Instalação em Xangai combina inteligência artificial, 5G e energia renovável, solucionando os principais desafios de consumo energético e falta de espaço nos grandes centros urbanos
A China deu mais um passo decisivo rumo à consolidação de sua liderança global em soluções tecnológicas sustentáveis. Em um projeto inédito, a cidade de Xangai inaugurou oficialmente o primeiro centro de dados subaquático comercial do mundo alimentado por energia eólica offshore. A estrutura inovadora foi instalada nas águas costeiras da Área Especial de Lin-gang, dentro da Zona Piloto de Livre Comércio da China, e marca uma nova fase na evolução dos data centers verdes.
Combinando energia limpa, refrigeração natural e infraestrutura de ponta para inteligência artificial, o projeto Shanghai Lingang UDC (Underwater Data Center) apresenta um modelo de computação de baixo carbono que pode servir de referência para o setor global. A iniciativa surge em meio à crescente demanda por poder computacional de alta eficiência energética, especialmente frente ao avanço da inteligência artificial, Internet das Coisas (IoT) e redes 5G.
Acordo estratégico e investimento bilionário impulsionam o projeto
O projeto é fruto de uma cooperação tripartite entre o comitê administrativo da Zona Piloto de Livre Comércio de Lin-gang, a Shanghai Lingang Special Area Investment Holding Group Co., Ltd., e a Shanghai Hicloud Technology Co., Ltd. Durante o lançamento oficial, foi anunciado um investimento inicial de 1,6 bilhão de yuans (aproximadamente US$ 222 milhões) por parte da Hicloud, empresa responsável pela execução e operação da infraestrutura.
Segundo Su Yang, gerente geral da Hicloud, a instalação contará com um cluster de dados subaquáticos de 24 megawatts (MW), desenvolvido em duas fases. A primeira fase, que começa em setembro, contempla uma unidade de demonstração de 2,3 MW e já foi reconhecida pela Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma como modelo nacional para inovação de baixo carbono. A segunda fase elevará a capacidade total para 24 MW, com eficiência energética (PUE) inferior a 1,15 e mais de 90% da energia proveniente de parques eólicos offshore.
Redução do consumo energético e ocupação de solo
Uma das principais inovações do projeto está no uso da água do mar para o resfriamento dos servidores, reduzindo significativamente o consumo de energia dedicado à climatização. Enquanto data centers tradicionais destinam de 40% a 50% de sua energia apenas ao resfriamento, o novo centro subaquático corta esse percentual para menos de 10%, o que representa uma economia energética de até 40% em comparação com estruturas terrestres.
Além disso, ao transferir a infraestrutura para o fundo do mar, o modelo libera áreas urbanas que poderiam ser utilizadas para habitação, comércio ou serviços, endereçando o desafio crescente da escassez de solo nas grandes metrópoles.
Atualização do experimento em Hainan e ambições nacionais
O novo centro em Xangai é uma evolução do projeto-piloto conduzido em Lingshui, na ilha de Hainan, em operação desde 2022. Lá, os módulos de dados submersos a mais de 30 metros de profundidade já operam com uma capacidade computacional de mais de 675 petaflops (PFlops), o equivalente ao trabalho simultâneo de 30 mil computadores de alto desempenho.
Segundo Su, o centro de Hainan já se consolidou como a primeira instalação comercial subaquática de dados do mundo, com operação estável, zero falhas de servidor e nenhuma manutenção presencial desde o lançamento. Com base nesses resultados, o projeto Lingang é considerado uma versão 2.0: além de mais robusto e eficiente, agora conta com fornecimento de energia renovável em tempo real, o que o torna mais competitivo comercialmente.
Ecossistema digital e aplicações internacionais
A nova instalação subaquática servirá como âncora de um ecossistema digital de última geração, oferecendo suporte a serviços de inteligência artificial, redes 5G, Internet industrial das Coisas e plataformas de comércio eletrônico internacional. A expectativa é de que o centro também funcione como base para serviços de dados transfronteiriços, especialmente voltados a setores estratégicos como comércio exterior, transporte de alto padrão e soluções de logística global.
A China estabeleceu como meta aumentar sua capacidade computacional nacional em mais de 30% até 2025, com foco na construção de centros de dados eficientes, autônomos e com mínima emissão de carbono. Com o projeto Lingang, o país avança significativamente nessa direção — e consolida sua posição como protagonista global da transformação digital sustentável.