Na cúpula preparatória em Bonn, Alemanha, país anfitrião da COP30 defende justiça social, adaptação climática e implementação efetiva do Acordo de Paris como prioridades para a Conferência em Belém
A cinco meses da COP30, que será realizada em Belém do Pará, o Brasil inicia sua jornada como anfitrião da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas com um chamado enfático à ação. A reunião preparatória em Bonn, na Alemanha, que começou nesta segunda-feira (16), marca o início da reta final para a maior cúpula climática da década, com foco em destravar impasses e alinhar compromissos internacionais em torno de três eixos: adaptação, justiça climática e implementação real do Acordo de Paris.
O momento é delicado. O atraso das metas climáticas por parte de grandes emissores, como União Europeia, China e Índia, somado aos alertas recentes da Organização Meteorológica Mundial sobre o avanço do aquecimento global, reforçam o cenário de urgência. Eventos extremos se intensificam, impactando diretamente populações vulneráveis e gerando prejuízos bilionários à economia global.
O Brasil, no entanto, chega a Bonn com uma postura proativa. Segundo o governo e diversas organizações da sociedade civil, o país busca pautar o debate com foco na transição energética justa, no fortalecimento da adaptação climática e no compromisso de abandonar os combustíveis fósseis, como já acordado na COP28 em Dubai, em 2023.
Brasil entrega nova NDC e cobra reciprocidade
Até o momento, menos de 25 países atualizaram suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), como exige o Acordo de Paris. O Brasil foi um dos primeiros a apresentar sua meta revisada, ainda em 2024, durante a Cúpula do Clima de Baku, no Azerbaijão. A ausência de metas claras por parte dos grandes emissores, no entanto, mina o esforço coletivo e reduz a ambição dos países em desenvolvimento.
Na avaliação de especialistas, o Brasil tem espaço político e moral para assumir a liderança global na agenda climática. “Em Bonn, precisamos consolidar o caminho para que a COP30 traga resultados efetivos na implementação do Balanço Global do Acordo de Paris”, afirma Tatiana Oliveira, do WWF-Brasil. “O Brasil pode conduzir esse processo com base no multilateralismo e no diálogo com a sociedade civil.”
Transição justa e justiça racial ganham protagonismo
Outro destaque da posição brasileira é a ênfase na justiça climática, tanto no aspecto social quanto racial. “O Brasil tem uma oportunidade histórica de liderar esse debate, especialmente por ser um país de maioria negra e com forte presença diplomática”, pontua Mariana Belmont, do Geledés – Instituto da Mulher Negra. Segundo ela, reconhecer a contribuição dos povos afrodescendentes na construção de cidades mais justas e resilientes é fundamental para o sucesso das políticas climáticas.
A questão da transição energética justa também está no centro da agenda brasileira. Trata-se de garantir que a migração para uma economia verde aconteça sem abandonar trabalhadores, comunidades tradicionais e populações em situação de vulnerabilidade. “O Brasil precisa liderar pelo exemplo, combatendo o desmatamento e reconsiderando a expansão de combustíveis fósseis, especialmente na Amazônia”, alerta Anna Cárcamo, do Greenpeace Brasil.
COP30: um marco simbólico e estratégico
A COP30 será a primeira Conferência do Clima realizada em uma floresta tropical, e sua sede em Belém carrega um simbolismo poderoso. “É hora de dar destaque às florestas e aos seus povos. O Brasil está em posição privilegiada para entregar um legado ao regime climático internacional”, diz Camila Jardim, também do Greenpeace.
Com a preparação oficial iniciada em Bonn, a expectativa é de que o país chegue à COP30 com diretrizes políticas consolidadas, metas ambiciosas e capacidade de negociação para avançar em temas como financiamento climático, preservação de biomas e energias renováveis.
Caminho até Belém
O mundo já investe mais do que o dobro em energia limpa do que em petróleo e gás, e os países concordaram, em Dubai, em triplicar o uso de fontes renováveis. Agora, o desafio é transformar esses acordos em ações concretas. Bonn deve apontar o caminho.
Com seu protagonismo reforçado, o Brasil pode não apenas influenciar o tom das negociações, mas também redefinir os rumos da política climática internacional, conectando desenvolvimento sustentável, justiça social e proteção ambiental.