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Crise hídrica persiste e pressiona setor elétrico: térmicas em alta, PLD elevado e bandeira amarela em maio

Crise hídrica persiste e pressiona setor elétrico: térmicas em alta, PLD elevado e bandeira amarela em maio

Mesmo com previsões de chuvas pontuais em abril, reservatórios continuam em níveis críticos e governo aciona sinal de alerta com nova bandeira tarifária

O panorama do mercado de energia em abril de 2025 expõe um ambiente desafiador para o setor elétrico brasileiro, marcado por baixa disponibilidade hídrica, pressão tarifária e maior uso de geração térmica. Apesar das chuvas pontuais em algumas regiões do país, o cenário não se reverteu. Como reflexo, o governo federal anunciou, no final do mês, a bandeira tarifária amarela para maio, sinalizando aumento de custos para os consumidores e a persistência de um período crítico para o setor.

Segundo Alan Henn, engenheiro eletricista e CEO da Voltera, empresa especializada em soluções energéticas, a situação atual ainda exige atenção redobrada. “Ainda que abril tenha projeções melhores de chuva, não se espera reversão completa do cenário, que continua desafiador”, afirma.

Consumo revisado e impacto nas projeções de carga

Logo no início do mês, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) revisou suas projeções de carga até 2029, incluindo a geração estimada por usinas de micro e minigeração distribuída (MMGD). A atualização indica redução da carga a ser atendida, o que, segundo o executivo, pode influenciar positivamente os preços futuros, ao aliviar a pressão sobre o sistema.

No entanto, os impactos ainda são limitados no curto prazo. Em março, o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) – referência para transações no mercado de curto prazo – apresentou alta nos submercados Sudeste/Centro-Oeste e Sul, atingindo média de R$ 327/MWh, impulsionada pelo agravamento do cenário hidrológico. Em contrapartida, os submercados Norte e Nordeste mantiveram o PLD no piso regulatório de R$ 58,60/MWh, demonstrando certa resiliência naquelas regiões.

Até 21 de abril, a média do PLD nacional recuou para R$ 201/MWh, ainda elevada. Apesar disso, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) manteve a bandeira verde para o mês, decisão que foi revertida com a chegada de maio, diante do agravamento das condições de geração.

Início do período seco e risco hídrico

A principal preocupação do setor recai sobre o início do período seco, que se estende até outubro. Os níveis dos reservatórios do Sistema Interligado Nacional (SIN) continuam similares aos de 2024, ano marcado por um período úmido fraco. A Energia Natural Afluente (ENA) em março foi especialmente reduzida, impactada por zonas de alta pressão sobre o território nacional, o que comprometeu a formação de chuvas.

As previsões climáticas para abril divergiram: enquanto o modelo GFS, dos Estados Unidos, previu chuvas acima da média em boa parte do país, o modelo europeu ECMWF indicou volumes elevados apenas em áreas específicas, revelando incerteza meteorológica típica de períodos de transição climática, como o fim do fenômeno La Niña e a atuação da Oscilação Antártica.

Geração térmica assume protagonismo

Com o avanço da estiagem e o consumo oscilando ao longo do mês, a geração térmica ganhou destaque, operando na base do sistema. “O balanço energético reforça a importância das térmicas para garantir a segurança do suprimento, especialmente quando a geração hídrica é insuficiente”, explica Henn.

Enquanto isso, a geração solar obteve bom desempenho, atingindo picos de 24 GW durante horários de maior incidência solar. Já a geração eólica enfrentou dificuldades no Nordeste, impactada por condições meteorológicas adversas. A hidrelétrica, tradicionalmente a base do sistema, atuou de forma complementar, principalmente no horário de ponta, após as 19h, quando o sol já não contribui para a matriz.

Tendências regulatórias e mercado futuro

A volatilidade dos preços também se reflete no mercado de contratos futuros. As negociações para 2026 mantiveram tendência de alta durante março, com leve recuo após a divulgação da revisão da carga do ONS. Mesmo assim, o mercado segue cauteloso.

No campo regulatório, a ANEEL e o governo federal discutem atualizações importantes, como a revisão dos limites mínimo e máximo do PLD, além de mudanças em subsídios e políticas de autoprodução, com o objetivo de realinhar os custos da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e garantir maior sustentabilidade financeira ao sistema elétrico.

Perspectivas e desafios

Com a chegada do período seco e a necessidade de manter a confiabilidade do sistema, o uso de usinas térmicas e outras fontes complementares tende a se intensificar nos próximos meses. O acionamento da bandeira tarifária amarela em maio antecipa esse cenário e acende o alerta para os impactos na conta de luz dos consumidores e nos custos das empresas.

Enquanto isso, os agentes do setor observam com atenção a evolução das variáveis climáticas, hidrológicas e econômicas, em um contexto de transição energética que exige resiliência e adaptação constante.

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