CEO da Eccaplan defende transparência, tecnologia e padrões nacionais para garantir integridade e ampliar o impacto social da venda de créditos de carbono no país
Em um momento de ascensão do mercado de créditos de carbono no Brasil, especialistas do setor começam a apontar desafios fundamentais para garantir a credibilidade e a expansão sustentável desse mecanismo. Um deles é Fernando Beltrame, CEO da Eccaplan, consultoria especializada em sustentabilidade corporativa, que defende maior transparência e acessibilidade no processo de geração e comercialização dos créditos.
“Sem transparência, o mercado de carbono perde sua principal moeda: a confiança”, afirma Beltrame. Para o executivo, é urgente que o Brasil avance na rastreabilidade das transações, adotando tecnologias como blockchain e plataformas públicas de monitoramento que permitam verificar, de forma simples e segura, a origem e o impacto ambiental e social dos créditos negociados.
O alerta não é infundado. Relatórios recentes da BloombergNEF apontam que o mercado voluntário global de carbono movimentou mais de US$ 2 bilhões em 2023, mas sofre com desconfiança, principalmente por falhas na rastreabilidade e denúncias de dupla contagem — quando um mesmo crédito é contabilizado mais de uma vez.
Para Beltrame, o Brasil tem uma oportunidade única de se destacar pela integridade e confiabilidade dos seus créditos. “Se formos referência em integridade, tecnologia e impacto social, deixamos de ser apenas fornecedores de natureza e nos tornamos protagonistas da transição climática”, avalia.
Tecnologia e padrões nacionais como caminhos para ampliar o acesso
Uma das maiores críticas feitas por Fernando Beltrame diz respeito à exclusão de pequenos e médios projetos socioambientais do mercado de carbono. Segundo ele, os altos custos de certificação internacional tornam inviável a participação de comunidades tradicionais, agricultores familiares e pequenas cooperativas ambientais, que muitas vezes executam projetos de alto impacto, mas ficam à margem do sistema.
“O custo de validação por um padrão global pode ultrapassar R$ 1 milhão. Isso é absolutamente inacessível para a maioria dos projetos brasileiros. Estamos desperdiçando um potencial enorme de gerar impacto social aliado à proteção ambiental”, afirma.
Para contornar esse cenário, o CEO da Eccaplan defende o fortalecimento de padrões nacionais de certificação, como o Carbon Fair Standard, voltado justamente para democratizar o acesso ao mercado de carbono. A proposta é criar mecanismos mais acessíveis, que mantenham a integridade técnica dos créditos, mas com custos e processos proporcionais à realidade brasileira.
Além disso, o uso de tecnologias de rastreamento pode facilitar a fiscalização e aumentar a confiabilidade do mercado. A implementação de sistemas baseados em blockchain, por exemplo, permitiria que cada crédito fosse vinculado a um projeto específico, com dados públicos e imutáveis sobre a origem, validade e métricas de impacto.
Rumo a um mercado de carbono mais justo e estratégico
O debate sobre a qualidade e a integridade dos créditos de carbono tem ganhado destaque à medida que o Brasil se posiciona como um dos maiores fornecedores globais desse ativo ambiental. Com sua ampla cobertura florestal, biodiversidade e uma matriz energética já majoritariamente renovável, o país reúne condições naturais para liderar esse mercado.
No entanto, sem instrumentos que garantam transparência, rastreabilidade e inclusão, o crescimento pode ser limitado ou desacreditado. Para Beltrame, essa é a hora do Brasil investir em governança, regulação e inovação tecnológica para criar um ambiente de negócios confiável e acessível.
“A credibilidade será o principal diferencial competitivo dos países no mercado de carbono. Se quisermos atrair investimentos de impacto, precisamos mostrar que nossos créditos são reais, auditáveis e socialmente transformadores”, conclui.