CEO da conferência destaca que mudança climática amplia desigualdades e defende protagonismo do Brasil para traduzir impactos sociais e econômicos da crise ambiental
A poucos meses da realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontecerá em Belém (PA), a CEO do evento e economista Ana Toni concedeu entrevista ao programa CNN Entrevistas, exibido neste sábado (7), destacando a urgência de se encarar a crise climática como um fenômeno não apenas ambiental, mas também social e econômico. Para Toni, o Brasil tem uma oportunidade histórica de conduzir o debate global com foco na justiça climática e na equidade.
“A mudança do clima é um acelerador da pobreza. Seus impactos recaem mais fortemente sobre as populações mais vulneráveis. A COP30 precisa traduzir essa realidade de maneira concreta”, afirmou Toni às analistas Isabel Mega e Larissa Rodrigues.
A fala de Toni reforça a proposta da COP30 de ser uma conferência inclusiva, acessível e conectada aos desafios reais das comunidades afetadas. Belém, escolhida como sede do encontro, simboliza a interseção entre crise ambiental e vulnerabilidade social. “É uma cidade real, com problemas reais da população mais vulnerável. É exatamente isso que queremos trazer à tona”, completou.
A crise climática como vetor de desigualdade
A cientista política enfatizou que as consequências das mudanças climáticas, como secas prolongadas, enchentes, perda de biodiversidade e insegurança alimentar, tendem a se concentrar em regiões já marcadas pela exclusão social e ausência de políticas públicas estruturadas.
“A mudança do clima não é mais apenas uma questão de ‘salvar o planeta’. É uma questão de salvar vidas e garantir dignidade. Isso deve ser o centro da nossa COP”, ressaltou.
Segundo dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), os países em desenvolvimento, especialmente aqueles com grandes populações rurais e em situação de vulnerabilidade econômica, já enfrentam impactos desproporcionais da crise ambiental — um cenário que requer ações adaptativas urgentes.
O papel do setor privado: da mitigação à adaptação
Outro eixo abordado por Ana Toni na entrevista foi o papel estratégico do setor privado. Ela reconhece os avanços na área de mitigação, como investimentos em hidrogênio verde, geração solar e eólica, mas alerta que o mundo já entrou em uma nova etapa, na qual a adaptação aos efeitos do clima se torna inevitável.
“A inovação pode e deve se voltar à resiliência da agricultura, ao desenvolvimento de sementes resistentes e à otimização dos sistemas de irrigação. Isso também é oportunidade econômica”, destacou.
Na avaliação de Toni, empresas brasileiras, especialmente aquelas ligadas ao agronegócio e à infraestrutura, terão papel determinante na construção de soluções sustentáveis, com base na tecnologia e em modelos de negócio alinhados à nova realidade climática.
Fortalecer o multilateralismo em tempos de crise
Ana Toni também abordou o cenário político internacional e o desafio de manter o espírito de cooperação entre as nações. Segundo a CEO, o Acordo de Paris segue sendo a principal âncora do esforço global contra o colapso climático, apesar de episódios como a saída temporária dos Estados Unidos do tratado.
“A nossa disposição como presidência da COP é manter o trabalho duro, ao lado dos outros 197 países signatários. As COPs são hoje o maior evento das Nações Unidas, e isso mostra o poder de união que a agenda climática pode ter”, declarou.
COP30: uma vitrine para o protagonismo brasileiro
A COP30 representa uma chance única para o Brasil liderar não apenas pela abundância de recursos naturais e matriz energética limpa, mas pela capacidade de construir pontes entre governos, empresas e sociedade civil.
Para Ana Toni, o sucesso da conferência depende da capacidade do país de traduzir sua diversidade social, ambiental e econômica em soluções replicáveis para o mundo. “Temos a missão de fazer da COP30 um marco de responsabilidade global e solidariedade climática”, concluiu.