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Estudo da KPMG revela que 95% das empresas brasileiras enfrentam riscos ligados aos direitos humanos

Pesquisa mostra vulnerabilidades nas relações com terceiros e trabalhadores diretos, além de falhas em governança, transparência e treinamento interno

A segunda edição da pesquisa “Direitos Humanos nos Negócios”, realizada pela KPMG, trouxe à tona um dado alarmante: 95% das empresas brasileiras consultadas admitem enfrentar algum tipo de risco relacionado aos direitos humanos. O levantamento, conduzido no final de 2024, ouviu 80 profissionais de diferentes cargos e setores, entre eles consumo e varejo, energia, recursos naturais, infraestrutura, governo, serviços e instituições financeiras, e revela a complexidade e urgência de incorporar práticas éticas e sustentáveis à governança corporativa.

O risco mais comum identificado está relacionado à cadeia de suprimentos e à relação com terceiros, citado por 88% dos entrevistados. Já os riscos ligados aos trabalhadores diretos aparecem em 52% das respostas. Os dados sugerem que, mesmo com o avanço das pautas ambientais, sociais e de governança (ESG) nas agendas estratégicas, muitas empresas ainda não estruturaram mecanismos robustos para lidar com os desafios dos direitos humanos em seus ambientes operacionais.

Exposição elevada e pressão por práticas sustentáveis

Segundo André Winter, sócio-diretor de ESG da KPMG no Brasil, o estudo evidencia a pressão crescente para que as empresas monitorem com rigor suas cadeias de valor. “Esses percentuais sugerem que as organizações estão altamente expostas a esse tipo de risco em suas interações com seus fornecedores, evidenciando a crescente pressão para que as cadeias de suprimentos adotem práticas éticas e sustentáveis”, afirma.

Winter também chama atenção para os desafios internos: “Condições laborais, prevenção ao assédio, diversidade e inclusão, bem como saúde, segurança e bem-estar dos funcionários, ainda são questões centrais na agenda corporativa.”

Compromissos públicos e lacunas em transparência

Outro dado preocupante da pesquisa mostra que apenas 45% das empresas possuem compromissos públicos relacionados aos impactos sobre pessoas e direitos humanos, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. A baixa adesão a compromissos formais dificulta o alinhamento com boas práticas globais e enfraquece a reputação das organizações perante investidores e consumidores.

Embora 93% das empresas tenham canais de denúncia, 21% não estruturam de forma adequada os mecanismos internos para tratar essas ocorrências. Ou seja, a denúncia existe, mas a resposta é falha, comprometendo a eficácia das ações corretivas.

Quando se trata da inclusão de informações sobre direitos humanos em relatórios corporativos, 46% das empresas abordam o tema, mas 30% sequer divulgam relatórios, e 19% simplesmente ignoram a questão. Esse cenário revela uma fragilidade na transparência e na prestação de contas, pilares fundamentais para qualquer estratégia ESG sólida.

Políticas internas e capacitação ainda são limitadas

A maioria das empresas (85%) afirma contar com alguma estrutura de governança sobre direitos humanos, seja por meio de políticas específicas (53%) ou por menções no código de conduta ou ética (32%). Esses documentos geralmente tratam de temas como assédio (74%), discriminação (70%), saúde e segurança (68%), condições de trabalho (64%), trabalho escravo (63%) e trabalho infantil (58%).

No entanto, a formação de equipes sobre o tema ainda é um desafio: 40% das empresas promovem treinamentos obrigatórios, enquanto 34% não oferecem nenhuma capacitação. Além disso, 11% dos entrevistados sequer souberam informar se existe algum tipo de formação interna.

A destinação de recursos também preocupa: apenas 41% das organizações alocam orçamento para ações voltadas aos direitos humanos. Por outro lado, mais de um terço (34%) não possui qualquer recurso específico para lidar com esses desafios, evidenciando um descompasso entre discurso e prática.

Caminhos para um modelo de negócios mais ético

Tamara Oliveira, sócia-diretora de forense da KPMG no Brasil, resume a urgência do momento: “Apesar dos progressos, as empresas no país estão em uma jornada de adequação das atividades de controle para fortalecer os mecanismos de mitigação de impactos sobre os direitos humanos. A incorporação de boas práticas globais, a ampliação do monitoramento e o fortalecimento da transparência são passos fundamentais para consolidar um modelo de negócios mais ético e sustentável.”

À medida que investidores, consumidores e reguladores intensificam a cobrança por responsabilidade social, as empresas que não integram os direitos humanos de forma estruturada em seus processos estarão mais expostas a riscos legais, reputacionais e operacionais.

A pesquisa da KPMG, portanto, não apenas diagnostica o cenário, mas aponta um chamado à ação: é hora de transformar intenções em políticas concretas, recursos dedicados e práticas consistentes.

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