Com mais de 55 mil novas usinas apenas em março, modalidade consolida papel estratégico na transição energética e já soma 38,4 GW de potência instalada no país
A expansão da geração distribuída no Brasil atingiu um novo patamar no primeiro trimestre de 2025. Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) revelam que, de janeiro a março, foram adicionados 2,13 gigawatts (GW) de potência à matriz elétrica por meio da instalação de sistemas de micro e minigeração distribuída (MMGD), número que reforça a consolidação do modelo como pilar fundamental na transição energética brasileira.
Somente em março, mais de 55 mil novas usinas foram conectadas à rede de distribuição elétrica, com acréscimo de 584,36 megawatts (MW) em potência instalada. A maior parte dessas novas instalações é composta por sistemas solares fotovoltaicos, segmento que permanece como o principal vetor de crescimento da geração descentralizada no país. Também foram conectadas uma usina eólica e uma termelétrica movida a biogás de resíduos sólidos urbanos, mostrando o potencial da diversificação de fontes dentro do modelo de MMGD.
Segundo os dados atualizados da ANEEL, disponíveis em seu painel interativo, as novas conexões passaram a gerar créditos de energia para cerca de 300 mil unidades consumidoras, incluindo residências, comércios, propriedades rurais e empreendimentos industriais. Isso significa mais autonomia para os consumidores e, ao mesmo tempo, alívio para o sistema interligado nacional, que enfrenta desafios crescentes em função das mudanças climáticas e do aumento da demanda elétrica.
São Paulo lidera a expansão da MMGD
No ranking por estados, São Paulo desponta como líder em número de novas conexões e potência adicionada no trimestre, com 31.616 novas usinas e 273,88 MW instalados. Goiás aparece em segundo lugar em potência, com 223,29 MW, seguido por Minas Gerais, com 205,52 MW. Em número de instalações, Minas também se destacou, ocupando a segunda colocação, com 16.793 novas usinas, enquanto o Mato Grosso ficou em terceiro, com 14.864 conexões.
Esse avanço regional reflete a capilaridade do modelo de geração distribuída, que permite o acesso à geração renovável em pequenos centros urbanos e áreas rurais, contribuindo para o desenvolvimento local e a democratização da energia.
Brasil já tem 38,4 GW em geração distribuída
Até o dia 31 de março de 2025, o país contabilizava 3,4 milhões de sistemas de MMGD conectados à rede de distribuição, com potência instalada total de 38,44 GW. O perfil predominante entre os geradores é o consumidor residencial, responsável por 80% das instalações (2,7 milhões de sistemas). O comércio representa 10% (cerca de 341 mil sistemas), enquanto a classe rural responde por 8,6% das conexões (cerca de 293 mil).
Esses dados indicam uma adesão crescente de diferentes perfis de consumidores, que encontram na geração própria uma alternativa para reduzir custos, proteger-se contra aumentos tarifários e contribuir com a descarbonização da economia.
Por que a ANEEL separa geração centralizada e distribuída?
A ANEEL esclarece que não soma os dados de geração distribuída aos da geração centralizada por conta das diferenças estruturais e operacionais entre os dois modelos. Enquanto a geração centralizada — formada por grandes usinas hidrelétricas, térmicas, solares e eólicas — atua no mercado regulado ou livre, por meio da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), a geração distribuída é voltada prioritariamente ao autoconsumo.
Por meio do Sistema de Compensação de Energia Elétrica (SCEE), o consumidor que produz sua própria energia injeta na rede o excedente gerado e recebe créditos que podem ser utilizados em até 60 meses, abatendo o consumo registrado na conta de luz. Essa dinâmica favorece o equilíbrio do sistema, reduz perdas técnicas e incentiva o uso eficiente da energia.
O papel da MMGD na transição energética
O crescimento da MMGD tem impactos diretos no avanço da transição energética brasileira, promovendo uma matriz elétrica mais limpa, descentralizada e resiliente. O protagonismo do consumidor, que passa a ser também gerador, representa uma mudança estrutural no setor elétrico, com efeitos positivos sobre a sustentabilidade ambiental e a segurança energética.
Além disso, o aumento da MMGD contribui para reduzir os custos sistêmicos, mitigar emissões de carbono e fortalecer a diversificação da matriz, com destaque para a energia solar — que já é a segunda maior fonte do país, atrás apenas da hidrelétrica.
Com o atual ritmo de crescimento, a expectativa é que a geração distribuída ultrapasse a marca de 50 GW de potência instalada nos próximos dois anos, consolidando-se como um dos pilares da nova configuração energética nacional.