Usina nuclear brasileira alcança o segundo melhor desempenho de sua história e destaca necessidade de concluir Angra 3 para garantir segurança energética
A usina nuclear Angra 2 encerrou seu vigésimo ciclo de operação com uma disponibilidade de 99,4%, marcando o segundo melhor resultado desde sua inauguração. Este desempenho destaca a estabilidade e confiabilidade da geração nuclear no Brasil, especialmente em um ano de seca severa, onde a geração de base, que não depende de fatores climáticos, se mostrou essencial para o sistema elétrico nacional. O único ciclo que superou o atual foi o 13º, em 2016, com um fator de capacidade de 99,5%.
Localizada em Angra dos Reis, na Costa Verde do Rio de Janeiro, Angra 2 tem capacidade para operar continuamente, fornecendo energia ao Sistema Interligado Nacional (SIN) 24 horas por dia, durante todos os dias do ano. A alta disponibilidade e eficiência da usina no último ciclo reforçam a importância de fontes de energia estáveis, como a nuclear, especialmente em períodos de instabilidade hídrica que afetam outras formas de geração, como as hidrelétricas.
O presidente da Eletronuclear, Raul Lycurgo, ressaltou o papel essencial da usina neste cenário. “Essa marca deve ser valorizada não apenas pela Eletronuclear ou pelos profissionais brilhantes de Angra 2, mas por todo o país. No ano em que o Brasil viveu a maior seca da história, que afetou diretamente o fornecimento de energia, ter uma fonte de base com entrega constante se torna fundamental para minimizar os impactos à população,” afirmou Lycurgo. Ele também reforçou a importância da energia nuclear para garantir a segurança energética, mencionando a necessidade de avançar com a conclusão de Angra 3.
Confiabilidade Operacional e o Processo AP913
Um ciclo de operação de uma usina nuclear representa o período entre as paradas programadas para recarregar e substituir os elementos combustíveis do reator. Em Angra 2, cada ciclo dura aproximadamente 365 dias, operando com 100% de potência (1.350 MW). A usina registrou um fator de capacidade de 99,4%, o que significa que, ao longo do último ciclo, entregou cerca de 1.340 MW médios ao sistema elétrico diariamente, mantendo quase total eficiência.
Esse resultado expressivo se deve, em parte, à implementação do processo de confiabilidade AP913, um método desenvolvido pelo Institute of Nuclear Power Operation (INPO) e adotado por Angra 2 em 2017. Este processo abrange seis áreas principais: definição e monitoramento de componentes críticos, ações corretivas, melhoria contínua, planejamento de longo prazo, manutenção preventiva e gerenciamento do ciclo de vida dos equipamentos.
Fabiano Portugal, superintendente de Angra 2, destacou os benefícios do processo AP913. “Angra 2 sempre teve alta performance. No entanto, adquirimos uma maior experiência operacional com a implantação de processos e aprendizados compartilhados com a indústria nuclear mundial. Operamos dentro dos padrões de segurança internacionais, e a principal finalidade das paradas de manutenção é garantir a segurança dos trabalhadores, da população e do meio ambiente,” explicou Portugal.
Perspectivas para Angra 3 e Benefícios da Expansão Nuclear
O excelente desempenho de Angra 2 reforça a urgência em concluir Angra 3, a “irmã gêmea” da segunda usina nuclear brasileira, que teria uma capacidade ainda maior de geração, de 1.405 MW. Com o projeto 66% concluído, a retomada das obras depende da decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que avalia os estudos de viabilidade técnica, econômica e jurídica entregues pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) à Eletronuclear.
Esses estudos apresentam a tarifa de R$ 653,31 por MWh como viável e apontam custos similares para finalizar ou abandonar o projeto, estimados em R$ 23 bilhões e R$ 21 bilhões, respectivamente. A conclusão de Angra 3 é defendida pela Eletronuclear como estratégica para o país, pois acrescentaria uma nova fonte de geração de base ao sistema elétrico nacional, ajudando a reduzir a dependência de fontes intermitentes e complementando o potencial hídrico do Brasil.
Importância da Energia Nuclear na Matriz Energética Brasileira
Além de ser uma das fontes de energia mais confiáveis e seguras, a energia nuclear é uma alternativa de baixa emissão de carbono, desempenhando um papel importante na transição para uma matriz energética mais sustentável. Em um cenário de crescente demanda por energia limpa e resiliente, a energia nuclear se destaca pela capacidade de operar continuamente, independentemente das variações climáticas. Essa característica permite que a geração nuclear ofereça suporte a outras fontes renováveis, como a solar e a eólica, que são intermitentes.
Raul Lycurgo também destacou esse ponto: “Entendo a contribuição de todas as fontes para o sistema elétrico nacional, mas somente a nuclear é capaz de produzir 24 horas por dia, todos os dias, com sol ou chuva e sem emitir gases que causam o efeito estufa,” afirmou o presidente da Eletronuclear. Ele acrescentou que Angra 2 é um exemplo de eficiência e confiabilidade que reforça a relevância da energia nuclear no Brasil e a necessidade de expansão do setor.