Iniciativa inovadora busca converter passivo ambiental em valor econômico por meio da geração de biocombustíveis, com foco em bioeconomia, inclusão social e fortalecimento das comunidades ribeirinhas
A Amazônia Legal será palco de uma iniciativa inédita que une inovação, sustentabilidade e impacto social. A Fundação Getulio Vargas (FGV Energia), em parceria com a Petrobras, a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e o Instituto Senai de Inovação em Biomassa, firmou um acordo para o desenvolvimento de soluções energéticas a partir de resíduos da pesca — um passivo ambiental que poderá se tornar um ativo econômico e social para comunidades da região.
Assinado no Dia Mundial do Meio Ambiente, o termo de cooperação marca o início de um projeto de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) com duração de 18 meses. O objetivo é avaliar a viabilidade da produção de biogás, biometano, biodiesel, biofertilizantes e insumos para ração animal a partir de resíduos orgânicos da pesca artesanal, prática fundamental para a subsistência de milhares de famílias amazônicas.
“Queremos transformar um problema ambiental em uma oportunidade econômica, promovendo uma transição energética mais justa e sustentável”, afirmou Carlos Quintella, diretor executivo da FGV Energia.
Energia renovável e bioeconomia na Amazônia
A proposta tem como cerne a valorização da bioeconomia regional. Ao evitar o descarte incorreto de resíduos pesqueiros — muitas vezes lançados nos rios —, o projeto atua diretamente na mitigação dos impactos ambientais e no reaproveitamento de matérias-primas locais. O resíduo rico em proteína poderá, por exemplo, ser transformado em ração para piscicultura, reduzindo custos em uma das etapas mais onerosas da produção de peixes e favorecendo pequenos produtores.
Segundo a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, a iniciativa está inserida em uma visão estratégica que busca soluções sustentáveis para o Brasil. “Temos sido, ao longo das últimas sete décadas, e queremos continuar sendo, parte atuante das soluções necessárias à construção do nosso país”, disse.
Planta piloto e inovação tecnológica
Uma das vertentes do projeto é o desenvolvimento de uma planta piloto modular a ser instalada no campus da UFAM, que servirá como modelo replicável em outras regiões do Brasil. A usina experimental testará misturas entre resíduos da pesca e subprodutos do biodiesel, como a glicerina, para otimizar a produção de biogás. Essa abordagem representa uma convergência entre energia renovável, inovação tecnológica e reaproveitamento industrial.
O projeto também prevê a criação de um Atlas de Biogás e Biometano na Amazônia Legal, mapeando o potencial energético da região a partir de fontes renováveis e residuais. O documento poderá ser um instrumento estratégico para políticas públicas e investimentos na área.
Inclusão social e gênero
Além dos benefícios ambientais e energéticos, a iniciativa reforça a inclusão social como um de seus pilares. Cerca de 50% da mão de obra no setor pesqueiro amazônico é composta por mulheres, que agora poderão ter protagonismo também na cadeia de valor da energia limpa. A proposta é gerar emprego, renda e autonomia para comunidades ribeirinhas, respeitando as especificidades culturais e sociais da região.
“A crise climática exige soluções integradas. Este projeto não apenas gera energia renovável, mas também empodera mulheres, promove igualdade, valoriza saberes tradicionais e melhora a qualidade de vida nas comunidades amazônicas”, destacou Quintella.
Alinhamento aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
A ação está alinhada a diversas metas da Agenda 2030 da ONU, incluindo o ODS 7, que promove o acesso à energia limpa e acessível; o ODS 5, voltado à promoção da igualdade de gênero; o ODS 1, que trata da erradicação da pobreza; e o ODS 13, que visa ações concretas no enfrentamento das mudanças climáticas globais.
Trata-se de uma iniciativa que simboliza a integração entre academia, setor público, indústria e sociedade civil, promovendo um modelo sustentável, descentralizado e de baixo carbono.
Caminhos para o futuro
O potencial do projeto vai além da Amazônia. O modelo pode ser adaptado para outras regiões pesqueiras e até mesmo setores agroindustriais com alto volume de resíduos orgânicos. Ao aproveitar recursos locais e articular inovação com responsabilidade socioambiental, o projeto consolida uma nova abordagem para a transição energética no Brasil, mais inclusiva e ancorada em soluções de impacto.