Nova tecnologia pode colocar o Brasil na vanguarda da mobilidade sustentável, reduzindo emissões e aproveitando a infraestrutura existente de etanol
O setor automotivo está em uma corrida para encontrar alternativas mais sustentáveis ao uso de combustíveis fósseis. No Brasil, uma nova solução ganha destaque: o uso do etanol como fonte de hidrogênio para veículos elétricos. Essa tecnologia, que combina eficiência energética com redução de emissões de carbono, pode transformar a mobilidade e colocar o país na liderança dessa inovação.
O professor de Engenharia Mecânica da FEI, Cleber Willian Gomes, explica que essa alternativa pode ser uma solução viável para a transição energética no setor de transportes. O hidrogênio gerado a partir do etanol pode abastecer células de combustível, produzindo eletricidade para os veículos de forma limpa e eficiente. Diferente do hidrogênio puro, que demanda uma infraestrutura complexa para armazenamento e transporte, o etanol já possui uma rede de distribuição consolidada no Brasil, tornando essa inovação mais acessível e prática.
A grande vantagem desse modelo é a redução significativa de emissões de CO₂. Ao contrário dos combustíveis fósseis, o etanol tem um ciclo de carbono mais equilibrado, pois sua produção a partir da cana-de-açúcar e outras biomassas absorve CO₂ da atmosfera. Isso significa que, mesmo com emissões durante a conversão do etanol em hidrogênio, o impacto ambiental é muito menor do que o dos combustíveis tradicionais.
Brasil: potencial para liderar essa inovação
O Brasil já ocupa a posição de segundo maior produtor mundial de etanol, o que coloca o país em uma posição estratégica para desenvolver e exportar essa tecnologia. Além de fortalecer a indústria nacional de biocombustíveis, a adoção dessa inovação pode gerar novas oportunidades econômicas e reduzir a dependência de combustíveis fósseis importados.
Outro fator que favorece essa solução é a infraestrutura já existente de distribuição de etanol. Ao contrário dos carros elétricos tradicionais, que dependem de estações de carregamento e tempo de recarga prolongado, os veículos movidos a hidrogênio gerado a partir do etanol poderiam ser abastecidos em postos comuns, com a mesma rapidez dos veículos convencionais. Isso elimina um dos principais desafios da eletrificação da frota: a limitação da infraestrutura de recarga.
Além disso, a tecnologia pode ter um impacto expressivo na redução da poluição urbana, principalmente se aplicada a frotas de ônibus e caminhões, que atualmente são grandes responsáveis pelas emissões de poluentes em cidades brasileiras. Como as células de combustível geram eletricidade sem combustão, o único subproduto desse processo é vapor d’água, contribuindo para um ar mais limpo nos centros urbanos.
Desafios e perspectivas para a adoção em larga escala
Apesar do potencial promissor, ainda existem desafios técnicos que precisam ser superados antes que essa solução se torne amplamente adotada. O principal obstáculo, segundo o professor Cleber, é a necessidade de aprimorar os reformadores de etanol – dispositivos que convertem o etanol em hidrogênio dentro dos veículos. Para que essa tecnologia se torne viável comercialmente, esses sistemas precisam ser mais eficientes, compactos e acessíveis.
A viabilidade financeira também será um fator determinante. Embora o etanol já seja amplamente utilizado no Brasil, será necessário um investimento significativo para que essa inovação ganhe escala e se torne competitiva em relação a outras soluções de mobilidade sustentável, como os veículos elétricos a bateria.
Ainda assim, especialistas acreditam que, com incentivos adequados e investimentos em pesquisa e desenvolvimento, essa tecnologia pode ser implementada com sucesso nos próximos anos. O Brasil tem todas as condições para se tornar referência nessa inovação, aproveitando sua expertise na produção de etanol e sua infraestrutura consolidada para impulsionar essa transformação no setor de transportes.
Se bem-sucedida, essa alternativa pode não apenas reduzir o impacto ambiental do transporte brasileiro, mas também abrir um novo mercado global para o país, posicionando o etanol como uma peça-chave na transição para um futuro energético mais sustentável.