Crise silenciosa: Dependência de minerais críticos ameaça a segurança energética global, alerta IEA

Crise silenciosa: Dependência de minerais críticos ameaça a segurança energética global, alerta IEA

Relatório da Agência Internacional de Energia revela que a crescente concentração da produção de minerais estratégicos, como cobre, lítio e níquel, acende um alerta para riscos econômicos e para a transição energética mundial

A transição energética, pilar fundamental na luta contra as mudanças climáticas, enfrenta um obstáculo que avança de forma silenciosa, porém preocupante: a alta dependência global de minerais críticos. O alerta vem da Agência Internacional de Energia (IEA), que acaba de divulgar a edição 2025 do Global Critical Minerals Outlook, um dos relatórios mais aguardados pelo setor energético e industrial.

Apesar de os mercados de minerais essenciais aparentarem estabilidade no curto prazo, com preços mais baixos que os picos registrados em 2021 e 2022, o estudo revela que a concentração da cadeia de suprimentos aumentou de forma significativa nos últimos quatro anos, comprometendo a segurança energética e econômica de diversas nações.

“Num contexto de tensões geopolíticas elevadas, os minerais críticos tornaram-se uma questão de segurança estratégica. Sem cadeias de suprimento resilientes e diversificadas, a transição energética está sob ameaça real”, afirma Fatih Birol, diretor executivo da IEA.

Dependência alarmante e concentração crescente

O relatório apresenta um dado particularmente preocupante: a participação dos três maiores produtores globais — que inclui etapas de mineração, refino e processamento — subiu de 82% em 2020 para 86% em 2024. Este aumento não apenas acende um alerta sobre concentração de mercado, como também revela um retrocesso nos esforços globais para diversificar cadeias de suprimento.

A dependência da China, que domina o refino de minerais como lítio, grafite, cobalto e elementos de terras raras, e da Indonésia, no caso do níquel, é central. Esta concentração deixa os mercados extremamente vulneráveis a fatores externos, como instabilidade política, restrições comerciais, desastres naturais e até falhas operacionais.

“Mesmo quando há disponibilidade no mercado, qualquer choque de oferta — seja climático, técnico ou geopolítico — pode gerar aumentos abruptos de preço e comprometer cadeias industriais inteiras”, alerta Birol.

O cobre no centro da crise

Entre os vários minerais analisados, o cobre ocupa lugar de destaque na preocupação da IEA. Fundamental para a expansão das redes elétricas, veículos elétricos e infraestrutura de transmissão, o relatório projeta um déficit de 30% na oferta global de cobre até 2035, caso não haja aumento significativo no desenvolvimento de novos projetos de mineração.

Essa possível escassez coloca em risco projetos estratégicos de eletrificação, armazenamento de energia e ampliação da matriz renovável em todo o mundo.

Demanda disparando, mas investimentos em queda

O desequilíbrio se torna ainda mais evidente quando se observa o comportamento recente do mercado. A demanda por lítio cresceu 30% em 2024, muito acima da média anual de 10% registrada na década passada. Paralelamente, o crescimento da oferta, puxado por China, Indonésia e países africanos, foi suficiente para pressionar os preços para baixo, especialmente de metais utilizados em baterias.

Contudo, o ritmo dos investimentos perdeu força. Em 2024, o aumento foi de apenas 5%, contra 14% em 2023, indicando uma desaceleração preocupante. A exploração de novos depósitos entrou em estagnação e o financiamento de startups do setor começou a retrair, o que pode agravar os gargalos futuros.

Restrição à exportação: o novo risco geopolítico

Outro fator que amplia os riscos é a escalada das restrições à exportação. Atualmente, 55% dos minerais estratégicos estão sujeitos a algum tipo de controle comercial, que não se limita apenas à matéria-prima bruta, mas inclui também produtos refinados e até processos tecnológicos.

Essa tendência, segundo a IEA, amplia o risco de rupturas nas cadeias de fornecimento globais, afetando desde a indústria de energia até os setores de tecnologia, aeroespacial e automotivo.

Tecnologias emergentes também estão em risco

Nem mesmo as novas tecnologias de baterias, como as de LFP (fosfato de ferro-lítio) e íon de sódio, estão livres da concentração geográfica. A China controla o refino de insumos críticos, como sulfato de manganês e ácido fosfórico, essenciais para esses novos modelos, que buscam justamente reduzir a dependência dos tradicionais íons de lítio e níquel.

Conclusão: um gargalo que exige ação imediata

O cenário desenhado pela IEA é claro: sem uma estratégia global para diversificar cadeias de suprimento, aumentar investimentos em mineração responsável e estimular novas parcerias comerciais, a segurança energética mundial estará em xeque.

Além disso, os riscos não são apenas econômicos. Atrasos na expansão de redes elétricas, falta de materiais para baterias e interrupções na fabricação de tecnologias limpas podem retardar os compromissos climáticos e gerar impactos sociais e ambientais significativos.

O relatório reforça que o desafio da próxima década não será apenas gerar energia limpa, mas garantir que haja materiais suficientes, de fontes seguras e sustentáveis, para viabilizar essa transformação.