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Congresso retoma debate sobre Angra 3 e reacende discussão sobre futuro da energia nuclear no Brasil

Audiência pública na Câmara reúne governo, setor nuclear e indústria para debater cronograma, custos e impacto da retomada de Angra 3 na segurança energética do Brasil

A Câmara dos Deputados, por meio da Comissão de Minas e Energia, realizou nesta terça-feira (27) uma audiência pública de extrema relevância para o setor elétrico nacional: a continuidade da obra da usina nuclear Angra 3, paralisada há mais de quatro décadas. O debate, proposto pelo deputado Júlio Lopes (PP-RJ), coloca novamente sob os holofotes uma das maiores polêmicas da infraestrutura energética brasileira.

O evento, realizado no Plenário 14 da Câmara, reuniu representantes do alto escalão do governo federal, de órgãos de controle, da indústria nuclear e de entidades setoriais. A discussão girou em torno dos desafios financeiros, técnicos e institucionais que envolvem a retomada e a conclusão da terceira unidade da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, localizada em Angra dos Reis (RJ).

Atualmente, as usinas Angra 1 e Angra 2 são responsáveis por aproximadamente 3% da matriz elétrica brasileira. A entrada de Angra 3 promete reforçar significativamente essa participação, garantindo maior estabilidade ao sistema, especialmente em períodos de escassez hídrica, além de contribuir para a descarbonização da matriz elétrica, uma das metas centrais do Brasil no enfrentamento às mudanças climáticas.

Um projeto estratégico para a segurança energética

Iniciada em 1981, Angra 3 teve sua obra interrompida por diversas vezes ao longo das décadas, principalmente por entraves financeiros, questões jurídicas e mudanças nas prioridades energéticas do país. Agora, o governo federal volta a colocar o projeto como peça central na estratégia de diversificação da matriz elétrica e na busca por segurança energética.

“Concluir Angra 3 não é apenas finalizar uma obra. É garantir a soberania energética do Brasil, reduzir a dependência de fontes intermitentes e consolidar o país no domínio da tecnologia nuclear civil”, afirmou Júlio Lopes durante a abertura dos trabalhos.

Quem participou do debate

A audiência contou com a presença de nomes de peso do setor energético e nuclear. Entre os confirmados estavam o Ministro-Chefe da Casa Civil, Rui Costa; o Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira; Francisco Rondinelli Junior, presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN); Marcelo Leite Freire, do Tribunal de Contas da União (TCU); Raul Lycurgo Leite, presidente da Eletronuclear; Silas Rondeau, presidente da ENBPar; e Luciene Ferreira Monteiro Machado, superintendente do BNDES, além de representantes da Marinha, da Eletrobras, da AMAZUL, da ABDAN, da ABEN e do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Energia Elétrica em Angra dos Reis.

Essa ampla participação demonstra o caráter estratégico e multidisciplinar do projeto, que envolve não apenas questões energéticas, mas também desenvolvimento industrial, financiamento, segurança nacional e geração de empregos qualificados.

Ponto crítico: financiamento e cronograma

Um dos principais focos da audiência foi a necessidade de clareza sobre os custos atualizados da obra, as fontes de financiamento e o cronograma de execução. Segundo dados preliminares, o orçamento total para a conclusão de Angra 3 gira em torno de R$ 20 bilhões, valor que ainda está sendo refinado pelos técnicos.

O BNDES já sinalizou disposição para participar do financiamento, mas reforçou a necessidade de garantias robustas, considerando o histórico do projeto. “É preciso assegurar que os recursos sejam aplicados com responsabilidade, transparência e controle rigoroso”, destacou Luciene Machado, do BNDES.

O TCU, representado por Marcelo Freire, também reforçou o papel do órgão no acompanhamento dos processos, com auditorias permanentes para assegurar que as melhores práticas sejam adotadas, mitigando riscos jurídicos, financeiros e operacionais.

Impacto na matriz elétrica e no meio ambiente

A conclusão de Angra 3 terá impacto direto na matriz elétrica brasileira, ampliando a oferta de energia firme, limpa e despachável — características essenciais em um contexto de crescente inserção de fontes renováveis intermitentes, como solar e eólica.

Além disso, a geração nuclear é reconhecida por sua baixa emissão de gases de efeito estufa, alinhando-se às metas de descarbonização assumidas pelo Brasil nos acordos internacionais de combate às mudanças climáticas.

“Não podemos esquecer que o mundo inteiro está discutindo segurança energética e descarbonização. A energia nuclear tem papel fundamental nesse contexto”, ressaltou Raul Lycurgo, presidente da Eletronuclear.

Próximos passos

Encerrando o debate, o deputado Júlio Lopes reforçou que a audiência é apenas o primeiro passo de uma série de discussões e articulações necessárias para destravar a conclusão da obra. A expectativa é que o governo federal apresente, nos próximos meses, um plano detalhado com prazos, custos atualizados e modelos de financiamento viáveis.

“O país não pode mais adiar essa decisão. Angra 3 não é um projeto do passado, é uma solução para o futuro energético do Brasil”, concluiu Lopes.

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