resiliência e adaptação constante.

Destaques

Brasil amplia geração solar com nove novas usinas da parceria BYD e JV Gera + Raízen

Projetos instalados em quatro estados somam 59 milhões de...

MME e Petrobras alinham estratégias para impulsionar o mercado nacional de biometano

Reunião entre o Ministério de Minas e Energia e...

Sungrow lança campanha nacional e posiciona o inversor como o “coração da energia solar” no Brasil

Com destaque durante a Intersolar Nordeste 2025, nova campanha...

Canadian Solar lança plataforma de capacitação técnica para integradores solares no Brasil

Com treinamentos exclusivos, suporte técnico direto e certificação oficial,...

ES Gás inicia injeção de biometano na rede e inaugura nova era energética no Espírito Santo

Projeto pioneiro conecta planta de resíduos urbanos à rede...

Últimas Notícias

FUCHS investe R$ 220 milhões em nova fábrica em Sorocaba para...

Nova planta, cinco vezes maior que a atual unidade...

Serena Energia caminha para fechamento de capital em oferta liderada por...

OPA de R$ 11,74 por ação inclui prêmio sobre...

Brasil amplia geração solar com nove novas usinas da parceria BYD...

Projetos instalados em quatro estados somam 59 milhões de...

FGV Direito Rio lança curso sobre Regulação e Mercado de Carbono...

Voltado a advogados, gestores públicos e especialistas em sustentabilidade,...

MME e Petrobras alinham estratégias para impulsionar o mercado nacional de...

Reunião entre o Ministério de Minas e Energia e...

Artigos Relacionados

Categorias Populares