Infraestrutura baseada em barcaças promete eletricidade limpa para operações portuárias, acelerando a descarbonização do setor marítimo
A energia nuclear pode estar prestes a transformar a infraestrutura portuária nos Estados Unidos. A empresa CORE POWER (US) Inc. e a Glosten, especializada em engenharia naval, anunciaram um projeto inovador: a criação de uma usina nuclear flutuante (FNPP, na sigla em inglês) para fornecer eletricidade livre de emissões de carbono a portos do país.
Baseado em uma estrutura modular instalada sobre barcaças, o sistema poderá ser facilmente transportado e implantado em diferentes locais, oferecendo uma solução flexível para a eletrificação de operações portuárias, guindastes, veículos de carga e navios ancorados. Segundo projeções, a usina será capaz de gerar 175 GWh de energia limpa por ano, reduzindo significativamente a necessidade de combustíveis fósseis nas instalações marítimas.
A parceria entre as duas empresas visa não apenas o desenvolvimento técnico da FNPP, mas também a criação de um caminho regulatório para sua implementação, garantindo segurança operacional e viabilidade econômica para o projeto.
Energia Nuclear nos Portos: um Passo para a Descarbonização
A busca por fontes de energia mais limpas e eficientes se tornou prioridade no setor portuário global. O aumento da eletrificação das operações e a necessidade de reduzir emissões fazem da energia nuclear uma alternativa viável para fornecer eletricidade estável e de baixo carbono.
“A indústria marítima passou por um grande impulso para descarbonizar, e o FNPP da CORE POWER oferece um meio eficaz e prático para atender a essa demanda”, afirma Morgan Fanberg, CEO da Glosten.
A iniciativa se inspira em experiências anteriores, como o Sturgis, primeira usina nuclear flutuante instalada no Canal do Panamá em 1968. No entanto, a tecnologia avançou consideravelmente desde então, permitindo o desenvolvimento de soluções mais seguras, compactas e economicamente viáveis.
A energia nuclear no mar tem sido utilizada principalmente em submarinos e navios de guerra desde os anos 1950, mas sua aplicação em infraestruturas comerciais está se tornando cada vez mais viável. O projeto da CORE POWER busca ampliar essa tecnologia para eletrificar portos e indústrias costeiras, eliminando a dependência de fontes poluentes.
“A fissão nuclear é um processo bem compreendido e praticado. Ela nos permite acessar um enorme recurso energético de forma segura, confiável e sob demanda, sem emitir gases de efeito estufa”, explica Mikal Bøe, CEO da CORE POWER.
Vantagens do FNPP e Infraestrutura Modular
O grande diferencial das usinas nucleares flutuantes é sua capacidade de reduzir custos de construção civil. Segundo estudos do setor, cerca de 80% dos gastos com energia nuclear terrestre vêm da infraestrutura física. A fabricação em estaleiros, com montagem modular em série, pode acelerar a implementação e baratear a energia gerada.
A barcaça projetada pela CORE POWER será desenvolvida para garantir alta segurança e flexibilidade operacional, permitindo que a usina seja realocada conforme a demanda energética dos portos.
Outro benefício do FNPP é a autonomia energética. Diferente de fontes intermitentes, como solar e eólica, a energia nuclear fornece eletricidade contínua e confiável, essencial para operações portuárias que não podem ser interrompidas.
A fase atual do projeto se concentra no desenvolvimento do conceito, incluindo análises de risco e estudos regulatórios. O local exato onde a usina será instalada ainda não foi divulgado, mas as empresas afirmam que a implantação deve ocorrer em um porto no sul dos Estados Unidos.
Desafios e Próximos Passos
Embora a proposta seja promissora, o uso da energia nuclear ainda enfrenta barreiras regulatórias e desafios na aceitação pública. A equipe da Glosten está trabalhando para navegar pelo ambiente regulatório e garantir que o projeto atenda a padrões de segurança rigorosos.
“Estamos adotando uma abordagem completa e deliberada, garantindo que estamos realizando avaliações baseadas em risco para maximizar a segurança. De certa forma, o FNPP é o projeto perfeito para nós, pois combina inovação tecnológica com impacto ambiental positivo”, conclui Fanberg.
Com os avanços esperados nos próximos anos, o FNPP da CORE POWER pode se tornar um modelo global para eletrificação de portos, ajudando a transformar um dos setores mais poluentes do mundo em um exemplo de sustentabilidade.