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Banco Mundial retoma apoio à energia nuclear e reabre discussão sobre gás natural

Revisão estratégica marca fim de proibição histórica a projetos nucleares; gás natural ainda divide opiniões entre países membros do conselho

O Banco Mundial anunciou uma mudança significativa em sua política energética ao encerrar a proibição de financiamento para projetos de energia nuclear em países em desenvolvimento. A decisão, comunicada nesta quarta-feira (11) pelo presidente da instituição, Ajay Banga, sinaliza um novo posicionamento da entidade diante da crescente demanda global por eletricidade e da urgência em promover alternativas energéticas de baixo carbono.

A medida encerra um veto em vigor desde 2013, quando o banco decidiu não mais apoiar projetos nucleares, ampliando agora a gama de fontes energéticas elegíveis para financiamento. O movimento faz parte de uma estratégia energética revisada do Banco Mundial, que busca responder à expectativa de que a demanda por eletricidade nos países em desenvolvimento mais do que dobre até 2035.

Apesar do consenso alcançado em relação à energia nuclear, o financiamento de projetos de gás natural upstream, ou seja, relacionados à exploração e produção, continua a ser motivo de divergências entre os membros do conselho, com Alemanha, França e Reino Unido demonstrando reservas quanto à ampliação desse apoio.

Fim da proibição e expansão do apoio à energia nuclear

Segundo Ajay Banga, a reavaliação da política energética do banco foi motivada pela necessidade de uma abordagem “com tudo isso”, que permita aos países escolherem livremente o melhor mix de energia para suas realidades econômicas, sociais e ambientais. “Fizemos progressos reais em direção a um caminho claro para o fornecimento de eletricidade como um motor de desenvolvimento”, afirmou o presidente em e-mail enviado aos funcionários.

A mudança também atende a pressões de governos como o dos Estados Unidos, maior acionista individual do banco, que desde a gestão Trump vêm defendendo a reabilitação da energia nuclear como uma alternativa estratégica às fontes fósseis, ao lado da promessa de estabilidade e confiabilidade no fornecimento.

Com a nova política, o Banco Mundial se compromete a trabalhar em conjunto com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para garantir que os projetos apoiados estejam alinhados com padrões rigorosos de não proliferação, segurança e regulamentação. Além disso, a instituição pretende estimular a extensão da vida útil dos reatores existentes, a modernização de redes elétricas e o avanço de tecnologias como os pequenos reatores modulares (SMRs).

Gás natural permanece em debate

Em contrapartida, o debate sobre o financiamento de projetos de gás natural na fase upstream permanece em aberto. Embora o banco tenha suspendido em 2017 os financiamentos para petróleo e gás upstream a partir de 2019, ainda mantém exceções para países de baixa renda.

Agora, a nova política prevê a possibilidade de apoiar projetos de gás midstream e downstream — como transporte e distribuição — desde que sejam a opção de menor custo, estejam alinhados a planos de desenvolvimento e não comprometam o avanço das energias renováveis.

Apesar da resistência de alguns países europeus, há defensores do gás natural como combustível de transição, principalmente em regiões que enfrentam desafios técnicos e econômicos para adotar exclusivamente fontes renováveis. A primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, resumiu essa visão: “Net zero não significa livre de combustíveis fósseis. Significa, ainda assim, que 20% da energia será proveniente de combustíveis fósseis. Sabemos que o gás natural é esse combustível limpo.”

Implicações para a transição energética global

A decisão do Banco Mundial ocorre em um momento crítico para a agenda climática global. Ao abrir espaço para a energia nuclear e, possivelmente, para o gás natural, a instituição reforça a tese de que a transição energética não será uniforme, exigindo soluções personalizadas conforme a realidade de cada país.

Ao mesmo tempo, organizações ambientalistas e ativistas climáticos expressam preocupação de que esses financiamentos desviem recursos de fontes limpas, como solar, eólica e geotérmica, e retardem o processo de adaptação climática nos países em desenvolvimento.

Banga, no entanto, reiterou o compromisso do banco com a descarbonização, destacando que a nova estratégia inclui o descomissionamento de usinas a carvão, investimentos em captura de carbono (exceto para projetos de recuperação aprimorada de petróleo) e apoio ao desenvolvimento de novas tecnologias, como energia oceânica.

A revisão marca uma mudança de paradigma importante na política de financiamento multilateral e reposiciona o Banco Mundial como um ator central na disputa por soluções energéticas sustentáveis, ao mesmo tempo em que equilibra pressões políticas, desafios técnicos e metas de desenvolvimento.

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