Empresa registra maior número de interrupções por incêndios desde 1995 e reforça queimada como crime, além de alertar sobre riscos à rede elétrica, saúde pública e economia local
O avanço das queimadas em Minas Gerais causou, em 2024, impactos sem precedentes no sistema elétrico do estado. A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) registrou 1.240 ocorrências de desligamento causadas por incêndios, afetando o fornecimento de energia de quase 1,5 milhão de unidades consumidoras. Trata-se do maior número desde o início da série histórica da empresa, em 1995.
Para se ter ideia da gravidade, o total de consumidores prejudicados em 2024 foi sete vezes maior que em 2023, quando 442 ocorrências afetaram cerca de 200 mil clientes. Até então, o pior cenário havia sido registrado em 2021, com 738 mil clientes impactados por 940 incidentes relacionados a queimadas.
De acordo com Taumar Morais Lara, engenheiro de Ativos da Distribuição da Cemig, o cenário se agravou especialmente por conta da combinação de baixa umidade, vegetação seca e ação humana irresponsável. “Queimadas podem danificar postes, cabos e torres, além de dificultar e prolongar o tempo de restabelecimento da energia, o que traz sérios transtornos para a população”, explica.
Além dos prejuízos operacionais, a fumaça gerada pelas queimadas também compromete diretamente a saúde pública, principalmente em períodos em que doenças respiratórias se tornam mais recorrentes. Outro alerta importante é que provocar incêndios é considerado crime ambiental, passível de multa e até detenção.
Impacto vai além da rede elétrica
As consequências das queimadas vão muito além da simples interrupção no fornecimento de energia. Hospitais, escolas, comércios e residências inteiras podem ficar horas, ou até dias, sem eletricidade. Isso afeta serviços essenciais, compromete a economia local e gera insegurança tanto nas áreas urbanas quanto nas rurais.
“Além dos danos materiais, a logística para reparar os estragos é extremamente desafiadora. As ocorrências normalmente acontecem em locais de difícil acesso, muitas vezes em áreas rurais ou serranas. Transportar equipamentos pesados, como torres e postes, nessas condições torna o trabalho ainda mais complexo”, detalha Taumar.
Ações de prevenção e conscientização
Segundo dados da própria Cemig, a grande maioria dos focos de incêndio têm origem na ação humana, seja por negligência, descuido ou, em alguns casos, atos criminosos.
O especialista reforça que pequenas atitudes podem fazer uma enorme diferença. Ele alerta para a importância de não descartar bitucas de cigarro acesas em rodovias ou áreas com vegetação, de apagar completamente fogueiras de acampamento antes de deixar o local e de evitar o descarte de garrafas de vidro ou plásticos em áreas com mato seco, pois esses materiais podem atuar como lentes e iniciar focos de incêndio. Além disso, destaca a necessidade de respeitar os limites legais para queimadas controladas, que não devem ocorrer a menos de 15 metros de rodovias, ferrovias e faixas de segurança de linhas de energia. O uso de fogo é totalmente proibido em áreas de preservação ambiental, parques florestais e reservas ecológicas.
O que faz a Cemig para reduzir o problema
Ciente dos riscos, a Cemig intensifica, anualmente, suas ações preventivas, como a limpeza das faixas de servidão, que inclui a poda de árvores e a remoção da vegetação próxima a torres e postes. A companhia também realiza inspeções periódicas nas linhas de transmissão para identificar possíveis riscos antes que causem danos. Além disso, investe continuamente em tecnologia e em equipamentos de monitoramento, que contribuem para a rápida detecção de pontos críticos.
No entanto, como reforça a companhia, o sucesso dessas ações depende diretamente da colaboração da população. A prevenção precisa ser uma responsabilidade coletiva.
Queimada é crime!
A legislação brasileira é clara: provocar incêndios em áreas urbanas, rurais ou de preservação é crime ambiental, com penas que podem chegar a quatro anos de reclusão, além de multa.
A Cemig orienta que, ao identificar qualquer sinal de fogo próximo a linhas de transmissão, postes ou transformadores, a população acione imediatamente os Bombeiros (193) ou a própria companhia pelo telefone 116.
Conclusão
O cenário alarmante de 2024 evidencia que o combate às queimadas não é apenas uma pauta ambiental, mas também uma questão urgente de segurança energética, saúde pública e estabilidade econômica. Se não houver uma mudança de comportamento social e fortalecimento das ações de fiscalização, eventos extremos como este poderão se repetir, comprometendo a qualidade de vida de milhões de pessoas.