Por Fernanda Brandão, coordenadora de Relações Internacionais da Faculdade Mackenzie Rio
Em 2025, o Brasil recebe duas reuniões multilaterais importantes na promoção da cooperação internacional em torno de temas importantes como questões ambientais e a cooperação econômica entre os países do sul global: a Conferência das Parte da ONU (COP-30) e os BRICS. Ambos os eventos, liderados pelo Brasil, são formas de fortalecer o protagonismo brasileiro no contexto internacional. No caso particular da COP-30, a conferência está relacionada com a volta do país ao cenário internacional ocupando uma posição de liderança e proatividade nas questões ambientais globais.
A questão da mudança climática tem se tornado cada vez mais urgente. Se nos anos 1990 a discussão girava em torno de como mitigar o aquecimento global, hoje já se trabalha com a perspectiva de adaptação às mudanças climáticas que já aconteceram e têm tido efeitos diretos sobre os padrões pluviais, os períodos de estiagem e fenômenos climáticos atípicos. Torna-se cada vez mais importante a cooperação dos países para uma transição energética efetiva e justa de forma a limitar o aquecimento global. Ao mesmo tempo, a necessidade de investimento para adaptação das cidades e da infraestrutura dos países diante das mudanças no clima já se mostram como inescapáveis. Assim, nos últimos anos, tem tomado força a ideia de financiamento climático, que é a busca e captação de investimento voltados para a fomentação da transição energética, contribuindo para a mitigação das emissões de gases do efeito estufa, e também, para o investimento na adaptação das cidades para a nova realidade climática global.
Contudo, neste ano, a Conferência das Parte da ONU acontecerá em um contexto global de conflitos internacionais, de competição e de insegurança. A manutenção do conflito na Ucrânia, a guerra sem fim de Israel em Gaza e as ameaças ao Irã, as tensões e troca de agressões armadas entre Índia e Paquistão, são exemplos de conflitos internacionais importantes que aumentam as preocupações de segurança no contexto global. No âmbito econômico, a guerra tarifária iniciada pelo governo Trump fragmenta antigas parcerias econômicas e promove um reordenamento das relações econômicas globais com o afastamento de parceiros tradicionais e a aproximação de novos parceiros. Esses eventos fortalecem o clima de incerteza e insegurança na política internacional criando um cenário não propício para a cooperação em torno de temas como as questões climáticas, por exemplo.
O problema da mudança climática é uma questão cuja solução depende de uma cooperação global ampla. Onde a ação unilateral de um país tem efeito limitado sobre um problema que afeta todos os países em maior ou menor grau. Assim, o grande desafio para a diplomacia dos países e para as redes de advocacy em torno das questões ambientais é conseguir criar as condições para um acordo climático mais ambicioso em um cenário internacional não propício para a cooperação no âmbito multilateral. A atuação dos diplomatas e negociadores se torna fundamental, porém desafiadora, nesse contexto em que as questões ambientais são sobrepostas por interesses econômicos e de segurança dos países.