Especialistas discutem desafios e oportunidades das usinas reversíveis para garantir segurança e eficiência na matriz elétrica
A crescente inserção de fontes renováveis variáveis, como solar e eólica, exige soluções que garantam maior previsibilidade e estabilidade ao sistema elétrico brasileiro. Uma das alternativas mais promissoras nesse cenário é o armazenamento hidráulico, especialmente por meio das usinas hidrelétricas reversíveis. A tecnologia, amplamente utilizada em países como China, Estados Unidos e Alemanha, foi o tema central do seminário “Sistemas de Armazenamento Hidráulico”, promovido pelo Ministério de Minas e Energia (MME) na última quinta-feira (20/03), em Brasília.
O evento reuniu especialistas, reguladores e representantes de grandes players do setor para debater os desafios regulatórios, de planejamento e operacionais dessa tecnologia. Foram discutidas, ainda, as experiências internacionais e a necessidade de um marco regulatório claro para viabilizar investimentos na área.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, destacou a importância do armazenamento hidráulico para a segurança energética do país. “A tecnologia evoluiu e o armazenamento por meio das usinas reversíveis está no centro desse debate. Precisamos compreender esse cenário e os desafios regulatórios para garantir sua viabilidade e integração ao nosso sistema elétrico”, afirmou.
O papel estratégico das usinas reversíveis
As usinas hidrelétricas reversíveis operam bombeando água para um reservatório superior durante períodos de baixa demanda e liberando-a para geração de energia nos momentos de pico. Essa dinâmica permite armazenar energia excedente e utilizá-la quando necessário, garantindo maior equilíbrio e flexibilidade ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
O secretário Nacional de Transição Energética e Planejamento, Thiago Barral, ressaltou que a busca por fontes de potência e flexibilidade é essencial para o futuro do setor elétrico brasileiro. “Cada vez mais precisamos olhar para soluções inovadoras que possibilitem a integração das fontes renováveis ao sistema elétrico de forma segura e confiável”, comentou.
O primeiro painel do evento contou com a participação de representantes da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), que apresentaram a visão das instituições do setor elétrico sobre a adoção da tecnologia.
Já o segundo painel trouxe a visão do setor privado e de associações internacionais, como a Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica (ABRAGE), a Associação Internacional de Energia Hidrelétrica (IHA), a China Three Gorges (CTG) e a Neoenergia/Iberdrola. Os debates ressaltaram as vantagens estratégicas das usinas reversíveis e os desafios regulatórios que precisam ser superados para que a tecnologia seja implementada em larga escala no Brasil.
Armazenamento hidráulico e a transição energética
A importância dos sistemas de armazenamento se torna ainda mais evidente no contexto da transição energética. A ampliação da geração de energia eólica e solar requer soluções que garantam a estabilidade da matriz elétrica, evitando oscilações de oferta e demanda.
A participação da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) no seminário reforçou a necessidade de estratégias inovadoras e alinhadas às diretrizes de segurança energética. O presidente da instituição, Thiago Prado, e outros especialistas da EPE enfatizaram a importância do alinhamento entre os benefícios da transição energética e os desafios regulatórios e técnicos que precisam ser superados.
O evento destacou que, para que o Brasil aproveite plenamente o potencial dessa tecnologia, será necessário avançar em políticas públicas e regulamentações específicas, além de incentivar investimentos em projetos-piloto para testar a viabilidade das usinas reversíveis no contexto brasileiro.
Perspectivas para o futuro
A adoção de usinas hidrelétricas reversíveis no Brasil tem potencial para se tornar um divisor de águas no setor elétrico, garantindo mais segurança ao sistema e viabilizando a expansão das fontes renováveis. No entanto, os desafios regulatórios e técnicos ainda são expressivos, e sua implementação dependerá de um trabalho conjunto entre governo, agentes reguladores e setor privado.
O seminário promovido pelo MME representou um passo importante para aprofundar o debate e buscar soluções que permitam ao Brasil se manter na vanguarda da inovação energética. O armazenamento hidráulico pode ser a chave para garantir uma matriz elétrica cada vez mais sustentável, eficiente e segura.