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Do desperdício à inteligência energética: um novo olhar para a infraestrutura do Brasil

Por Jamil Mouallem, sócio-diretor Comercial e de Marketing da TS Shara

Diante das discussões que emergem em torno do Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado em 5 de junho, torna-se cada vez mais urgente refletir sobre o papel da energia na construção de um futuro sustentável e resiliente. Falar de energia, hoje, é muito mais do que debater geração e consumo — é tocar no cerne de questões estruturais que impactam diretamente o meio ambiente, a economia, a saúde, a educação e até a segurança pública.

Estamos diante de uma transformação sem precedentes. A transição energética global, antes tratada como um horizonte distante, se tornou inadiável. Não apenas por uma questão ambiental, mas por necessidade estratégica: em um mundo cada vez mais digital, conectado e dependente de infraestrutura crítica, a confiabilidade e a sustentabilidade do fornecimento de energia tornam-se tão essenciais quanto o próprio acesso.

Segundo dados atualizados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), mais de 93% da matriz elétrica brasileira em 2024 teve origem de fontes renováveis. Em termos globais, isso nos coloca em posição privilegiada. Mas a pergunta que se impõe é: essa vantagem está sendo usada com a ambição e a estrutura necessária para realmente transformar o país em referência em energia sustentável?

A resposta passa por um olhar mais amplo sobre o ecossistema energético. Ter uma matriz limpa não é o ponto final, pelo contrário, é o ponto de partida. Ainda convivemos com altos índices de perdas técnicas e comerciais. O Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel) estima que no ano passado, em média, cerca de 20% da energia elétrica gerada no Brasil foi desperdiçada. Esse volume não representa apenas um prejuízo econômico, ele é sintoma de um sistema que ainda precisa amadurecer em eficiência, inteligência e equidade.

Nesse contexto, o avanço das tecnologias digitais tem papel determinante. A digitalização do setor elétrico, com uso crescente de inteligência artificial, Internet das Coisas (IoT) e sensores de monitoramento em tempo real, permite prever falhas, reduzir perdas, estabilizar a rede e distribuir energia de forma mais eficiente. Mas ainda é preciso garantir que essas soluções não fiquem restritas a grandes centros urbanos ou corporações — devem ser escaladas, democratizadas e interiorizadas.

Desbravar fronteiras no ecossistema de energia também exige enfrentamento das desigualdades no acesso à energia de qualidade. Em tempos de telemedicina, ensino remoto e serviços digitalizados, essa limitação é uma barreira concreta ao desenvolvimento social.

Os nobreaks e estabilizadores atuam como protetores dos equipamentos, prevenindo danos por surtos e instabilidades na rede elétrica. Isso pode contribuir para uma maior vida útil dos aparelhos conectados a eles. De forma prática, ao reduzir falhas prematuras, esses dispositivos ajudam a diminuir o descarte de equipamentos eletrônicos. Isso diminui impactos ambientais associados ao lixo eletrônico e combate a obsolescência programada indiretamente, ao preservar equipamentos que seriam descartados por avarias elétricas.

Por outro lado, os projetos de geração distribuída, especialmente por meio de energia solar, vêm crescendo de forma significativa. Dados da ANEEL mostram que, apenas no primeiro trimestre de 2024, o número de conexões de micro e minigeração fotovoltaica superou 300 mil, indicando que a descentralização da produção energética já é uma realidade em expansão. Esse movimento fortalece a autonomia energética de comunidades, reduz pressão sobre o sistema centralizado e contribui para a resiliência da matriz.

No entanto, a inovação tecnológica não pode ser pensada de forma isolada. É fundamental que seja acompanhada de políticas públicas claras, estáveis e alinhadas com os compromissos de descarbonização, eficiência energética e justiça climática. Precisamos de planejamento de longo prazo, incentivos à pesquisa, capacitação técnica e fomento ao desenvolvimento regional por meio de energia limpa.

Como sociedade, temos o desafio de olhar para energia não apenas como uma questão técnica, mas como um vetor de desenvolvimento humano. Trata-se de um direito, e também de uma responsabilidade coletiva. A sustentabilidade energética está diretamente ligada à capacidade de garantir uma infraestrutura segura, inteligente e preparada para atender demandas crescentes e cada vez mais complexas, desde grandes hospitais e data centers até residências e zonas rurais.

Avançar nesse caminho significa romper com modelos lineares e passivos. É preciso uma abordagem integrada, conectando tecnologia, meio ambiente, economia e inclusão social. O Brasil tem os recursos, o know-how técnico e a vocação natural para liderar esse processo. Resta transformar potencial em ação.

Afinal, desbravar fronteiras no ecossistema de energia não é apenas explorar novas fontes ou tecnologias — é reimaginar o papel da energia como eixo central de um futuro mais sustentável, resiliente e justo para todos.

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