Sexta-feira, Maio 9, 2025
23.9 C
Rio de Janeiro

Planejamento espacial marinho: governo federal prepara restrições para eólicas offshore e reacende debate sobre impactos socioambientais

Ministra Marina Silva afirma que transição energética exige regras claras para preservar biodiversidade e comunidades costeiras; proposta será integrada a novo plano nacional de uso do mar

Com o avanço acelerado de projetos de energia renovável em território nacional, o governo federal decidiu lançar um alerta sobre os possíveis efeitos da expansão desordenada das eólicas offshore — turbinas instaladas em alto-mar. A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou nesta segunda-feira (5), durante entrevista ao programa Bom Dia, que o país está elaborando um planejamento espacial marinho com o objetivo de disciplinar a ocupação de áreas oceânicas por esses empreendimentos.

Segundo Marina, a instalação das eólicas deve respeitar critérios técnicos, ambientais e sociais rigorosos. A medida envolve cooperação entre o Ministério do Meio Ambiente, a Marinha do Brasil e o Ministério da Defesa, e tem como foco proteger rotas de navegação, zonas de segurança nacional, áreas de preservação ambiental e o modo de vida de comunidades litorâneas.

“Estamos construindo um conjunto de regras para que os impactos dessas estruturas sejam minimizados. É uma medida de precaução para garantir que o uso do espaço marítimo não resulte em conflitos com outras atividades essenciais, nem prejudique a biodiversidade”, afirmou a ministra.

Energias renováveis e justiça climática

Embora sejam vistas como indispensáveis à transição energética e à redução das emissões de gases de efeito estufa, as eólicas offshore não estão isentas de questionamentos. Marina Silva destacou que o novo ciclo de investimentos em energias renováveis deve vir acompanhado de justiça climática, conceito que defende a repartição equitativa dos benefícios e dos riscos da transformação energética.

A ministra citou casos em que comunidades litorâneas já relataram impactos negativos causados por turbinas instaladas em terra firme, como ruído excessivo, alterações na dinâmica social e psicológica das populações locais e prejuízos à pesca artesanal.

“Se nas áreas terrestres os efeitos já são perceptíveis, no mar o cuidado precisa ser ainda maior. Precisamos garantir que nenhuma região sensível seja afetada e que os benefícios dessa energia limpa cheguem a todos”, enfatizou.

Marco legal está em vigor, mas governo quer mais diretrizes

A manifestação da ministra ocorre mesmo após a sanção da Lei nº 15.097, em janeiro de 2025, que criou o marco legal para a exploração de energia eólica offshore no Brasil. Aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada parcialmente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a legislação estabelece diretrizes para concessão de áreas marítimas, bem como salvaguardas ambientais e contrapartidas econômicas.

No entanto, durante a tramitação da lei, emendas parlamentares tentaram ampliar os incentivos também a fontes fósseis, como carvão e gás natural. Essas emendas acabaram vetadas pelo Executivo, com base em estudos técnicos que apontavam um potencial aumento de até 252 milhões de toneladas de CO₂ até 2050 e um impacto financeiro de R$ 658 bilhões — o que poderia elevar a conta de luz em até 11%.

“Não podemos regredir nos compromissos climáticos assumidos pelo Brasil. Esse processo precisa ser conduzido com responsabilidade, transparência e planejamento”, defendeu Marina.

Metas de descarbonização no horizonte

Segundo Marina Silva, todas as áreas do governo estão empenhadas em alcançar a meta de reduzir entre 59% e 67% das emissões brasileiras de gases de efeito estufa até 2035, em linha com o Acordo de Paris. A expansão da energia eólica offshore é considerada estratégica nesse processo, mas precisa ser acompanhada de responsabilidade ambiental e social.

“Planejamento, escuta das comunidades e respeito à biodiversidade são elementos centrais para uma transição energética justa. O Brasil pode ser referência, mas isso exige diálogo, regulação e compromisso com o futuro”, concluiu.

Com o avanço do planejamento espacial marinho, o país busca encontrar o equilíbrio entre inovação energética e preservação ambiental — um desafio que exige soluções técnicas e sensibilidade social para garantir que o progresso não venha à custa da natureza e das pessoas.

Destaques

Estudo da Deloitte revela expansão histórica da energia solar e projeta crescimento estratégico para renováveis em 2025

Relatório global mostra que energia solar superou fontes hidrelétrica...

Integração do biometano à cadeia do gás natural é tema de estudo estratégico da EPE

Documento técnico detalha alternativas para viabilizar o escoamento do...

Brasil perde posição no ranking global de geração solar em 2024 apesar de recorde de capacidade instalada

Relatório da SolarPower Europe aponta crescimento de apenas 21%...

EPE aprova projeto estratégico de gás natural na Bahia e inaugura nova fase do Programa Gás para Empregar

Primeira análise técnica no escopo do novo decreto viabiliza...

Automa anuncia parceria estratégica com Mtech Group e acelera expansão internacional no setor de energia renovável

Aliança comercial com foco em digitalização e eficiência energética...

Últimas Notícias

Investimento desigual ameaça metas globais de energia renovável e expõe fragilidade...

Com apenas 10% dos investimentos em energia renovável destinados...

ARGO Energia avança na digitalização do setor elétrico com monitoramento climático...

Projeto pioneiro com a Climatempo instala estações meteorológicas em...

Emissões de metano seguem elevadas apesar de avanços em transparência e...

Relatório Global Methane Tracker 2025 revela que medidas de...

ONS e CCEE realizam novo Workshop sobre o Sandbox Regulatório de...

Instituições promoverão novo workshop sobre o assunto na quarta-feira...

Rio AI City: Brasil lança megaprojeto de data centers verdes com...

Elea Data Centers anuncia empreendimento bilionário no Rio de...

Artigos Relacionados

Categorias Populares