Por Alan Henn, Engenheiro Eletricista e CEO da Voltera
O setor elétrico brasileiro está passando por transformações. De um modelo historicamente centralizado, com pouca flexibilidade e baixo protagonismo do consumidor, estamos migrando para um ambiente mais descentralizado, dinâmico e conectado — onde informação e tecnologia desempenham papel estratégico.
Inspirado no Open Finance, que transformou o setor financeiro ao permitir que os consumidores compartilhem seus dados com diferentes instituições financeiras, o Open Energy surge com uma proposta semelhante para o setor de energia: dar ao consumidor o controle sobre seus próprios dados de consumo.
A partir desta premissa, abre-se um novo horizonte para o mercado: mais competitividade, inovação, maior eficiência e uma experiência no mercado de energia personalizada e inteligente.
O consumidor, que antes era um agente passivo no sistema, passa a ser um protagonista com autonomia para escolher fornecedores, contratar serviços personalizados e gerir sua própria energia.
Essa não é uma abstração teórica. O Reino Unido, por exemplo, já possui uma estrutura robusta de Open Energy, permitindo a integração de diferentes plataformas e prestadores de serviço, sempre com base na autorização do titular dos dados. Austrália, Estados Unidos e países da União Europeia seguem na mesma direção. No Brasil, o caminho está sendo construído.
Apesar do potencial transformador do Open Energy, sua implementação enfrenta desafios importantes, como a necessidade de padronização dos dados para garantir a interoperabilidade entre sistemas, o fortalecimento da regulação e da segurança para proteger informações sensíveis conforme exigido pela LGPD, além de investimentos em infraestrutura tecnológica robusta.
Outro ponto crucial é o engajamento do consumidor, que precisa estar bem informado e motivado para aderir ao novo modelo. Superar esses obstáculos será essencial para viabilizar um ecossistema mais aberto, eficiente e orientado por dados no Brasil.
Os ganhos são evidentes. No curto prazo, o consumidor poderá comparar tarifas, otimizar seu consumo e até integrar dispositivos de IoT à sua rotina energética. No médio e longo prazo, o Open Energy cria condições ideais para a expansão da geração renovável descentralizada, da mobilidade elétrica e de soluções baseadas em inteligência artificial — componentes essenciais da transição energética global.
Essa transparência estimula a eficiência energética, facilita a integração de fontes renováveis e contribui para a redução de custos, criando um ambiente mais descentralizado, sustentável e orientado por dados.
Não se trata apenas de inovação tecnológica. Trata-se de redefinir o papel do consumidor e de reposicionar as empresas de energia como provedores de soluções, não apenas de insumos.
O Brasil tem uma oportunidade estratégica de desenvolver um modelo próprio, equilibrando os avanços tecnológicos à privacidade e segurança de dados. Para isso, é essencial que reguladores, agentes do setor, empresas de tecnologia e consumidores trabalhem juntos, colaborativamente. O momento é agora.
A medida provisória 1.300/2025, que propõe uma reforma no setor elétrico brasileiro, foi assinada em maio e prevê abrir o mercado livre de energia para empresas de todos os portes a partir de agosto de 2026 mostra que esse é o caminho para o futuro.
Colocar o consumidor no centro das decisões de energia não é apenas uma tendência global. É uma necessidade de mercado, uma resposta à nova economia dos dados — e uma chance real de reposicionar o setor elétrico como protagonista da transformação digital e sustentável do país.