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Hyundai aposta na Indonésia para ampliar ecossistema global de hidrogênio a partir de resíduos

Grupo coreano fecha parceria com governo indonésio e estatal Pertamina para transformar aterro sanitário em polo de produção de hidrogênio verde, replicando modelo de sucesso da Coreia do Sul e expandindo atuação sustentável para o Sudeste Asiático e América Latina

O Grupo Hyundai Motor anunciou um novo e ambicioso plano para expandir seu ecossistema sustentável de produção de hidrogênio a partir de resíduos sólidos urbanos, marcando sua primeira iniciativa internacional do modelo waste-to-hydrogen (W2H). A ação será realizada na província de Java Ocidental, na Indonésia, e representa mais do que um avanço tecnológico: trata-se de uma estratégia robusta de transição energética, alinhada às metas ambientais globais e aos objetivos do governo indonésio de reduzir emissões e modernizar sua matriz energética.

O anúncio foi feito durante a Cúpula Global do Ecossistema de Hidrogênio, realizada em Jacarta em abril de 2025. O evento reuniu autoridades do governo indonésio, executivos da estatal Pertamina, representantes da Hyundai e especialistas do setor energético. Na ocasião, o Ministério de Energia e Recursos Minerais (ESDM) apresentou oficialmente o Roteiro Nacional de Hidrogênio e Amônia, que prevê o desenvolvimento de políticas públicas voltadas à produção, regulação e aplicação do hidrogênio como combustível limpo.

Do lixo ao combustível limpo: um novo paradigma energético

A proposta da Hyundai consiste em instalar, até 2027, uma estação de reabastecimento de hidrogênio na cidade de Bandung, utilizando a infraestrutura de gás natural veicular da Pertamina e gerando hidrogênio de baixo carbono a partir de biogás. O biogás será extraído do aterro sanitário de Sarimukti, que atualmente recebe cerca de 1.500 toneladas diárias de resíduos — 80% da produção de lixo da cidade.

Essa iniciativa tem como objetivo não apenas gerar energia limpa, mas também atuar na mitigação de riscos ambientais na região. O aterro de Sarimukti tem sido alvo de desastres naturais recorrentes, como incêndios e deslizamentos, agravados pelos efeitos das mudanças climáticas. A Hyundai também se comprometeu a implementar ações de responsabilidade social, como melhoria no acesso à água potável e assistência médica, em parceria com a ONG Good Neighbors.

O processo de produção do hidrogênio se dará por meio de reformadores de metano a vapor, tecnologia da Hyundai Rotem, subsidiária do grupo. O projeto contará com apoio de um consórcio de empresas e instituições coreanas, garantindo a transferência de know-how e tecnologia de ponta ao território indonésio.

Parceria estratégica com a Pertamina

A aliança com a PT Pertamina, estatal de energia da Indonésia, é peça-chave para o sucesso do projeto. A parceria prevê o fornecimento de infraestrutura, incluindo terrenos para as estações de reabastecimento, e apoio logístico para o transporte do hidrogênio. A cooperação também sinaliza uma abertura do governo indonésio para investidores estrangeiros no setor de energia limpa — movimento fundamental para diversificar a matriz energética do país, que ainda depende fortemente de fontes fósseis.

A iniciativa também dialoga com o plano do governo de desenvolver a nova capital do país, Nusantara, como uma cidade inteligente e sustentável, com forte presença de tecnologias verdes.

Modelo testado na Coreia agora se expande globalmente

O projeto indonésio é inspirado no modelo bem-sucedido implementado pela Hyundai em cidades como Chungju, Cheongju e Paju, na Coreia do Sul. Nestes municípios, a empresa já opera unidades de conversão de resíduos e lodo de esgoto em hidrogênio, abastecendo frotas de veículos com baixíssimo impacto ambiental.

A experiência sul-coreana mostrou-se eficaz tanto em termos técnicos quanto econômicos. Ao replicar esse modelo em novos mercados emergentes, como o do Sudeste Asiático, a Hyundai posiciona-se como líder na construção de um ecossistema global de hidrogênio sustentável e circular.

Expansão para a América Latina: Brasil entra no radar

A presença da Hyundai na América Latina também cresce em paralelo. Desde 2023, o grupo mantém uma divisão de negócios voltada exclusivamente à mobilidade baseada em hidrogênio. Em fevereiro de 2025, um SUV Hyundai NEXO passou a ser testado no Centro de Pesquisa e Inovação em Gases de Efeito Estufa da USP, em São Paulo. O posto onde o veículo é abastecido é o primeiro no mundo a produzir hidrogênio renovável a partir de etanol.

O projeto da USP visa testar a pureza do hidrogênio produzido localmente e sua viabilidade como alternativa para abastecimento de veículos leves. A presença do NEXO amplia o escopo da pesquisa para além do transporte público, podendo abrir caminho para políticas públicas e investimentos no setor privado.

HTWO: braço estratégico de hidrogênio da Hyundai

A coordenação global de todas as iniciativas ligadas ao hidrogênio está sob responsabilidade da HTWO, divisão do Grupo Hyundai voltada à cadeia de valor do hidrogênio — da produção ao consumo. A marca atua diretamente no desenvolvimento de soluções de mobilidade, infraestrutura, armazenamento e reabastecimento, buscando acelerar a transição para uma economia de baixo carbono.

Durante a CES 2024, em Las Vegas, a HTWO apresentou o roteiro W2H internacional, com foco inicial na Indonésia. A escolha do país foi estratégica, por sua posição como hub logístico e comercial no Sudeste Asiático, além de contar com forte apoio institucional do governo.

Aposta sustentável com valor de mercado

Além de seu impacto ambiental, o projeto representa uma jogada estratégica da Hyundai em um setor que deve movimentar trilhões de dólares nas próximas décadas. Segundo estimativas da Agência Internacional de Energia (IEA), o mercado global de hidrogênio pode responder por 18% da demanda total de energia até 2050.

Com o avanço de políticas climáticas cada vez mais exigentes, o hidrogênio verde — especialmente aquele produzido por meio de fontes alternativas, como resíduos orgânicos — surge como solução crucial para setores de difícil descarbonização, como transporte de carga, siderurgia e indústria química.

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