Com grande potencial em hidrogênio verde, o país pode liderar a produção global de ferro e aço verdes, segundo estudo do Global Energy Monitor (GEM).
O Brasil está posicionado como um dos principais players globais na produção de ferro e aço com baixas emissões de carbono, graças à sua vasta oferta de eletricidade renovável e reservas de minério de ferro de alta qualidade. É o que revela um novo relatório do Global Energy Monitor (GEM), destacando que, embora atualmente a maior parte da siderurgia brasileira dependa de carvão, o país tem condições favoráveis para a transição rumo à produção de hidrogênio verde, essencial para a descarbonização da indústria.
Atualmente, cerca de 75% da produção siderúrgica nacional ainda utiliza carvão, mas a abundância de fontes renováveis de energia no Brasil cria uma oportunidade para a produção em larga escala de hidrogênio verde, elemento-chave para viabilizar uma rota de ferro reduzido direto (DRI) de baixas emissões. Essa alternativa ao método tradicional de alto-forno, movido a carvão, é considerada significativamente mais limpa e eficiente.
Hidrogênio Verde: Caminho para a Exportação de Ferro e Aço Sustentáveis
O relatório da GEM indica que a produção de hidrogênio verde no Brasil pode, além de reduzir as emissões da indústria doméstica, abrir caminho para a criação de um mercado de exportação de ferro e aço verdes. “A produção de hidrogênio verde demanda grandes quantidades de energia renovável, um setor onde o Brasil já se estabeleceu como um líder global”, aponta o estudo.
A oferta de energias renováveis, especialmente solar e eólica, continua crescendo no país. Dados do GEM mostram que o Brasil possui 180 gigawatts (GW) em parques eólicos em fases de planejamento ou construção, sendo o terceiro maior mercado do mundo nesse setor, atrás apenas da China e da Austrália. Em termos de energia solar, o país ocupa a segunda posição global, com 139 GW de projetos em andamento, superado apenas pela China.
Desafios da Dependência de Combustíveis Fósseis
Apesar do cenário promissor, o relatório também alerta para obstáculos significativos. O Programa Nacional de Hidrogênio, lançado em 2021, foi um importante passo inicial, assim como o Marco Legal de 2024, que estabelece critérios para a produção de hidrogênio de baixo carbono. No entanto, ambos apresentam brechas que permitem o uso de fontes energéticas poluentes no processo de produção do hidrogênio, o que comprometeria o potencial competitivo da tecnologia.
Além disso, recentes investimentos em altos-fornos movidos a carvão no Brasil podem atrasar a transição para tecnologias mais limpas. O fornecimento limitado e volátil de sucata metálica também cria barreiras ao desenvolvimento de fornos a arco elétrico (EAF), que produzem aço com menores emissões.
Enquanto algumas siderúrgicas menores têm experimentado o uso de biocarvão como alternativa ao carvão em altos-fornos, a quantidade de carvão que pode ser substituída ainda é limitada, e a solução parcial não elimina a dependência dos combustíveis fósseis. “A forte dependência do Brasil de carvão e gás no setor industrial, juntamente com a influência de lobistas de combustíveis fósseis, ameaça a saúde pública e compromete a capacidade do país de atingir suas metas climáticas”, afirma Gregor Clark, um dos autores do relatório e gerente de projetos do Portal Energético para a América Latina do GEM.
Oportunidades e o Papel do Nordeste na Transição
A região Nordeste do Brasil surge como uma área de grande potencial para a produção de hidrogênio verde, graças à abundância de energia solar e eólica. De acordo com o Ministério de Minas e Energia, o Brasil tem capacidade para produzir até 1,8 gigatoneladas de hidrogênio de baixo carbono por ano, a um custo menor do que qualquer outra nação.
Para ampliar essa capacidade, o governo federal concedeu, em abril de 2024, contratos para a construção de quase 4.500 quilômetros de novas linhas de transmissão, reforçando a integração elétrica entre o Nordeste, rico em recursos renováveis, e o Sudeste, onde se concentra a maior parte da indústria siderúrgica.
Outro fator que favorece o Brasil é a qualidade de seu minério de ferro, com teor de ferro variando entre 60% e 67%, um dos mais altos do mundo. Esse diferencial coloca o país em uma posição vantajosa para liderar a produção de DRI baseado em hidrogênio verde.
Oportunidade na COP 30
O relatório da GEM conclui que, para alcançar uma transição eficaz, o Brasil precisa implementar políticas ousadas e buscar maior cooperação internacional. A realização da COP 30, em 2025, é vista como uma oportunidade estratégica para o país demonstrar seu compromisso com a descarbonização da indústria siderúrgica e seu potencial de liderança global na produção de ferro e aço verdes.
“A COP 30 será o momento ideal para o Brasil mostrar ao mundo o que pode fazer em termos de descarbonização. O país tem todas as condições de liderar essa transição no setor siderúrgico”, finaliza Gregor Clark.