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Tecnologia e Dados: O Novo Alicerce da Governança Climática Global

Avanço de inteligência artificial, sensoriamento remoto e rigor na coleta de dados redefinem padrões ESG e colocam o Brasil em posição estratégica rumo à COP30

Em meio a uma corrida global para combater os efeitos das mudanças climáticas, a governança ambiental passa por uma transformação silenciosa, porém decisiva. Tecnologias como sensoriamento remoto, inteligência artificial (IA) e sistemas avançados de monitoramento se tornam pilares essenciais na transição para uma economia de baixo carbono. No entanto, especialistas alertam: tecnologia sem dados robustos, consistentes e auditáveis pode gerar mais riscos do que soluções.

O estudo “Top Trends COP30”, desenvolvido pela Ideia Sustentável, traz um diagnóstico contundente. A urgência climática e a pressão crescente por investimentos sustentáveis exigem não apenas inovação tecnológica, mas também um compromisso rigoroso com a qualidade dos dados ambientais. Segundo Julio Carepa, especialista em financiamento climático e um dos participantes do estudo, a governança climática corre sérios riscos quando se apoia em informações frágeis.

“Antes mesmo de falarmos em IA, enfrentamos um desafio mais básico: a criação e disponibilização de dados confiáveis. A falsa sensação de controle, gerada por modelos mal alimentados, pode mascarar problemas e perpetuar ineficiências”, alerta Carepa.

O Desafio Amazônico e os Limites da Tecnologia

O Brasil, com seus vastos ativos ambientais, especialmente na Amazônia, está no centro desse debate. A extensão territorial, aliada à complexidade dos biomas, impõe barreiras significativas para uma mensuração precisa da capacidade de sequestro de carbono da floresta.

“Vivemos um cenário climático sem precedentes, com níveis de concentração de CO₂ jamais registrados. É fundamental fortalecer a base científica e blindar o debate de narrativas negacionistas, que distorcem a realidade com informações sem embasamento técnico e de forte viés político”, reforça Carepa.

MRV: A Nova Moeda de Credibilidade no Mercado Global

No setor privado, o conceito de MRV (Monitoramento, Relato e Verificação) se consolidou como critério indispensável para a credibilidade ambiental e financeira das empresas. A adoção de protocolos como o GHG Protocol e a ISO 14.064 se tornou, além de uma exigência regulatória, um diferencial competitivo.

Para Carla Leal, doutora em finanças com foco em ESG e mudanças climáticas e membro da Comissão de Sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), a robustez dos dados ambientais impacta diretamente a atratividade das empresas no mercado de capitais.

“Empresas que apresentam inventários consistentes de suas emissões conquistam acesso facilitado a capital, taxas de financiamento mais baixas e maior confiança dos investidores institucionais. Isso não é mais uma opção — é um pilar de sobrevivência e expansão no mercado atual”, explica Carla.

Dados, Finanças e Sustentabilidade: Uma Nova Tríade Global

A governança climática transcende a esfera ambiental e se conecta diretamente ao fluxo financeiro global. Organizações como o Carbon Disclosure Project (CDP) classificam empresas com base na qualidade dos dados que reportam. Aquelas que adotam práticas rigorosas de MRV são as que mais se beneficiam do crescente apetite dos fundos de investimento ESG.

“A integração de dados ambientais com inteligência financeira se tornou a chave para destravar trilhões de dólares em investimentos voltados à transição energética e à mitigação dos efeitos climáticos”, ressalta Carla.

Brasil: Entre o Protagonismo e a Oportunidade

O Brasil está em uma encruzilhada histórica. A COP30, que será sediada em Belém do Pará, coloca o país sob os holofotes do mundo. O sucesso da participação brasileira passa, inevitavelmente, por três grandes pilares:

  1. Estruturar uma base nacional robusta de dados climáticos, auditável e transparente;
  2. Transformar a Amazônia em um centro global de excelência em monitoramento ambiental;
  3. Criar mecanismos que ampliem o acesso a financiamento verde, especialmente para empresas que demonstram performance socioambiental sólida.

De acordo com Ricardo Voltolini, CEO da Ideia Sustentável e coordenador do estudo, o fortalecimento da governança climática é tanto um imperativo ético quanto uma estratégia econômica para o país. “O Brasil tem uma janela de oportunidade única para ser protagonista na economia de baixo carbono. Mas isso só se concretiza com dados confiáveis, políticas públicas consistentes e comprometimento empresarial”, afirma.

A Governança do Futuro Começa com Dados no Presente

O avanço no monitoramento de emissões e na transparência das informações ambientais não é mais apenas uma ferramenta de gestão — é uma exigência de mercado, um diferencial competitivo e uma salvaguarda contra riscos reputacionais e financeiros.

O estudo Top Trends COP30 aponta que o futuro da governança climática não será decidido apenas nas mesas de negociação das conferências internacionais, mas na capacidade dos países e empresas de coletar, processar e reportar dados de forma transparente, ética e eficiente.

Seja no fortalecimento do mercado de carbono, na preservação da biodiversidade ou no acesso ao financiamento climático, uma verdade se impõe: sem dados de qualidade, não há governança, não há desenvolvimento sustentável e não há futuro.

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