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Brasil precisa destravar entraves para acelerar o mercado de gás natural e garantir segurança energética, afirmam especialistas

Com foco na transição energética e na necessidade de liquidez, estocagem e competição, Seminário do IBP reúne autoridades e executivos para discutir os rumos do gás natural no Brasil rumo à COP 30

O Brasil avança lentamente rumo à consolidação de um mercado competitivo de gás natural, essencial para garantir segurança energética e apoiar a transição para uma matriz mais limpa. Essa foi a principal mensagem do Seminário de Gás Natural 2025, promovido pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) no Rio de Janeiro, que reuniu líderes do setor, representantes de governos e executivos de empresas nacionais e internacionais.

Em dois dias de debates intensos, com mais de 880 participantes e delegações de sete países, especialistas apontaram que já existem condições técnicas e estruturais para ampliar o uso do gás natural no Brasil. No entanto, barreiras regulatórias, contratuais e logísticas ainda impedem que o insumo ganhe o protagonismo necessário diante da transição energética global.

Estocagem e flexibilidade são chaves para segurança energética

Durante o painel CEO Talks, Luiz Felipe Coutinho, CEO da Origem Energia, destacou que “há muito a ser feito com o que já está disponível” e defendeu soluções como estocagem subterrânea de gás natural como ferramenta essencial para equilíbrio da oferta. Ele citou como exemplo o projeto da Origem em parceria com a TAG, em Alagoas, com investimento de R$ 1 bilhão e capacidade de 1,5 bilhão de metros cúbicos de armazenagem nos campos depletados do Polo de Alagoas.

“O Brasil tem pouco gás comparado a grandes produtores como Rússia e EUA, mas precisa usar bem o que tem. A estocagem é fundamental para o balanceamento entre oferta e demanda”, afirmou Coutinho, lembrando que o gás natural já se comporta como uma commodity líquida e com papel crescente no fornecimento de energia firme.

Gás natural como combustível de transição

Para Cláudia Brun, vice-presidente de Marketing e Supply da Equinor Brasil, o gás natural precisa ser compreendido como um pilar de segurança para o avanço das energias renováveis. “As fontes renováveis são intermitentes, e as térmicas a gás oferecem estabilidade ao sistema. Há muito espaço para o gás natural no processo de transição energética”, afirmou, citando o recente apagão na Península Ibérica como exemplo do risco de confiar exclusivamente nas renováveis.

A executiva participou do CEO Talks com Joisa Dutra, diretora do FGV CERI, que também reforçou a importância de desenvolver uma regulação moderna e estável para atrair novos investimentos no setor.

Bolsa de Gás Natural quer ampliar liquidez e transparência

Um dos grandes anúncios do evento foi a criação da Bolsa Brasileira de Gás Natural (BBGN), que promete conectar oferta e demanda por meio de uma plataforma eletrônica para negociação de contratos spot e bilaterais.

“A plataforma trará mais transparência, liquidez e concorrência, reduzindo os custos de transação e incentivando a entrada de novos agentes”, destacou Antonio Guimarães, sócio-fundador da BBGN. O projeto é visto como estratégico para destravar o mercado e preparar o Brasil para uma fase mais dinâmica de comercialização do gás natural.

Consumidores livres ainda enfrentam barreiras

A diretora comercial da Origem Energia, Flávia Barros, reconhece que houve evolução com a entrada de novos players, mas alertou que ainda há entraves à participação massiva dos consumidores livres. “O custo do transporte, a complexidade dos contratos e a escassez de produtos adequados limitam o avanço do mercado. Precisamos superar essas barreiras”, afirmou.

Luisa Franca, diretora de negócios da TAG, propôs a padronização e simplificação contratual como forma de aumentar a atratividade e a previsibilidade para novos agentes. “Queremos contratos mais simples e flexíveis”, defendeu.

Já Thiago Arakaki, diretor de gás natural da Galp, ressaltou o crescimento do setor e citou a própria trajetória da empresa como exemplo da ampliação de contratos com consumidores livres. “O mercado está evoluindo, mas ainda tem muito a amadurecer”, avaliou.

Papel do gás na transição e expectativas para a COP 30

No painel dedicado à transição energética, Carlos Garibaldi, secretário executivo da Arpel, enfatizou o papel do gás como “combustível-ponte” na busca por uma matriz energética mais limpa. Segundo ele, o insumo é fundamental para garantir segurança energética em escala global, inclusive nos países da América Latina e Caribe.

A Petrobras, representada por Viviana Coelho, gerente de descarbonização e mudança climática, alertou que, embora a intensidade de carbono da matriz energética global esteja caindo, o aumento do consumo anula os ganhos ambientais. Ela reforçou que o gás natural pode ajudar na redução das emissões se usado de forma estratégica e combinado com eficiência energética.

Para Christopher Gonçalves, da consultoria BRG’s Energy & Climate, o Brasil está se consolidando como hub de demanda de GNL (Gás Natural Liquefeito) na América Latina até 2035. “O GNL oferece flexibilidade e pode acelerar a formação de um mix energético mais confiável”, apontou.

Reforma urgente do setor elétrico

Luiz Eduardo Barata, presidente da Frente Nacional dos Consumidores de Energia, foi direto ao defender uma reforma urgente no setor elétrico. “Se o Ministério de Minas e Energia não agir, corremos risco de colapso nos próximos anos. É preciso rever os aspectos operacionais, comerciais e de planejamento”, afirmou.

Segundo Barata, o gás natural deve ser incluído como componente complementar da matriz, e não como substituto exclusivo. O foco da Frente é a redução de tarifas, sustentabilidade e segurança energética.

Considerações finais

O Seminário de Gás Natural 2025 serviu como plataforma de diálogo para um setor que precisa urgentemente ganhar agilidade regulatória, competitividade e liquidez. Os principais pontos de consenso são claros: o gás natural é fundamental para a transição energética, mas o Brasil ainda precisa enfrentar gargalos estruturais e burocráticos que limitam seu desenvolvimento.

Com o cenário geopolítico instável e a expectativa em torno da COP 30, o país tem uma janela de oportunidade para se reposicionar no mercado global de energia. Para isso, será necessário coragem política, regulação eficaz e coordenação entre os diversos atores do setor.

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